“Contigo em contradição
Pode estar um grande amigo;
duvida mais dos que estão
sempre de acordo contigo”
Não costumo basear-me em quadras populares para assentar as minhas opiniões e proclamar as minhas convicções.
Reconheço que os pensamentos dos grandes filósofos, as máximas moralizadoras dos grandes cientistas exercem larga e benéfica acção sobre os espíritos que nelas meditam.
Tanto como as quadras de sabor popular, estas, por maioria de razão: o povo entende-as à primeira, sem necessidade de formações, instruções ou mais explicações.
Identifica-se com elas inteiramente. E por mais elevada que seja a cultura de quem as lê, por mais inatacável que se sinta o “atingido”, a interpretação só pode ser uma: exactamente, preto no branco o que lá se diz.
Se não, não faria sentido – e faz – estoutra do mesmo poeta:
“Os meus versos que têm eles
Que façam mal a alguém
Só se fazem mal àqueles
A quem possam ficar bem”
Estou evidentemente a falar do poeta António Aleixo, uma figura incontornável da cultura portuguesa.
A que propósito vem este tema? Eu explico.
Há dias, encontrei por acaso num dos cafés cá de Matosinhos um amigo de longa data. Éramos jovens adolescentes e frequentávamos ao tempo os mesmos espaços, as mesmas salas de aula. Revivemos naquele curto espaço de tempo – ambos estávamos com pressa – os dias da nossa juventude, peripécias que o tempo (quase) apagou da nossa memória. E reparei, com inegável agrado, que muitas das suas opiniões sobre questões sociais, políticas e pessoais eram invariavelmente seladas com uma quadra adequada, cirúrgica, incisiva, acertada, apropriada. Era, por assim dizer, o Aleixo a falar pela boca dele.
– Mas – perguntei - viraste poeta, meu caro?
– Não senhor. Conheço é muito bem o Aleixo. Não descansei enquanto não adquiri o livro.
E vou lendo (ao acaso) e encontrando afinidades e coincidências em quase todas as quadras. Como, por exemplo, naquela com que abro a crónica de hoje.
Quem não viveu já situações como aquela?
Pela parte que me toca são inumeráveis. Aqui vai uma.
E lanço um desafio: vejam lá se os identificam:
“Há muitos que são alguém,
mas, no mundo onde alguém são
nunca seriam ninguém
se alguém lhes não desse a mão”.
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