sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Nós e o euromilhões

Deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, acontece a muita gente.
Por mim, sou capaz até de nem hoje fazer o que já ontem devia ter feito.
Então no que respeita ao Euromilhões é sempre à última hora. Filas de fim de tarde de sexta-feira, que bem podia evitar. Todas as semanas procuro convencer-me de que na próxima, bem a tempo – aí pela quarta ou quinta-feira - lá encostarei a barriga ao balcão uma vez mais na vã tentativa de engrossar o grupo de “excêntricos” criados por aquelas bolinhas mágicas.
Li algures que somos o país que mais aposta no euromilhões - cerca de nove milhões de apostas. Desconheço, se a publicidade que a este concurso se faz nos outros países, é parecida com a que por cá se faz. Entre nós, o apelo à participação no concurso parece espelhar uma certa mentalidade bacoca que, noutros tempos teria feito furor!
Para que quer uma pessoa afinal ser milionária? Qual é o sonho que a estimula, qual é a imagem que associamos a quem dispõe de muitos milhões? É a figura de um empreendedor, de um homem de negócios, de alguém que irá contribuir para o bem estar dos outros?
Nada disso! O Euromilhões serve para “criar excêntricos”. A riqueza é o direito ao esbanjamento, ao luxo absurdo, é a entrada no paraíso de ter quem lhe satisfaça os caprichos a uma simples ordem!…
De acordo com o estereótipo nacional, um milionário é um inútil que gasta a rodos o dinheiro que não lhe custou ganhar. E, não deixa de ser intrigante que aceitemos com bonomia, e, até com aplauso, alguém que tendo com poucos euros obtido milhões desbarate a sorte, sem nada de duradouro construir.
Os ricos que progridem à custa do seu trabalho e do seu sucesso – há destes, meus senhores! – são normal e injustamente olhados com desconfiança, com uma inveja disfarçada sempre pronta a descobrir a ronha ou a manha que lá no fundo poderá explicar esse sucesso que os outros não conseguiram.
No Euromilhões é a sorte quem dita o destino. Nem trabalho, nem talento, nem risco. Tanto pode ser aquele, como este, como qualquer de nós o sortudo. Justiça mais democrática, não há!
E é por isso que todas a sextas-feiras, com um olho na Marisa Cruz e outro nas bolinhas, milhões de portugueses esperam um dia poder imitar os Senhores Silvas de Portugal num passeio de “limusina” no deserto, com motorista, acompanhante, ar condicionado e bar aberto.
Nada a objectar, quanto à forma como cada um gasta o que é seu. O tipo de publicidade oficial - esse sim – é que pede reparos, já que, em vez de convidar os “felizardos” a jogar por uma causa social, fazendo alguma pedagogia, informando e formando, procura criar a fúria de ser rico e ganhar todo o dinheiro do mundo!
O que é que eu faria com todo aquele dinheiro?
Muita coisa, menos comprar uma caravana para ir ao Paris-Dakar, e muito menos um Jarvas!…

