quinta-feira, 8 de abril de 2010

Consequências… para o PS!

Já por diversas vezes falei sobre a forma como os partidos funcionam, como os aparelhos dos partidos se comportam e sobre a prática seguida, no dia-a-dia, pelas respectivas estruturas.
O PS, por exemplo, que é, tal como sempre o afirmei, o partido das causas, dos princípios, dos valores, da liberdade, do direito ao contraditório, do aprofundamento de debate, inclusive, de opiniões divergentes, é o mesmo partido que, actualmente, independentemente do que está ou não escrito nos estatutos e na sua Declaração de Princípios, tem gente, militantes, dirigentes capazes de práticas perfeitamente arrepiantes do ponto de vista político e do que são os direitos, as liberdades e as garantias dos seus militantes.

Basta pensarmos no que está a acontecer, nomeadamente em Matosinhos, Valongo e Porto, aos militantes que apoiaram ou integraram listas que não as do PS nas últimas autárquicas.
E o que está a acontecer é, nada mais, nada menos, que um processo baseado na falta de regras, de princípios, de valores, onde não houve um gesto, um indício, um papel, uma nota, uma atitude, fosse ela qual fosse, no sentido de ouvir e dar o legítimo direito à defesa.
Um processo marcado por práticas estalinistas e de purga, como aquela em que, numa atitude verdadeiramente inacreditável, procedem à “limpeza” de todos os nomes destes militantes dos cadernos eleitorais. Fácil de perceber! Estamos em época de eleições para os Secretariados, as Concelhias e as Federações.
Um processo claramente “kafkiano”, em que se condena primeiro e dá-se o direito – quando se dá – à defesa, depois!
E não adianta sequer virem, uma vez mais, com o argumento de que as candidaturas independentes devem ter consequências, em nome do futuro do partido e do que está escrito e determinado nos estatutos!
Volto a lembrar, e irei fazê-lo sempre que necessário, que esta não é uma questão estatutária. Que esta não é uma questão jurídica. Que esta não é uma questão de dissidência. Esta é uma questão política. E o que se pretende, designadamente em Matosinhos, é resolver uma divergência política de forma burocrática.
Ainda que – volto a lembrar, uma vez mais – se quiserem discutir a questão estatutária, também o faço, com à vontade total. Isto porque, e se quiserem continuar a insistir nesta via, se alguém transgrediu os estatutos, se alguém “feriu” gravemente os estatutos e se alguém “feriu” o princípio sagrado do PS, que é o do respeito ao contraditório, à opinião diferente, foi o processo de escolha de candidatos à Câmara de Matosinhos!
Isto, perante o silêncio ensurdecedor de todos, quer da Concelhia de Matosinhos, quer da Distrital do Porto, da qual fazem parte membros da Comissão de Jurisdição Nacional.
Volto a lembrar que, pela primeira vez na história do PS a nível nacional, foram escolhidos candidatos à Câmara, sem que se cumpram os estatutos. Sem cumprir uma regra sagrada da Democracia interna do PS.
E isto é que é grave!
Mas a mim, tal como sempre fiz questão de deixar bem claro, não interessa discutir os estatutos. Esta é, repito, uma questão política. Marcada por atitudes de purga, de limpeza, por condenações a delitos de opinião. Marcada por atitudes kafkianas, em que se condena primeiro e se dá o direito à defesa depois!
E isto, sim, é que contraria os valores estabelecidos na Declaração de Princípios do Partido! Isto sim é que não é dignificante para o Partido! Isto sim é que não é bom para o futuro do Partido! Isto sim é que não a doutrina que o PS merece!
Ainda há muita gente, “boa gente”, que pensa, “convictamente”, que a unidade se constrói usando métodos de limpeza, de purga, castigos kafkianos e métodos estalinistas.
O que afirmo está na História! Está nos livros!
Extrapolando isto para a política nacional, foi assim que se construiu a “Alemanha unida do Hitler”. Foi assim que resistiu a “unidade da União Soviética”.
O Hitler e o Estaline foram, sobre esta matéria, os “maiores” e os “melhores”. O que não podemos é transportar alguns exemplos para a vida política e partidária do nosso país!

Narciso Miranda


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