Terminou a quadra em que tradicionalmente se fala de solidariedade, fraternidade e amor ao próximo. A quadra do Natal é propícia à exibição de sentimentos sublimes, que posteriormente se esquecem. Agora que já passaram os primeiros dias deste novo ano há que reflectir sobre como é possível fazermos com que se traga todos os dias um bocadinho do sentimento de natal, sobretudo para quem raramente o respira.
É que os problemas e as carências sociais subsistem e o Natal, cumprida a sua função, como que se retirou do nosso convívio.
Para o fim do ano há mais, dirão comodamente instaladas pessoas justas e boas.
Contudo, há quem assim não pense. Há pessoas para quem o Natal não se resume a uma quadra festiva, em que se desejam mutuamente felicidades e se trocam mensagens de boas festas e bom ano novo.
Graças a Deus que me incluo neste lote. Graças a Deus que tenho sensibilidade social que me conduz a uma continuada atenção a tudo quanto se passa à minha volta. E, se o assunto é a forma de viver de quem comigo partilha a cidade, a terra e o ar, então a minha sensibilidade sofre como que um pique a que não consigo furtar-me.
Vem estas considerações a propósito de algumas notícias chocantes que alguns jornais referiram nos últimos dias.
Um jornal de referência nacional dava-nos conta de um casal com um bebé de dezoito meses que, se não fora a “milagrosa” existência de uma instituição social chamada “Coração da Cidade”, teria passado a noite de Natal ao relento da rua e do desamparo.
Imagine-se a amargura daqueles pais que nem naquela noite mágica em que, os que podem, trocam presentes e convivem numa mesa farta, sentem ao vivo a mensagem natalícia que estão fartos de ver anunciada por onde passam.
Outra notícia verdadeiramente chocante referia que um cidadão português, sem família, nem abrigo, completamente só e desprotegido, “vive” numa carrinha, tendo por companhia apenas alguns animais domésticos, a quem, aliás, segundo a mesma notícia, trata com inexcedível carinho e o máximo cuidado.
Este cidadão que até já trabalhou para duas Juntas de Freguesia, uma das quais Custóias, encontrou nos animais que acolhe o retorno da amizade e companhia que a sociedade egoísta e cega lhe recusa, contribuindo para a sua completa exclusão.
Mas não acaba aqui o quadro negro da miséria que vive, paredes meias com o consumismo e, em muitos casos, ostentação de riqueza e exagerada opulência.
Era uma manhã fria e chuvosa, estávamos na véspera de Natal, quando saía eu de casa e um casal me interpela em plena rua, chamando a minha atenção para as degradantes condições de habitabilidade em que viviam.
Eram evidentes os sinais de debilidade física, pareciam ter mais de um século de idade e para aí vinte ou mais de sofrimento. Vivem num cubículo, sem espaço nem condições, acordando muitas vezes surpreendidos com a presença ratos e baratas.
Não consegui esconder a perturbação que esta confissão me causou.
Como é possível que um casal, para além desta situação, ainda sofra com as condições de insegurança que os ameaça todos os dias.
Triste vida a desta gente e, segundo a Bíblia, são nossos irmãos.
Que vida de amargura a do casal que não pode dar ao seu bebé um pouco de conforto e bem-estar, nem sequer na noite de Natal.
Que vida de cão, a do homem que acolhe no seu espaço - um carro abandonado – os animais que são afinal a sua companhia.
Que quadro de miséria, pobreza, degradação e abandono a “habitação” daquele casal que, como “inquilinos”, têm ratos, baratas e toda a espécie de bicheza que se adivinha.
Estes três factos, que são do conhecimento público - e muitos mais teria para revelar, se os procurasse - traduzem bem o que para aí vai de miséria, abandono, desprezo e afastamento.
Num tempo em que as novas tecnologias desbravam tudo o que sejam obstáculos ao progresso e desenvolvimento, numa época em que as consciências de quem tem nas suas mãos as alavancas de mudança são constantemente alertadas, casos como estes fazem parte do nosso dia-a-dia.
Indiferentemente.
Incrivelmente.
Invariavelmente.
Como podem viver em paz com as suas consciências as pessoas que podem mudar e não mudam, que podem ajudar e não ajudam, que podem lutar e não lutam, que podem melhorar e não melhoram, que podem servir e não servem?
Para que servem afinal os computadores, a informática aplicada, a ciência, os cérebros treinados e agilizados para operarem em todos os domínios, mudanças, soluções e sistemas conducentes ao bem-estar da humanidade, se permanecemos insensíveis aos apelos das crianças que não têm Natal e dos adultos que o vêem passar como se este não existisse.
Não há discurso, meus senhores, por mais pragmático e revelador de visão estratégica por parte de quem o profere, que consiga escamotear verdades como as que descrevo.
Porque estas verdades contêm em si mesmas a realidade do país que temos. E não só em Matosinhos, mas também em Matosinhos.