Heitor Ramos Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

As contas que ignoram a crise

A crise que atravessamos não tem paralelo com outras crises vividas pela actual geração. A presente conjuntura é extremamente complexa para que possa antecipar-se com algum rigor o regresso à estabilidade económica.
Pode dizer-se que esta crise, tendo vindo para ficar, atinge de forma indiscriminada todos os sectores da sociedade portuguesa. Com efeitos práticos, mais contundentes, nos mais fracos: pequenas e médias empresas, famílias mais carenciadas, jovens, idosos e desempregados.
Há inúmeras famílias em situação próxima do desespero. Há idosos e reformados sem meios sequer para satisfazer as necessidades básicas. Sem recursos que lhes permitam encarar com alguma esperança o dia seguinte.
Há jovens que lutam desesperadamente pelo primeiro emprego. Outros procuram com amargura não perder os precários empregos - conseguidos sabe Deus com que dificuldades. Outros ainda, tendo concluído com êxito, e com assinalável esforço, os seus cursos académicos, encontram barreiras insuperáveis para colocar a ciência e técnica adquirida ao serviço da comunidade, num emprego minimamente compatível com a sua formação. Conseguem por vezes – e mesmo assim, com uma incrível dose de sorte à mistura – algumas ocupações completamente desajustadas do seu perfil.
Há licenciados em Direito a balconistas, há licenciados em Engenharia a secretários, há licenciados em Jornalismo a administrativos, há toda uma panóplia de detentores de cursos superiores a enveredar por “carreiras” completamente ao arrepio das suas vocações. Os salários auferidos – é natural – são baixíssimos, as regalias sociais também.
O quadro que descrevo não é novidade para ninguém. É uma situação que toda a população conhece. É uma situação que leva as famílias a uma vida apertada, a contenção de despesas, a poupanças em tudo o que envolve compras e gastos.
Cenário real que levaria os gestores dos dinheiros públicos, desde que ponderados, sensatos e comedidos, a usar de extrema prudência na forma de investir e de gastar: investir no desenvolvimento e satisfazer o leque diversificado de despesas correntes.
O rigor e o sentido de responsabilidade que a gestão da causa pública exige – qualquer que seja a conjuntura, esclareça-se – toma ainda maiores proporções num quadro social de pobreza e miséria como o que atravessamos.
Acontece que, a nossa autarquia tinha previsto um volume de despesa equivalente ao de receitas: cem milhões de euros.
A execução financeira decorrente das opções tomadas situa-se nos 65%!
Depois de ter previsto um investimento próximo de metade da receita, acabou por não ficar bastante abaixo dos 30% da previsão da receita total.
Claro que pode questionar-se a razão de tão baixo volume de investimento; a resposta não pode ser mais clara. Dispararam as despesas correntes, absorvendo a parte de leão da receita. Isto – é oportuno lembrá-lo – num ano que contou com avultadas entradas de dinheiro, como exemplo: sete milhões de euros provenientes do negócio feito com a Indaqua e dois milhões da Galp.
Com receitas tão generosas e tão escasso investimento público, era presumível uma situação financeira tranquila e confortável. Contudo, esta não é a realidade actual. É evidente que quando uma única pessoa factura à Câmara, em dois anos, mais de um milhão, não me enganei, mais de um milhão de euros está tudo esclarecido.
Lá estão os gastos gigantescos com prestadores de serviços diversos a sugar as verbas. São facturas, são muitos euros, com muitos zeros a tornar inviável a estabilidade. E a dar razão que é necessário retomar o rumo! Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Município de Matosinhos: Contas feitas…

Estávamos no final do ano de 2007.
Os órgãos autárquicos do Município de Matosinhos avançavam com as previsões de receitas e despesas para 2008: cem milhões de euros.
E dividia o bolo em dois: 48% para investimento e 52% para financiamento do Plano de Actividades .
Contas feitas, teríamos 48 milhões para o investimento e 52 milhões para gastos. Números indicadores da tendência do desequilíbrio que o tempo veio a comprovar. Recorrendo aqui à linguagem dos meteorologistas que atribuem cores aos alertas que lançam, uma percentagem para consumos que seja superior a 30% das receitas, bem pode classificar-se como de “alerta amarelo”. A experiência diz-me ainda que, sempre que aquele valor ultrapassa os 40% vive-se claramente uma situação de “alerta vermelho”. É que as despesas correntes, não constituindo – como de facto não constituem, seja qual for a organização – qualquer forma de investimento e, não trazendo, naturalmente, qualquer retorno financeiro ferem de morte o sucesso de qualquer projecto. A responsabilidade que o voto confere aos detentores de cargos públicos exige uma gestão criteriosa, rigorosa e sustentada.
Verificadas as contas, constata-se que o valor utilizado para investimento não atingirá sequer os 28 milhões!
Ora - é outra vez a voz da experiência em aviso colorido – quando o investimento em iniciativas reprodutivas se situa abaixo dos 30% temos o incremento paralisado, o desenvolvimento comprometido e o futuro duvidoso.
Mas, se tivermos em conta que a parte de leão do investimento municipal corresponde ao pagamento de obras herdadas de anteriores legislaturas – Marginal de Leça, Pavilhão e Piscina de Guifões, Teatro Constantino Nery, Pavilhão do Padroense, requalificação do Parque escolar, são algumas delas – facilmente concluímos que o avanço empreendedor se fixa muito mais por baixo!
A aritmética é impiedosa. E, uma observação imparcial do fenómeno ilustra a situação em curso, com pouco investimento a sério e muitas iniciativas promocionais.
Bem sei que a rubrica “despesas correntes” é extensa. Comporta pagamentos de salários, despesas de manutenção dos equipamentos, água, luz, combustíveis e um sem número de gastos a que, nem o mais rigoroso gestor consegue furtar-se. Mas, há evidentemente limites. São os limites do bom senso.
Para agravar o quadro financeiro actual atentemos nos seguintes valores:
Da Indáqua, entraram, e bem, nos cofres da Câmara em resultado do negócio efectuado 7 milhões de euros, mas outras entradas de dinheiro foram entretanto anunciadas, como por exemplo. da Galp.
Apesar deste afluxo de receitas, em Dezembro o dinheiro não chegou para pagar dívida vencida de pequenos fornecedores que vão entupindo as linhas telefónicas. São mais uns milhões de euros não pagos e que transitam como dívida para este ano, sem contar com as muitas facturas que circulam (ou encravam) nos circuitos internos.
Tenho sido acusado de exagerar sobre este assunto. A quem me acusa, sem fundamento, e em consequência de avaliações superficiais, quero-lhes transmitir que isto está cada vez mais complicado e que “Quem avisa, amigo é”.
Sei que os anos próximos vão ser extremamente complicados. Temos de recolocar Matosinhos na calha do desenvolvimento e do equilíbrio financeiro.
Retomar o Rumo, na prática. Eis a tarefa que nos espera!

