quinta-feira, 26 de junho de 2008

Afinal, há coincidências!

Programado, não terá sido. Coincidência, apenas.
Se intencional, seria coincidência programada. Chame-se-lhe o que se quiser, mas esta de o Congresso do PSD se realizar na ressaca da inglória eliminação no Euro 2008 da “selecção de todos nós” (há quem lhe chame a de Scolari...) nem de propósito. Liberto das “preocupações” provocadas pelas desastradas opções do brasileiro, agora de saída - um guardião que vai de olhos fechados aos cruzamentos e um lateral esquerdo improvisado - o “pessoal” estará como que pronto para outras...

Funcionou em pleno o “marketing político”, durante este período. Imbatível! A verdadeira “Central de Comunicações” que funciona com invejável perfeição. O ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, e o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, têm-se revelado verdadeiros especialistas na matéria. Quase nos fizeram esquecer a ausência do ministro Manuel Pinho da reunião de Bruxelas, onde se discutiam propostas suas, e os repetidos “enganos” (sempre a seu favor, claro) dos indicadores económicos! Ou o que é feito da ministra da Saúde, “desaparecida” desde que substituiu Correia de Campos. Ou as críticas de José António Pinto Ribeiro á sua antecessora.
Claro que todos gostamos de ver a Selecção a jogar e a ganhar. Mas isto ocuparia 90 minutos de vez em quando, 120 se houvesse prolongamento! Agora, o autocarro, a chegada ao hotel, as manifestações em Neuchatel, o tornozelo do Ronaldo ou o pulso do Quim, pelo amor de Deus!...

Manuel Alegre teve há dias uma exclamação que merece, ou devia merecer por parte dos dirigentes PS, aturada reflexão: “Algo está errado quando é José Miguel Júdice a fazer de advogado do governo”. Alguém do aparelho socialista já procurou inteirar-se das razões objectivas que levaram Manuel Alegre a participar naquele comício do BE? Mário Soares, que inicialmente apoiou Sócrates, compreendeu melhor que ninguém o “buraco negro” em que esta política meteu o País. O diagnóstico de Soares, tantas vezes repetido, está correcto.
A situação piorou, as diferenças sociais aumentaram, a classe pobre é cada vez maior, a classe média resvala para baixo e diminui, o país entrou em estagnação. Claro que a crise petrolífera e alta dos alimentos veio dar ênfase à situação latente. E é neste cenário que o PSD prepara os próximos (e decisivos) tempos eleitorais.
E, atrevo-me a dizê-lo, não fora a circunstância de serem amplamente conhecidas as ideias de Manuela Ferreira Leite para resolver o “problema” Estado (na área económica coincidentes com as de Sócrates) e teríamos, como certo, num futuro próximo a queda socialista e a inevitável ascensão social-democrata. Isto apesar da confortável margem PS que as sondagens têm mostrado.

A presença activa do PSD em todas as frentes assume-se assim como útil, imperiosa até. Não como alternativa ao poder - o máximo que conseguirá, a meu ver, é retirar ao PS a maioria. Mas “ameaçando” pela proximidade o poder. E, nesta medida, se ameaçasse o aparelho uniria os militantes em torno de uma causa de que os verdadeiros socialistas jamais despegam: um país com mais justiça e equilíbrio social. Nas autarquias, também, pois claro.
Matosinhos bem precisa de debates construtivos e participados. Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Há sempre alguém que diz não!

Os irlandeses votaram contra a ratificação do Tratado de Lisboa.
53,4% Votaram “Não”. A abstenção ficou-se pelos 47%; não chegou aos temidos 60% - número que segundo alguns entendidos daria a vitória ao “Não”.
Não foi, portanto, a abstenção que fez perder na Irlanda o “Sim ao Tratado de Lisboa”. Foi o voto do povo. E o voto do povo, mesmo para os democratas representativos que desprezam os eleitores durante o mandato é incontornável. Aqui está a primeira conclusão: ignorar os sinais de descontentamento popular é sempre penalizante.

Não poderá portanto fazer-se um segundo referendo daqui a alguns meses: para muitos, só mesmo um novo Tratado, consentindo aos Estados - e não só à Irlanda - a possibilidade de rejeição de algumas decisões políticas, ou mesmo de algumas políticas.
É que ninguém pode assegurar que o “Não”, não seria repetido noutros países - incluindo o nosso - se fosse consentido ao povo o direito de o sufragar. E é esta impressão que constituirá o mais sério revés da decisão irlandesa.

Mas, vale a pena debruçarmo-nos sobre os motivos que terão contribuído para a vitória do “Não”.
São de vária ordem, assentam em pressupostos sócio-geográficos (ou económicos) - as zonas mais ricas da Irlanda pronunciaram-se a favor do “Sim”... - e mostram como um país pode recusar a perspectiva de controlo supranacional da sua política.
Resumidamente, estas seriam as causas:
a) Receio de perda da soberania fiscal (eliminando a vantagem económica dos baixos impostos sobre as empresas).
b) Desconfiança de uma política externa supranacional (e receio da perda de neutralidade)
c) Receio da revogação europeia da proibição do aborto e da eutanásia.

