quarta-feira, 30 de abril de 2008

“Este Salazar é pior que o outro”!

Não senhor, esta frase não foi proferida por al­gum dos jovens visados na sondagem de que o Presidente da República nos deu conta a 25 de Abril e cujos resultados - afirmou - o preocupam.
É que - mostram-no as sondagens, confirmam-no as entrevistas e sentimo-lo entre nós - os jovens estão completamente afastados da política e dos políticos. Mas voltemos ao título desta crónica.
“Este Salazar é pior que o outro” é um desabafo que eu próprio ouvi, numa das incursões que tenho feito pelo Portugal profundo, não o “Portugal profundo” de que fala o líder madeirense Jardim, mas do Portugal que trabalha, paga impostos e vive, paredes-meias, entre a miséria e o remedeio.
É uma constatação grave, triste e frustrante para quem tanto arriscou e tanto de si deu em prol do bem comum. Estou a falar dos homens que fizeram o 25 de Abril e daqueles que, interpretando o seu projecto, materializaram e tornaram possível, apesar de tudo, a consolidação do regime democrático que vivemos.
Sente-se no dia-a-dia. Basta ouvir nas ruas, cafés, restaurantes e transportes públicos.


Para o cidadão comum, os políticos são uma raça malfadada, sustentada a peso de ouro pelo erário público, e que vive suinamente satisfeita com o tamanho da sua pia.
Cavaco Silva não utilizou esta linguagem no discurso à A.R. do dia da Liberdade. O lugar e as elevadas funções que desempenha impedem-no de ser tão claro e popular. Nem tão pouco, a utilizou no tratamento que, na Madeira, dedicou ao presidente daquele governo regional. Isso seria responder ao mesmo estilo, e os níveis de um e de outro, como se sabe, não se equivalem.
São casos destes - e o da Madeira não é caso isolado - que afastam jovens e maduros, citadinos e rurais, esclarecidos e mentecaptos, da participação activa nos destinos da nossa Pátria.


Que se vê hoje por aí?
A não ser os aparelhos partidários a mexer nas suas estruturas internas, o povo anónimo e não comprometido com filiações ou seguidismos partidários ignora olimpicamente o que divide os candidatos e despreza o que anunciam eles trazer de novo à sociedade.
O povo anónimo não quer saber dos conflitos internos dos partidos, não quer saber porque se demitem uns, se candidatam outros e se ameaçam com a “revolta” uns tantos.
De longe, ainda vai havendo quem lhes vá seguindo os passos. Mas, os poucos que o fazem, fazem-no só por desfastio. A política partidária, decididamente, não os atrai.
E muito menos aos jovens!
E todavia, os partidos são indispensáveis ao nosso regime. Partidos diversificados, fortes, representativos e credíveis: eis a essência da democracia.
Claras são estas razões e óbvias as suas causas.


Em queda, seguindo uma rota de suicídio político, lá seguem, surdos e mudos, alguns dirigentes partidários. Afastando, ostracizando, minimizando todos quantos - por enquanto só dentro do partido - que com inteira justeza lhes fazem frente - o processo de descredibilização continua.
Note-se que esta desmobilização colectiva se vai agravando. Sem querer fazer futurologia, quer-me parecer que sondagens equiparadas em momentos futuros - a realizarem-se - pintarão de mais negro ainda, como se isso fosse possível, o quadro que perturbou Cavaco nestas comemorações.
Exagero? Talvez!

Estas, ou a recusa destes princípios, são as minhas causas, as vossas causas.
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quarta-feira, 23 de abril de 2008

O colapso!

Não terá sido, para muitos, grande surpresa.
Inesperado, só o momento. Afinal, escassas horas antes do anúncio solene da desistência, “à hora do almoço”, nem o secretário-geral do PSD (segundo o Expresso) fazia a mínima ideia da intenção do chefe. Razões e consequências lá as terão uns e outros as avaliarão.


Causas próximas ou afastadas, não me compete equacioná-las.
Contudo, e apesar do respeitoso distanciamento com que as encaro, não posso, por imperativo de consciência, deixar de assinalar uma certa similitude entre o que se passa no seio deste partido à escala nacional e do PS à escala regional, ou seja cá por Matosinhos.
Porque as semelhanças são tantas que ninguém, minimamente atento à problemática eleitoral, pode deixar de as sentir, sendo que trazê-las à consideração dos cidadãos não deixa de ser um assinalável acto de cidadania.
Para que, reflectindo sobre elas, possamos avaliar não só rumo que tomam os eleitos, como ainda o carácter de quem protagoniza acções que o materializam.
Para que, entendendo-as, compreendamos posições assumidas por aqueles que, não se identificando com os eleitos, muito justamente contestam o folclore que acompanha quase sempre as suas mais insignificantes realizações.