Narciso Miranda Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O almoço do Salão Nobre

Sexta-feira feira,16 de Janeiro de 2009.
Quem, nessa data, pelo meio dia, passou sem excessiva pressa ali pelas imediações do edifício da Câmara de Matosinhos, talvez se recorde de ter visto um grupo de pessoas curiosas, junto à viatura de um prestigiado restaurante de Matosinhos. Incrédulas, seguiam a trasfega para o interior do edifício municipal, de múltiplas embalagens contendo aperitivos, entradas, comidas frias e quentes, vinhos de marca, espumantes de várias procedências, sobremesas e digestivos de toda a espécie. Ao largo, dois guardas municipais, em pose descontraída, parece que também surpreendidos pela insólita descarga - era para o espaço destinado ao funcionamento dos Serviços Públicos, que diabo! - pareciam guardar aquele carro recheado de iguarias, não fosse dar-se o caso de alguma emboscada. “Vai haver patuscada lá dentro” – comentava-se cá fora!
Aquele edifício, concebido para servir a população, possui o espaço necessário ao funcionamento dos gabinetes, que asseguram aos diversos serviços públicos a necessária operacionalidade – sejam do presidente ou de administradores sortidos. Consta que alguns gabinetes são simples, singelos e discretos; outros luxuosamente decorados, exibem inegáveis sinais de ostentação e riqueza. Mas – perguntará o leitor – para onde iam todas aquelas iguarias? Para o Bar, ou espaço parecido – pensará.
Pois, não senhor - esclareço! Nesses são espaços “pelintras”, não podem pavonear-se à vontade os elementos da maioria camarária!
Eu explico: no edifício da Câmara, existe também o SALÃO NOBRE DOS PAÇOS DO CONCELHO – espaço antigamente utilizado apenas para actos solenes, condecorações, concertos selectivos, homenagens e recepções às mais altas individualidades como Presidentes da República e Chefes de Estado em missão oficial. Para serviço de restauração é que nunca tinha servido...
Só que – e aqui está mais uma prova da suprema criatividade e imaginação dos responsáveis autárquicos - aquele Salão Nobre foi transformado em “Sala de Jantar”. Surpresa? - Nem por isso!
O dia – “porreiro, pá” – era para a romaria. Largas dezenas de funcionários com funções de chefia, secretários, adjuntos de chefes e de secretários, enquadrados por secretários de chefes e adjuntos de secretários reuniram-se, visando a SIADAP – uma variante de “avaliação”, esta orientada para a Administração Pública. De tarde, o repasto bem servido e bem regado.
As palavras do Bispo D. Manuel Martins ecoam-nos nos ouvidos.
Ali estavam os dois mundos de que nos fala: o irreal – lá dentro; e o real, cá fora! Se, às suas custas - em sua casa - aqueles figurões comem tão bem, como na Câmara - às custas dos contribuintes - não sei. Sei é que, alguns daqueles ordenados chegariam para tentar a aproximação!
Lembrei-me da passagem bíblica que nos fala da expulsão dos vendilhões do templo! E da esperança em que venha quem os expulse. E imponha limites à profícua imaginação (e gastos) daquela gente. É que, depois da festa do Gerês (para as chefias), do encerramento dos serviços (para a “festa do funcionário”), dos sofás insufláveis (para a publicidade de uma determinada empresa) e do contributo financeiro à Porto Canal, (mas o que tem este canal a ver connosco?) só faltava mesmo um almoço no Salão Nobre. A seguir, o que virá?