É por isso que considero oportuno apelar a que os bem instalados na vida dêem um pouco do seu bem-estar aos que continuam sem ter esperança de serem felizes.
É que os problemas e as carências sociais subsistem e o Natal, cumprida a sua função, como que se retirou do nosso convívio.
Para o fim do ano há mais, dirão comodamente instaladas pessoas justas e boas.
Contudo, há quem assim não pense. Há pessoas para quem o Natal não se resume a uma quadra festiva, em que se desejam mutuamente felicidades e se trocam mensagens de boas festas e bom ano novo.
Graças a Deus que me incluo neste lote. Graças a Deus que tenho sensibilidade social que me conduz a uma continuada atenção a tudo quanto se passa à minha volta. E, se o assunto é a forma de viver de quem comigo partilha a cidade, a terra e o ar, então a minha sensibilidade sofre como que um pique a que não consigo furtar-me.
Vem estas considerações a propósito de algumas notícias chocantes que alguns jornais referiram nos últimos dias.
Um jornal de referência nacional dava-nos conta de um casal com um bebé de dezoito meses que, se não fora a “milagrosa” existência de uma instituição social chamada “Coração da Cidade”, teria passado a noite de Natal ao relento da rua e do desamparo.
Imagine-se a amargura daqueles pais que nem naquela noite mágica em que, os que podem, trocam presentes e convivem numa mesa farta, sentem ao vivo a mensagem natalícia que estão fartos de ver anunciada por onde passam.
Outra notícia verdadeiramente chocante referia que um cidadão português, sem família, nem abrigo, completamente só e desprotegido, “vive” numa carrinha, tendo por companhia apenas alguns animais domésticos, a quem, aliás, segundo a mesma notícia, trata com inexcedível carinho e o máximo cuidado.
Este cidadão que até já trabalhou para duas Juntas de Freguesia, uma das quais Custóias, encontrou nos animais que acolhe o retorno da amizade e companhia que a sociedade egoísta e cega lhe recusa, contribuindo para a sua completa exclusão.
Mas não acaba aqui o quadro negro da miséria que vive, paredes meias com o consumismo e, em muitos casos, ostentação de riqueza e exagerada opulência.
Era uma manhã fria e chuvosa, estávamos na véspera de Natal, quando saía eu de casa e um casal me interpela em plena rua, chamando a minha atenção para as degradantes condições de habitabilidade em que viviam.
Eram evidentes os sinais de debilidade física, pareciam ter mais de um século de idade e para aí vinte ou mais de sofrimento. Vivem num cubículo, sem espaço nem condições, acordando muitas vezes surpreendidos com a presença ratos e baratas.
Não consegui esconder a perturbação que esta confissão me causou.
Como é possível que um casal, para além desta situação, ainda sofra com as condições de insegurança que os ameaça todos os dias.
Triste vida a desta gente e, segundo a Bíblia, são nossos irmãos.
Que vida de amargura a do casal que não pode dar ao seu bebé um pouco de conforto e bem-estar, nem sequer na noite de Natal.
Que vida de cão, a do homem que acolhe no seu espaço - um carro abandonado – os animais que são afinal a sua companhia.
Que quadro de miséria, pobreza, degradação e abandono a “habitação” daquele casal que, como “inquilinos”, têm ratos, baratas e toda a espécie de bicheza que se adivinha.
Estes três factos, que são do conhecimento público - e muitos mais teria para revelar, se os procurasse - traduzem bem o que para aí vai de miséria, abandono, desprezo e afastamento.
Num tempo em que as novas tecnologias desbravam tudo o que sejam obstáculos ao progresso e desenvolvimento, numa época em que as consciências de quem tem nas suas mãos as alavancas de mudança são constantemente alertadas, casos como estes fazem parte do nosso dia-a-dia.
Indiferentemente.
Incrivelmente.
Invariavelmente.
Como podem viver em paz com as suas consciências as pessoas que podem mudar e não mudam, que podem ajudar e não ajudam, que podem lutar e não lutam, que podem melhorar e não melhoram, que podem servir e não servem?
Para que servem afinal os computadores, a informática aplicada, a ciência, os cérebros treinados e agilizados para operarem em todos os domínios, mudanças, soluções e sistemas conducentes ao bem-estar da humanidade, se permanecemos insensíveis aos apelos das crianças que não têm Natal e dos adultos que o vêem passar como se este não existisse.
Não há discurso, meus senhores, por mais pragmático e revelador de visão estratégica por parte de quem o profere, que consiga escamotear verdades como as que descrevo.
Porque estas verdades contêm em si mesmas a realidade do país que temos. E não só em Matosinhos, mas também em Matosinhos.
É por isso que considero oportuno apelar a que os bem instalados na vida dêem um pouco do seu bem-estar aos que continuam sem ter esperança de serem felizes.
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