terça-feira, 25 de março de 2008

O PS com passado e sem futuro

Esta é a noite densa de chacais pesada de amargura. Este é o tempo em que os homens renunciam.
(Sophia de Melo Breyner Andersen)
Em democracia a oposição é tão importante como o governo.
Há, entre nós, uma dúvida clássica sobre a melhor estratégia a adoptar: se ficar sentado à espera que o poder caia no colo, ou fazer política de forma combativa apresentando alternativas válidas, seguras e aglutinadoras.Há também quem defenda que não é a oposição que ganha as eleições, mas sim o partido do poder que as perde. A nossa história recente, salvo o caso atípico do governo Santana Lopes (o único exemplo de governo directamente derrotado nas urnas) parece dar razão a esta tese.Recapitulemos.
Em 1985, Cavaco Silva ganhou não a Mário Soares, então primeiro-ministro, mas a Almeida Santos. Ninguém sabe qual teria sido o resultado se fosse Mário Soares o “candidato” a primeiro-ministro do PS de então.
Em 1995, António Guterres também não ganhou a Cavaco Silva, mas a Fernando Nogueira. Ninguém sabe qual teria sido o resultado se fosse Cavaco Silva o “candidato” a primeiro-ministro do PSD de então.
Em 2002, Durão Barroso também não ganhou a António Guterres, mas a Ferro Rodrigues. Ninguém sabe qual teria sido o resultado se António Guterres fosse o “candidato” a primeiro-ministro do PS de então.Tendo presente o passado, e havendo lógica neste raciocínio, temos que, se Sócrates se recandidatar, não há oposição que se lhe oponha. O clima que se vive faz lembrar o de 1991. Então também o país sentido era o da oposição, e o país real não só votou de novo Cavaco Silva, como lhe ampliou a maioria. Viu-se que para mudar as regras basta uma primeira vez. Como em 1987, quando Cavaco obteve a primeira e até então considerada impossível no nosso sistema eleitoral: maioria absoluta de um só partido.
São cenários vividos por todos nós; limito-me a recordá-los, para neles assentar a análise que faço do momento político que atravessamos.Parece claro que o PS invadiu o eleitorado do centro-direita. Por sua vez, o PSD e o CDS não aprenderam nada com a humilhação eleitoral de 2005: recolocam na primeira linha os mesmos protagonistas que então se estatelaram na primeira maioria absoluta do PS!...E acontece esta coisa bizarra: é a pequena franja, designada por “aparelho do PS”, que cria os maiores condicionalismos ao prosseguimento da acção governativa do governo.
Como?
Excluindo militantes, afastando simpatizantes e desiludindo votantes: eis a trilogia resultante do autismo, cegueira e arrogância que, a espaços, tem caracterizado o seu percurso. E, pior do que isso: estas influências (as más influências exercem-se sempre com maior eficácia) manifestam-se nas estruturas regionais. Como em Matosinhos, onde o PS actual mais não é do que alguns iluminados que se reúnem de vez em quando para, renegando o passado e comprometendo o presente, deliberar sobre o desnecessário.
Por outras palavras: a oposição é hoje feita em duas frentes: uma, paradoxalmente, por quem mais pela estabilidade devia zelar: a sua própria estrutura dirigente.
Outra, pelo PCP, acolitado por um Bloco de Esquerda repetitivo e monocórdico, que cavalga o descontentamento de inúmeros sectores da sociedade.
Evidentemente que uma coisa é liderar a oposição, outra, bem diferente, é ganhar as eleições!
E reside aqui outra originalidade: as eleições poderão mesmo ser ganhas por aquela frente da oposição que se encontra no seio do próprio partido.
Por isso fica sem resposta a questão que hoje se coloca a muitos militantes: o comício do PS no Porto foi uma festa popular pelos três anos de governo ou uma resposta à manifestação dos professores?Não saberemos a resposta antes do próximo ano. Mas deu para perceber que - isso sim - foi uma manifestação de força do partido do governo. Nem os professores vestidos de negro conseguiram tirar do sério um partido que já provou ter todas as potencialidades para melhorar as condições de vida dos portugueses.
Como escrevia o “Correio da Manhã”:Foi uma “onda socialista que entrou pela rua de Costa Cabral com via verde”.

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