Heitor Ramos Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Eleições: Prazos, análises, debates e consequências

As eleições que este ano se realizarão começam a dar sinais de vida. Algumas movimentações agitam já as águas eleitorais. Se é cedo ou tarde, só o tempo – juiz implacável - permitirá avaliar.
E os sinais revelam-se dos mais variados quadrantes. Em recente entrevista concedida à estação televisiva SIC, o primeiro-ministro admitiu - ainda que remotamente - a realização simultânea das eleições autárquicas com as eleições legislativas.
A concretizar-se este cenário, as eleições legislativas, até aqui “calendarizadas” lá para Setembro/ Outubro, seriam antecipadas para Junho.
Este cenário – hipotético - foi de imediato alvo de atentas análises, e objecto de comentários e apreciações por parte de analistas e entidades que de uma forma ou doutra, se verão envolvidas nestes actos eleitorais. O assunto foi debatido com a intensidade e energia próprias da “novidade” que tal antecipação configurava.
Só que – e aqui está a primeira nota a destacar – rapidamente a vivacidade inicial esmoreceu. O conceito de simultaneidade eleitoral foi perdendo sentido, a ideia foi-se esvaziando, o lance foi politicamente perdendo interesse.
Talvez o senhor Presidente da República, como supremo magistrado da Nação, tenha transmitido a mensagem que colocou no trilho certo o rumo dos debates. Que, qualquer que fosse o resultado dos debates em curso cabe ao PR a última palavra, a decisão definitiva – sentenciou.
Cabe aqui referir que, a marcação da data das eleições legislativas é da responsabilidade presidencial, ouvidos os partidos políticos e o governo; a marcação das autárquicas compete ao Governo, ouvidos também os partidos.
E, quer o governo, quer o PS, não querem, claramente, a realização das eleições autárquicas, antes das legislativas, porque esta não é seguramente uma boa opção. Os efeitos colaterais decorrentes do resultado autárquico, acabariam por provocar uma “mossa” que seria incontrolável nas legislativas.
E, uma penalização nas primeiras – previsível em abono da verdade – marcaria de forma indelével o resultado das segundas.
Claro que o PR tem nas mãos a chave do sistema. Sendo o prazo para as legislativas (entre 14 de Setembro e 14 de Outubro), estabelecido por Lei bastaria que o PR se antecipasse na decisão, marcando as legislativas para o último Domingo do prazo estabelecido por lei (11 de Outubro), para deixar o PS e o Governo sem campo de manobra para articulação de datas. Isto é, ou aceita a simultaneidade – legislativas e autárquicas no mesmo dia – ou fixa a data das autárquicas para uma data anterior a 11 de Outubro.
Claro que, a problemática das datas preocupa tanto o Governo como o aparelho PS. A circunstância de o PSD deter a maioria autárquica actual, gera inevitáveis incómodos nas hostes da maioria parlamentar.
Porquê?
- Porque uma eventual vitória social-democrata nas autarquias, constituiria como que uma guarda avançada dos seus propósitos nas legislativas. Dito de outra forma: a plataforma de apoio, assim conseguida pelo PSD, abalaria as intenções dos eleitores. A indecisão de muitos seria arrastada pela “onda” que cantasse vitória.
É neste quadro que a estrutura directiva do partido que sustenta a maioria tem de equacionar prós e contras, vantagens e inconvenientes da decisão que terá de tomar. E as datas que restam não são assim muitas. Restaria 27 de Setembro e 4 de Outubro.
Entretanto o Presidente da República com o pragmatismo e sentido de oportunidade que os portugueses lhe reconhecem é implacável:
“Não contem comigo para alimentar intrigas político partidárias”.
E, quanto à questão do calendário eleitoral vinca uma vez mais a sua posição, sugerindo que seja tida em conta a declaração que a este respeito proferiu. Mais claro, não podia ter sido o presidente. Assim saiba o aparelho socialista interpretar as suas palavras!…

Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

De crise em crise!