Afinal, onde estão as semelhanças? - perguntará o leitor.
Pois bem, aqui vão elas:
Lá, como cá, também as eleições internas foram ganhas pelos aparelhos partidários; a escolha dos candidatos não resultou de um movimento de cidadãos enquadrados por um partido, em que os eleitores se sentissem adequadamente representados.
Explico melhor: umas eleições não se ganham apenas com os votos dos militantes. A força dos militantes é um precioso capital que deve ser gerido com inteligência e oportunidade. É uma mais-valia que nenhum candidato pode negligenciar. Nem dispensar. Antes deve potenciar, catapultando o seu partido para o almejado sucesso eleitoral.
Um partido que possua nas suas fileiras militantes activos, determinados e combativos é um partido riquíssimo em capital humano, potencialmente vitorioso em todos os combates.
Estes podem colocar ou apear líderes, influenciar o sentido de voto de inúmeros cidadãos, mas sozinhos ou mal enquadrados não podem assegurar vitórias eleitorais.
Pode dizer-se que Luís Filipe Meneses tendo ganho o partido, terá perdido o País. A excessiva colagem ao aparelho - imagem de marca da sua curta liderança - conduziu-o ao descrédito e isolamento político abrindo brechas irreparáveis na frágil estrutura que o suportava.


Matosinhos - e não será necessariamente por imitação - vive uma situação particularmente aproximada.
Também aqui foi o aparelho do partido a vencer as eleições da concelhia. Pode dizer-se também que, para que a aproximação se concretize, os vencedores estão a fazer o resto. Isto é, a afastar militantes das cúpulas e o que é pior a afastar cidadãos da política, a condicionar o futuro e a hipotecar a continuidade do PS como partido repetidamente mais votado


É por elas, para elas, para as servir, para vos servir, que aqui estou.
Resoluto e determinado. Como em 1974!

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quarta-feira, 9 de abril de 2008

Eleições e eleitores

Como é do conhecimento geral, realizaram-se este fim-de-semana eleições internas do Partido Socialista: um acontecimento normal em democracia.
Aqui pelo Porto, só três concelhos apresentaram a sufrágio mais do que uma lista. Foram eles, Maia, Matosinhos e Trofa.
Se o entusiasmo em actos eleitorais se pode, também, medir pelo número de listas concorrentes, temos de concluir que, desta vez, a participação colectiva esteve de algum modo distante da que caracterizou em actos equivalentes tempos passados.


As explicações para este deslizar dos militantes, do empenhamento para a indiferença pode configurar outro tipo de postura ou de reacção.
O desencanto evidente pela vida politica, pelos partidos e, neste caso, dos socialistas parece ter assentado arraiais em tudo quanto com o partido se relaciona.
Atenção que não me refiro apenas ao PS. De um modo geral assiste-se, um pouco por todos os quadrantes políticos, ao abandono e ao afastamento, traduzidos num avolumar irreversível da distância a que cada vez mais maior número de cidadãos vota os partidos. Já por várias vezes e em circunstâncias diversas o referi: cada vez mais as pessoas se afastam dos partidos políticos e da sua militância activa.


Estas eleições dentro do quadro do PS tiveram razoável participação.
Acontece que - e convém não se perder de vista esta realidade - as eleições internas dos partidos (quaisquer que estes sejam) dão sinais sobre as candidaturas; as eleições gerais avaliam candidatos, escolhem protagonistas e materializam propósitos.
Tomar a parte pelo todo pode constituir, no caso presente, um erro de análise grosseiro e de consequências imprevisíveis.


Por outras palavras: a militância assídua e participativa não corresponde necessariamente a uma posição de conforto e serenidade para os que com eles se identificam. Há sinais que, por mais recônditos que possam estar, por mais tranquilidade que possam revelar, podem, em circunstâncias reais, transformar o que parecem ser incontestáveis vitórias em consumadas derrotas.
Daí que, estas eleições, tendo na verdade sido disputadas com calor e entusiasmo e tendo sido legitimamente ganhas pelos mais votados, não representam mais do que isso mesmo: foram inteiramente conseguidas, completamente indiscutíveis e merecem de todos nós aprovação. Sabemos assim a quem pedir contas sobre a rota do partido nos próximos combates eleitorais.


Analisemos os resultados das eleições em Matosinhos. Dos 3813 militantes, actualmente existentes, incluindo os que foram impedidos de votar por manobra de secretaria, votaram menos de metade, diria mesmo significativamente menos de metade.

Explico: dos 3813 só votaram 1494, o que corresponde apenas a 39% do total dos militantes existentes.
61% dos militantes ficaram em casa. Alhearam-se completamente das eleições, não indo votar. Ou foram para a praia ou para a piscina, ou foram dar uma volta com a família, amigos ou namorados. Mesmo muitos dos que aparecem com cotas milagrosamente pagas disseram: não, não vou votar.
Dos 39% que votaram, 75% optaram por uma lista e 25% pela alternativa. Nem sequer vou realçar o facto da lista alternativa ter subido 6% que o resultado obtido nas últimas eleições. Talvez porque são cada vez mais os socialistas que desejam pertencer a “uma reserva moral do PS”.
A lista vencedora, com 75% do total dos votantes, teve apenas o voto de 29% do total dos cidadãos que têm cartão de militante do PS em Matosinhos.