Estes resultados afligiram os líderes europeus. E maldizem os eleitores irlandeses que votaram “Não”.
José Sócrates que tinha prometido - e não cumpriu - referendar o Tratado vê agora dissipado parte do ganho capitalizado, e que supostamente lhe garantiria algum conforto eleitoral.

Naturalmente que há ilações a retirar.
E, a primeira, em minha opinião é que, União económica e monetária, sim senhor; União política, jamais!
Aprendemos que, este Tratado baseando-se no totalitarismo do “politicamente correcto”, excluindo a liberdade nacional de pensamento e decisão, imiscuindo-se no terreno ideológico, no plano da economia e dos costumes, agrada a uns e desagrada a outros. Assim é atacada no plano económico por ser demasiado socialista, e, no plano dos costumes por ser demasiado liberal. E, acima de tudo porque consagra a preponderância das grandes potências sobre os demais povos.

Esqueceram-se os mentores do Tratado que, uma Constituição - como o de Lisboa - não pode defender um programa político ou uma ideologia, porque sendo uma lei fundamental tem de ser consensual, para que possa ser aceite, integrada, promovida e jurada por todos.

António José Seguro teve razão antes do tempo. É assim que se afirmam os que são, ou serão, verdadeiros lideres... Para ler este texto na íntegra, clique aqui.

sábado, 14 de junho de 2008

Semana negra lá por S. Bento!

Se houvesse maneira de quantificar o desgaste político do partido socialista enquanto governo deste país, teríamos hoje um resultado impensável há alguns meses.
E, nesta medida, surpreendente.

Será difícil encontrar no período que Sócrates leva como primeiro-ministro uma semana de tamanho desgaste. De origens diversificadas, foram muitas as causas que se aliaram para tornar negra esta primeira semana de Junho.
Para os portugueses, para o governo e, sobretudo, para os dirigentes socialistas.
Para muitos portugueses não resolve, mas a vitória da nossa selecção no primeiro jogo do Euro 2008 terá sido a única alegria vivida neste período.
Para alguns dirigentes socialistas, uma verdadeira lição.
Aprenderam - ou contraíram a obrigação de aprender - que subestimar o adversário não é boa política.

Deu-se o caso que Manuel Alegre que há muito vem dizendo que quem mudou foi o partido - e não ele - juntou no Teatro da Trindade, em Lisboa, um conjunto de pessoas unidas pela mesma causa: “Por uma maior igualdade social e melhor democracia”- eram estes os temas em avaliação.
Anunciado o evento, e enquanto decorriam os preparativos, destacados dirigentes do PS entraram em pânico. O “Comício da Esquerda” passou a ser, por parte dos mesmos, objecto de apreciação e, porque não dizê-lo até, de reprovação pública.
O bom senso, e já agora o respeito pelas opiniões alheias, devia merecer-lhes não direi o silêncio absoluto mas algum comedimento, falado e escrito. Diplomacia e, sobretudo, inteligência. Não seria matéria para ser tratada com pinças - condescendo - mas com a sensibilidade política que dantes era apanágio do nosso partido.
E o que fizeram estes senhores?
Pois bem, conferiram ao comício uma mediatização que, em boa verdade, nem lhes estaria reservada. A comunicação social, aproveitando o filão que lhes caiu do Céu, rapidamente promoveu o debate. Referiu nomes de participantes, acicatou apetites, trouxe para as primeiras páginas um assunto, cujo destaque, terá até surpreendido a própria organização.
O partido socialista, pela voz de um dos seus representantes do Secretariado Nacional, acabava de dar (mais) um tiro no pé. Desastrado, prestou um péssimo serviço a José Sócrates e à sua equipa. Manuel Alegre tem boas razões para lhes estar grato.
Discordei e discordo que dirigentes do partido participem nestas manifestações por terem outros palcos para se manifestarem. Compreendo que outros socialistas destacados por não pertencerem aos órgãos distritais e nacionais têm reforçada legitimidade para actuarem em todos os palcos que dêem visibilidade política. Não é o caso de Alegre que, no entanto, compreendo pela sua irreverência política.

Mas outras nuvens negras pairaram, por estes dias, em torno de S. Bento e, também, pelos lados do Largo do Rato.
Os 200 mil manifestantes, descontentes com o acentuar das elevadas carências sociais, as greves de pescadores, armadores e camionistas, e a moção de censura (mais uma) são sinais seguros de que é tempo de arrepiar caminho. É que o conforto de saber que a maioria parlamentar aborta iniciativas destas não dispensa o Governo de as ter em conta, por muito que proclame que as maiorias no terreno não impressionam!
Então, o que é que em democracia impressiona?
As minorias? Para ler este texto na íntegra, clique aqui.