As malvadas das bruxas não nos largam.
Grande praga nos devem elas ter rogado, para que, ao longo dos tempos tenhamos alombado com toda a sorte de governantes, completamente incapazes de encontrar soluções que ponham fim à crise que, afinal, sempre nos acompanhou.
É que, se 2008 foi mau – como todos estamos lembrados - 2007 não foi muito melhor.
Já em 2006, insuspeitos analistas afiançavam que o país atravessava grave crise e, em Setembro de 2005 o líder da oposição, desafiava o primeiro ministro a ir ao parlamento desafiar a crise económica!
Antes ainda, em 2004, era o relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal a anunciar borrasca: o nível de endividamento das famílias portuguesas subia de 78%, para 84,2% do PIB!
2004, mais não prometia do que prolongar a crise de 2003!
Pior do que 2003, talvez só 2002 – “o maior défice orçamental da Europa” – consequência da crise de 2001, acentuada – diz-se - pelos ataques terroristas aos Estados Unidos!
Todavia – convém lembrar – antes de os americanos viverem o 11 de Setembro, já os portugueses viviam a crise.
A década de 90 terá sido a mais “pacífica”: entraram, vindos da união Europeia “uns trocos” que, alguns dos governantes de então, rápida e sabiamente, transformaram em vivendas e carros de luxo.
E, aqui está a verdadeira razão da crise continuada que nos assola: a par da incompetência governativa há ronhas e manhas políticas de toda a espécie!
Certo é, que se compararmos os “nossos” (salvo seja) políticos com os ditadores sanguinários que o mundo conhece, temos de concordar, que os que trazemos cá por casa são umas ternas e inocentes pombinhas!…
Não são nenhuma esquadrilha de super-homens, é verdade! Apenas – e não mais que isso - um grupo de indivíduos bem vividos, organizados para tomarem as medidas cujo resultado está à vista!
Porquê esta fatalidade – perguntará o leitor. Não haverá ninguém que nos faça sair disto? Receio bem que não!
Estaria tentado a arriscar uma explicação simplista – mas de efeito nulo, no plano terapêutico. A qual se traduz nesta ideia: a diferença está na preparação que tiveram para os cargos que desempenham.
Não é necessário saber-se para que serve um integral ou uma derivada, como o primeiro ministro saberá!
Necessária é sensibilidade política – provenha ela de nascença, ou venha a ser adquirida por formação.
Porque - hão-de saber os meus leitores - também na política há duas espécies de linhagem: há a “linhagem” dos que derivam a sua descendência de “príncipes e monarcas”, mas a quem a pouco e pouco o tempo foi desgastando até acabar tudo em bico à laia de pirâmide; e outra, a que principiou por gente baixa, e foi trepando até chegar a grandes senhores!
Toda a diferença está em que uns foram e não são, e outros são, e não eram!
Conhecidas as duas? De ginjeira! Ora faça lá um esforço, e tente identificar a que temos entre nós. E, avalie lá, qual a “linhagem” ideal para Matosinhos!

Heitor Ramos Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ajuste directo, ou facilitismo perigoso?