Daqui resulta que, do total dos militantes, 61% ficaram em casa, 29% votaram na lista vencedora e cerca de 10% votaram na reserva moral do PS. Nada mau!


Afinal o afastamento da política, dos políticos e dos que exercem o poder também acontece dentro do PS.
Eu vou continuar a olhar atentamente para os matosinhenses, particularmente os cerca de 136 mil cidadãos desta terra, de horizonte e mar, que no próximo ano vão escolher o presidente da câmara.

Prometo, sob compromisso de honra, que tratarei do mesmo modo todos, incluindo os 61% dos militantes do PS que ficaram em casa, os 29% dos militantes do PS que votaram na lista vencedora e os 10% dos militantes do PS que votaram na lista vencida, porque esses todos fazem parte do grosso da coluna dos 136 mil que votam em Matosinhos.
Por mim, militante socialista de causas, princípios e convicções, estou disposto a cumprir o meu dever: o de não abandonar os matosinhenses que, de uma forma ou de outra, me têm manifestado, apesar de tudo, esperança num futuro melhor. Para todos os socialistas, convictos, menos convictos e, sobretudo, os desiludidos deixo esta palavra de esperança.

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quarta-feira, 2 de abril de 2008

Matosinhos/Trofa/Balasar/Póvoa do Varzim/Matosinhos

De novo de bicicleta.
Para além do esforço e do prazer do passeio quero destacar dois pontos.

O primeiro a paisagem ainda com muito de rural existente neste nosso litoral industrializado (sobretudo no percurso de Balasar para a Póvoa).

O segundo a profissão de fé a que pude assistir em Balasar. Longe das multidões pessoas com problemas graves de saúde procuram obter junto da fé o alívio dos seus males. Sem parangonas, sem alarde, com discrição e muita esperança.

Para essas pessoas e suas famílias os meus melhores desejos e que as suas preces sejam atendidas.



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A Amizade

“É difícil dizer quem nos faz mais mal: inimigos com as piores intenções ou amigos com as melhores”
“A amizade multiplica as coisas boas e divide as más”.
“Tenho procurado destruir os meus inimigos transformando-os em amigos”.
“Não tem amigos quem nunca teve inimigos”.
“Peço a Deus que me proteja dos meus amigos; dos inimigos cuido eu!”
Aqui vão de rajada alguns pensamentos e frases célebres sobre a amizade, com os quais me identifico inteiramente.São tantas as circunstâncias da vida em que a amizade se manifesta que o difícil é escolher as mais marcantes. Claro que não existe uma fórmula, um padrão que nos permita aferi-la com exactidão e clareza.
Há pessoas a quem dedicamos a nossa amizade; em quem confiamos; com quem partilhamos ideias; que são cúmplices dos nossos projectos e parte da nossa estratégia.
E estamos convencidos de que somos correspondidos. Que não se aproveitam da nossa bonomia para, em algum momento visando interesses pessoais ou prestando favores a terceiros, nos atraiçoarem.
E, todavia, elas existem…Às vezes, sem darmos por isso, tão certos estávamos da sua integridade moral, da sua firmeza política, do seu carácter nobre, da sua dedicação desinteressada.
E, quando a verdade surge aos nossos olhos, é o desapontamento, a desilusão.Por vezes, é preciso que o denunciem; é preciso que algum amigo nos lembre que, afinal, aquela pessoa que julgávamos dedicar-nos uma amizade segura e indestrutível, não passa de uma boneca com pés de barro!…
Vêm estas considerações a propósito da chamada de atenção que fui alvo durante o café da manhã do passado Domingo. Uma amiga de longa data advertiu-me para a necessidade de ser mais selectivo e rigoroso no critério que uso para definir os meus amigos. Parecia-lhe que a minha generosidade excessiva poderia alargar demasiado o conceito da amizade.
A conversa sobre o tema não se alongou muito mais. Percebi. Não pude deixar de reflectir e trazê-la à consideração do leitor - o que para algumas pessoas a amizade representa: um valor ténue que se apaga, se a cenoura for acenada.
Ou, pior que isso, como parece ser muitas vezes o caso, apenas para fazer um jeito a amigos conjunturais ou de circunstância…
Amigos destes? Amizades destas? Pois, que as leve o diabo! Mas deixemos isto ao Aleixo que sentiu na pele, como ninguém, a falta da amizade.
“Quando estas verdade digo a um amigo,
estou a ouvi-loa dizer lá p´ra consigo:
aquilo não é comigo;
eu não sou nada daquilo”


“Mas, se em meus versos bem digo,
o amigo fica feliz, a dizer lá p´ra consigo:
ó diabo, aquilo é comigo,
sou tal qual o que ele diz”.
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