Como é do conhecimento geral, realizaram-se este fim-de-semana eleições internas do Partido Socialista: um acontecimento normal em democracia.
Aqui pelo Porto, só três concelhos apresentaram a sufrágio mais do que uma lista. Foram eles, Maia, Matosinhos e Trofa.
Se o entusiasmo em actos eleitorais se pode, também, medir pelo número de listas concorrentes, temos de concluir que, desta vez, a participação colectiva esteve de algum modo distante da que caracterizou em actos equivalentes tempos passados.
As explicações para este deslizar dos militantes, do empenhamento para a indiferença pode configurar outro tipo de postura ou de reacção.
O desencanto evidente pela vida politica, pelos partidos e, neste caso, dos socialistas parece ter assentado arraiais em tudo quanto com o partido se relaciona.
Atenção que não me refiro apenas ao PS. De um modo geral assiste-se, um pouco por todos os quadrantes políticos, ao abandono e ao afastamento, traduzidos num avolumar irreversível da distância a que cada vez mais maior número de cidadãos vota os partidos. Já por várias vezes e em circunstâncias diversas o referi: cada vez mais as pessoas se afastam dos partidos políticos e da sua militância activa.
Estas eleições dentro do quadro do PS tiveram razoável participação.
Acontece que - e convém não se perder de vista esta realidade - as eleições internas dos partidos (quaisquer que estes sejam) dão sinais sobre as candidaturas; as eleições gerais avaliam candidatos, escolhem protagonistas e materializam propósitos.
Tomar a parte pelo todo pode constituir, no caso presente, um erro de análise grosseiro e de consequências imprevisíveis.
Por outras palavras: a militância assídua e participativa não corresponde necessariamente a uma posição de conforto e serenidade para os que com eles se identificam. Há sinais que, por mais recônditos que possam estar, por mais tranquilidade que possam revelar, podem, em circunstâncias reais, transformar o que parecem ser incontestáveis vitórias em consumadas derrotas.
Daí que, estas eleições, tendo na verdade sido disputadas com calor e entusiasmo e tendo sido legitimamente ganhas pelos mais votados, não representam mais do que isso mesmo: foram inteiramente conseguidas, completamente indiscutíveis e merecem de todos nós aprovação. Sabemos assim a quem pedir contas sobre a rota do partido nos próximos combates eleitorais.
Analisemos os resultados das eleições em Matosinhos. Dos 3813 militantes, actualmente existentes, incluindo os que foram impedidos de votar por manobra de secretaria, votaram menos de metade, diria mesmo significativamente menos de metade.
Explico: dos 3813 só votaram 1494, o que corresponde apenas a 39% do total dos militantes existentes.
61% dos militantes ficaram em casa. Alhearam-se completamente das eleições, não indo votar. Ou foram para a praia ou para a piscina, ou foram dar uma volta com a família, amigos ou namorados. Mesmo muitos dos que aparecem com cotas milagrosamente pagas disseram: não, não vou votar.
Dos 39% que votaram, 75% optaram por uma lista e 25% pela alternativa. Nem sequer vou realçar o facto da lista alternativa ter subido 6% que o resultado obtido nas últimas eleições. Talvez porque são cada vez mais os socialistas que desejam pertencer a “uma reserva moral do PS”.
A lista vencedora, com 75% do total dos votantes, teve apenas o voto de 29% do total dos cidadãos que têm cartão de militante do PS em Matosinhos.
Daqui resulta que, do total dos militantes, 61% ficaram em casa, 29% votaram na lista vencedora e cerca de 10% votaram na reserva moral do PS. Nada mau!
Afinal o afastamento da política, dos políticos e dos que exercem o poder também acontece dentro do PS.
Eu vou continuar a olhar atentamente para os matosinhenses, particularmente os cerca de 136 mil cidadãos desta terra, de horizonte e mar, que no próximo ano vão escolher o presidente da câmara.
Prometo, sob compromisso de honra, que tratarei do mesmo modo todos, incluindo os 61% dos militantes do PS que ficaram em casa, os 29% dos militantes do PS que votaram na lista vencedora e os 10% dos militantes do PS que votaram na lista vencida, porque esses todos fazem parte do grosso da coluna dos 136 mil que votam em Matosinhos.
Por mim, militante socialista de causas, princípios e convicções, estou disposto a cumprir o meu dever: o de não abandonar os matosinhenses que, de uma forma ou de outra, me têm manifestado, apesar de tudo, esperança num futuro melhor. Para todos os socialistas, convictos, menos convictos e, sobretudo, os desiludidos deixo esta palavra de esperança.
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