O Governo pretende aprovar uma iniciativa legislativa que permite adjudicar sem concurso público obras até cinco milhões de euros e bens e serviços até 200.000 euros, tanto a nível nacional, quanto local.
Atacar urgentemente a crise é a justificação oficial. Que ela, a crise tem de ser atacada, ninguém tem dúvidas. A questão está em avaliar-se se é desta forma que se lá chega…
Aparentemente, e no plano teórico, todas as medidas desburocratizadoras e que apontem para a simplificação de métodos e agilização de processos são correctas e bem-vindas.
Só que, sobram razões para colocar outras questões relevantes, relativamente a esta medida.
Desde logo, porque tal intenção não aparece rodeada das cautelas adequadas, tais como, a possibilidade de qualquer cidadão fazer buscas por entidade adjudicante, empresa, valor, tipo de contrato e tipo de actividade.
Estas, entre outras, evidentemente!
Se tivermos em conta que todos os relatórios elaborados pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária demonstram que a maioria dos processos de investigação, sobre eventuais actos de corrupção, favorecimento ou gestão danosa - incluindo aqueles que abortam antes da conclusão – se situam exactamente nesta área da Administração Local, fácil é antever que tal iniciativa legislativa pode contribuir decisivamente para agravar este quadro nada dignificante para o poder local!
Suspeitas, sinais de denúncias (comprovadas ou a comprovar), favorecimentos, falta de transparência e de lisura em negócios que envolvem a realização de obras públicas, povoam o imaginário da população. É evidente que, quando a maioria absoluta, segundo os relatórios divulgados, de processos desenvolvidos e em desenvolvimento na PJ e MP, se relacionam com a Administração Autárquica, devemos tomar todas as medidas e cuidados para inverte este quadro.
Permitir que, por ajuste directo – sem concurso público - se adjudiquem obras de tão elevados montantes é deixar caminho livre para gerar apetites a actos menos transparentes e de favorecimento.
É, por isso, abrir as portas à corrupção e criar condições na Administração Pública designadamente local para actos pouco transparentes esvaziando o conceito de abrir oportunidades iguais para todos.
Mesmo que a decisão de adjudicar esta ou aquela obra se enquadre numa lógica de racionalização, mesmo que a entidade escolhida preencha melhor que a concorrência os requisitos técnicos e administrativos exigíveis, a avaliação popular pode enfermar sempre de desconfiança e descrédito associados.
Na política, como na gestão da coisa pública, “o que parece é”.
Por isso, é que, não basta à mulher de César ser séria. Tem também de parecê-lo!
Numa conjuntura em que os cidadãos se afastam da política, pensam mal dos políticos, detestam os aparelhos partidários e, na esmagadora maioria desconfiam da Administração Pública, não será boa política, para a melhorar a imagem dos titulares de cargos, criar actos e/ou medidas que alimentem nos cidadãos dúvidas, equívocos abrindo espaços a apreciações depreciativas que poderão afastar ainda mais as pessoas da vida política e da vida cívica.
Há políticos e gestores públicos honestos, rigorosos, com critérios de gestão exigentes que utilizam dinheiros públicos de forma transparente, e indiscutível.
Mas há também aqui ou ali situações que contradizem este princípio – “o hábito faz o monge”.
Criar situações condicentes à dúvida, falta de transparência e rigor, na coisa pública é sempre abrir caminho a especulações e muitas vezes aguçar o apetite para actos menos convenientes e até repugnantes.
Tenho larga experiência na administração pública e particularmente na administração local. É na base dessa experiência e do conhecimento da realidade existente no panorama nacional que considero que o Governo e o PS fazem mal, muito mal se persistirem neste caminho.
É que, nem a aproximação de eleições legislativas e autárquicas justificam todos os meios.

Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Não foi bonita a festa, pá!…

A quadra era propícia ao sentimento, à fraternidade à solidariedade – valores sublimes que convivem mal com a demagogia, com o oportunismo e com a insensibilidade social.
Época de Natal é por tradição época de convívio, é tempo de alegria e de esperança renovada.
Reúnem-se as famílias, aproximam-se os amigos, organizam-se festas.
Empresas, organismos, instituições, agremiações, clubes, órgãos autárquicos, aproveitam a quadra natalícia para reforçar laços de amizade rever velhos amigos, partilhar episódios passados.
É assim, um pouco por todo o lado. Matosinhos não foge à regra.
A autarquia, ou melhor a equipa maioritariamente eleita há pouco mais de três anos – com toda a legitimidade, sublinhe-se – não quis deixar de assinalar a quadra, reunindo, de acordo com a imprensa local, cerca de 6000 cidadãos numa festa convívio, a que não faltaram artistas prestigiados vindos de fora. Como o padre Borga, por exemplo.
Mas, os “verdadeiros artistas”, esses, nem precisaram de vir de fora, nem sequer de ser contratados. Vieram de perto, e estiveram naturalmente “brilhantes”.
A viagem foi curta e, resumiu-se a cobrir a distância entre o Jardim Basílio Teles e a periferia de Leça da Palmeira, a Exponor, pois foi este o local escolhido para o evento.
Muitas tinham sido as camionetas, estas sim, contratadas para transportar as pessoas.
Pagas por quem? Obviamente bem sabemos e compreendemos que é com o dinheiro dos contribuintes. Não havendo disponibilidade, nem suporte financeiro para tanta ostentação, não importa, paga-se depois pelo orçamento do ano seguinte!
As regras de gestão municipal e o equilíbrio financeiro que o bom senso – e, vamos lá, algum decoro e algum pudor recomendariam – são pelos actuais titulares dos cargos governativos municipais completamente ignorados, desprezados, arrumados, aniquilados.
Falei de “artistas” que abrilhantaram a festa, mas, ainda não os apresentei.
Dois dos autarcas da maioria do aparelho partidário, mais meia dúzia de autarcas de freguesia do mesmo aparelho, mais dois ou três colaboradores sortidos, compunham o “elenco”. E que número fizeram eles?
Não, não concorreram com o Padre Borga no palco. Antes, passearam-se pela plateia, aproveitaram, por um lado, um cantor de elevada aceitação no meio, por outro a presença de tantas pessoas “disponíveis” para apreciá-los.
E, virando as costas ao palco – que era para onde convergia a atenção dos circunstantes – percorreram demoradamente a sala tentando, sem êxito, atrair as atenções, forçando cumprimentos, criando temas de conversa, provocando ou tentando um pé de dança.
Era visível o alheamento, diria até muita frieza e total distanciamento, salvo claro pequenas e esporádicas reacções de alguns, sempre muito poucos, participantes na festa. Afinal o povo, mesmo os mais idosos, já percebe bem, diria muito bem estas acções.
O sintoma anestesiante da assembleia, percebe-se, compreende-se, afinal aquelas figurinhas tapavam o centro das atenções: Padre Borga, naturalmente.
Mas, o momento alto do certame estava ainda para vir. E deu-se quando, a pretexto da chegada de três aparelhistas que se atrasaram, as canções que caíam bem no ouvido, foram silenciadas, assim como quem silencia vozes incómodas.
Espanto na sala, decepção nos ouvintes. Agora o palco estava tomado por políticos. Que ali estavam os eleitos, ali estava o futuro, ali renascia a esperança, blá, blá, blá, blá…
Acentuava-se o mal estar nas cadeiras. Não era essa a festa que esperavam. Não eram aqueles os “artistas” que aguardavam. Não era aquela a “música” que queriam ouvir! … O padre esse, ausentou-se discreta e educadamente.
Sentado anonimamente na última fila, observei tudo. Com uma tristeza indescritível. Com uma revolta inigualável. Com uma passividade intolerável. Pela minha consciência de cidadão. Pela minha condição de matosinhense!
As pessoas não são números, como dizia – e muito bem – António Guterres.
Fazer delas números – ou fazer “números” para as impressionar é desacreditar a política e é sobretudo usar as pessoas como “coisas” e não como pessoas.
E quando se tem este comportamento com idosos a situação é muito mais chocante.
Aqueles que se identificam com estes procedimentos e que acham bem estas atitudes, estão a prestar um péssimo serviço à política e à cidadania.
Retomar o Rumo, implica também erradicar estas afrontas.
Para que Matosinhos viva e respire melhor!


Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

“Virar de página na história da autarquia”?

Só se for de paginador!...
Foi um fartote de prendas e de palavras doces: “os habituais presentes às crianças”, de acordo com a revista de propaganda oficial do município visavam manter a “tradição”, ou “não fossem as crianças o que de mais importante e genuíno há nas nossas vidas”!
Talvez por isso, algumas figuras generosas da nossa praça ofereçam sempre lugar a mais uma criança em “infantários” privados sobrelotados.
Mesmo que tal classificação – a de “infantário” - vise apenas lucros de exploração, a ideia que fica é a de que, para efeitos natalícios, a solidariedade a fraternidade e a amizade lá estão…
A acrescentar a “isto” – é a linguagem oficial a proclamá-lo – houve “festas dedicadas aos mais jovens” , “com espectáculos de música, dança e teatro” com o fito de lhes arrancar “mais uns sorrisos” (não serão antes, mais uns votos?).
Porque - há que dizê-lo - alegria, sorriso, vivacidade, entusiasmo, divertimento e irreverência estão naturalmente associados aos jovens. Gastar dinheiro para fazer sorrir “os mais jovens” é, no mínimo redundante. Sorririam – os jovens e, sorririam ainda mais os seus pais - se vissem, nos actuais detentores do poder, uma política que os integrasse numa sociedade que, cada vez mais os exclui! Agora, digna de aplauso, por cá, parece ser a “simplificação da vida dos cidadãos” – aplicação prática do “simplex” socrático.
Espaços como a “Loja do Munícipe”, “Call Center e gestão documental”, o que quer que isto queira dizer, são já – diz a mensagem presidencial e natalícia - “projectos concretizados”. Quantos munícipes por esse Portugal fora podem gabar-se de pagar impostos para uma autarquia que lhes assegure uma “gestão documental” como a nossa? Serve para quê? Ora essa, sendo uma unidade de “gestão” há-de servir para gerir; sendo “documental” há-de servir para documentos. Gerir documentos, falando agora para a geral!
Mas, quais - perguntará o leitor! Sei lá, é ligar para o Call Center!
Resta acrescentar que também está na forja outra loja, a “Loja do Cidadão”. Mas esta, parece ter nascido “debaixo de um signo que em nada lhe é benigno”, como diria António Nobre, o poeta do Só!
Então não é que, antes de nascer – é verdade que há pouco tempo esteve cá um ministro a insuflar oxigénio aos parturientes, a ver se a coisa vinga - já lhe arranjaram tantos berços, que, se um dia vier a ser mais “um projecto concretizado” dará a ideia de que algum “coito danado” esteve na origem da sua gestação! Era na Brito Capelo, era na antiga Câmara, era no Mercado Municipal, vai ser (ou era, também?) na rua Alfredo Cunha.
E, agora o romantismo: “As pessoas viveriam de sorrisos e de boa vontade, numa entreajuda natural. Tudo seria simplesmente belo!” – cito pela última vez o ”Editorial” da revista.
Mas – e peço outra vez ajuda a António Nobre, “…em que Pátria, em que Nação é que me espera, esta Torre, esta Lua, esta Quimera?...” (…) “…e a minha fada com sua vara de encantar, um Reino me apontou, lá em baixo ao pé do mar…”
Seria Matosinhos? Se o leitor consultar a “revista nº 18 – Dezembro de 2008” da Câmara vai concluir que só pode!

