sábado, 14 de junho de 2008

Semana negra lá por S. Bento!

Se houvesse maneira de quantificar o desgaste político do partido socialista enquanto governo deste país, teríamos hoje um resultado impensável há alguns meses.
E, nesta medida, surpreendente.

Será difícil encontrar no período que Sócrates leva como primeiro-ministro uma semana de tamanho desgaste. De origens diversificadas, foram muitas as causas que se aliaram para tornar negra esta primeira semana de Junho.
Para os portugueses, para o governo e, sobretudo, para os dirigentes socialistas.
Para muitos portugueses não resolve, mas a vitória da nossa selecção no primeiro jogo do Euro 2008 terá sido a única alegria vivida neste período.
Para alguns dirigentes socialistas, uma verdadeira lição.
Aprenderam - ou contraíram a obrigação de aprender - que subestimar o adversário não é boa política.

Deu-se o caso que Manuel Alegre que há muito vem dizendo que quem mudou foi o partido - e não ele - juntou no Teatro da Trindade, em Lisboa, um conjunto de pessoas unidas pela mesma causa: “Por uma maior igualdade social e melhor democracia”- eram estes os temas em avaliação.
Anunciado o evento, e enquanto decorriam os preparativos, destacados dirigentes do PS entraram em pânico. O “Comício da Esquerda” passou a ser, por parte dos mesmos, objecto de apreciação e, porque não dizê-lo até, de reprovação pública.
O bom senso, e já agora o respeito pelas opiniões alheias, devia merecer-lhes não direi o silêncio absoluto mas algum comedimento, falado e escrito. Diplomacia e, sobretudo, inteligência. Não seria matéria para ser tratada com pinças - condescendo - mas com a sensibilidade política que dantes era apanágio do nosso partido.
E o que fizeram estes senhores?
Pois bem, conferiram ao comício uma mediatização que, em boa verdade, nem lhes estaria reservada. A comunicação social, aproveitando o filão que lhes caiu do Céu, rapidamente promoveu o debate. Referiu nomes de participantes, acicatou apetites, trouxe para as primeiras páginas um assunto, cujo destaque, terá até surpreendido a própria organização.
O partido socialista, pela voz de um dos seus representantes do Secretariado Nacional, acabava de dar (mais) um tiro no pé. Desastrado, prestou um péssimo serviço a José Sócrates e à sua equipa. Manuel Alegre tem boas razões para lhes estar grato.
Discordei e discordo que dirigentes do partido participem nestas manifestações por terem outros palcos para se manifestarem. Compreendo que outros socialistas destacados por não pertencerem aos órgãos distritais e nacionais têm reforçada legitimidade para actuarem em todos os palcos que dêem visibilidade política. Não é o caso de Alegre que, no entanto, compreendo pela sua irreverência política.

Mas outras nuvens negras pairaram, por estes dias, em torno de S. Bento e, também, pelos lados do Largo do Rato.
Os 200 mil manifestantes, descontentes com o acentuar das elevadas carências sociais, as greves de pescadores, armadores e camionistas, e a moção de censura (mais uma) são sinais seguros de que é tempo de arrepiar caminho. É que o conforto de saber que a maioria parlamentar aborta iniciativas destas não dispensa o Governo de as ter em conta, por muito que proclame que as maiorias no terreno não impressionam!
Então, o que é que em democracia impressiona?
As minorias?

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