Heitor Ramos Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Tempo de Esperança!

Passadas que foram as festas natalícias, tradicionalmente caracterizadas pela troca de votos de um Ano Novo Feliz, é tempo de verificarmos se tais votos se concretizam.
2009 dá agora os primeiros passos. Será um ano marcado pela realização de três actos eleitorais: as eleições europeias, as legislativas e as autárquicas. É, pois um ano de eleições.
E, as eleições são, por definição, actos de esperança. Este é, portanto um ano de esperança!
Esperança em melhores dias. Esperança em que, os problemas que afligem a comunidade sejam resolvidos. Esperança em que, as dificuldades porque passamos sejam atenuadas. Esperança em que, os mais pobres sejam cada vez menos pobres e – já agora – em que os ricos se lembrem do seu semelhante, traduzindo assim em verdade as mensagens natalícias que nesta quadra certamente subscreveram…
Esperança para os desempregados: que o almejado emprego deixe de ser uma miragem. Que o trabalho tão necessário à reconstrução da economia nacional finalmente lhes surja no horizonte trazendo-lhes a estabilidade financeira e emocional a si, e aos seus.
Esperança para os idosos: que lhes acuda uma política de protecção social adequada às suas necessidades, que tenha em conta as suas dificuldades reais, que aufiram uma reforma que lhes chegue para o sustento e, para a assistência médica e medicamentosa.
Esperança para os jovens: para os que concluíram a sua formação académica e, para aqueles que tendo optado pela via profissional e se encontram em situação de precariedade laboral, vendo assim condicionadas outras opções de vida. Esperança particularmente para os jovens que procuram o primeiro emprego e - este demora a chegar!
Esperança para os profissionais do comércio tradicional. Empresários médios e pequenos que nos últimos tempos têm sentido a sua vida a andar para trás, confrontados com a crescente perda de poder de compra dos seus concidadãos. A certeza de que há muito para fazer em todos os domínios visando a recuperação económica.
Ter esperança é pois fundamental. Uma espécie de fé, uma energia inquebrantável que acompanhe os nossos actos do dia-a-dia, seja no plano pessoal, familiar, político, ou doutra ordem.
À Fé e à Esperança dos desfavorecidos, seria desejável acrescentar-se a Caridade dos poderosos. Não a “caridadezinha” a que nos habituaram, típica de peditórios e esmolas, mas duma caridade que coloque os direitos dos outros a par daqueles que aos próprios assiste.
Não basta, naturalmente ter-se fé e esperança. O axioma popular “Fia-te na Virgem… e não corras” tem aqui inteira aplicação.
As esperanças aqui expressas exigem a adopção de medidas urgentes e que sejam consequentes no plano prático e operacional. Medidas que só podem ser implementadas por cidadãos que se identifiquem com tais propósitos e intenções.
Por isso, a escolha acertada dos cidadãos a eleger surge como imperativo primeiro. Depois, por parte dos eleitores, a opção certa.
É assim que se inverte a tendência. É assim que se retoma o rumo.
Em Matosinhos, pelos matosinhenses, estou pronto para assumir essa responsabilidade. É uma espécie de contrato que desejo fazer com a nossa gente. Com a gente que eu conheço. Com a gente que me conhece!


Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com Para ler este texto na íntegra, clique aqui.