quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O silêncio e as sondagens.

Durou mais de um mês o “jejum” oratório de Manuela Ferreira Leite. Ao silêncio prolongado da líder do PSD corresponde um aumento das intenções de voto dos portugueses. Esta é pelo menos a principal conclusão a tirar dos resultados das últimas sondagens.
“As sondagens valem o que valem”? Sem dúvida, e valem bastante. Isto, se não quisermos apenas ver o que queremos ver, mas sim o que lá está para ser visto. Ao contrário de muitos observadores e comentadores, entendo que as sondagens são um instrumento fundamental para avaliação do desempenho dos candidatos e para identificação de tendências das intenções de voto do eleitorado.
Haverá alguma explicação para que o silêncio da oposição tenha granjeado simpatias? A meu ver, o silêncio tem apenas uma causa: incapacidade para comunicar ideias que podendo estar alinhavadas, carecem de sustentação e credibilidade. Se é certo que uma ideia só é uma boa ideia a partir da altura em que passe a ser a ideia de outra pessoa - normalmente a do chefe - não é menos verdade que a ideia do chefe só é uma boa ideia quando partilhada e apoiada pelos “seguidores”. Desta aliança é que poderá surgir a dinâmica que alimente o plano. Se existir plano, claro está!...
Não podemos esquecer que estamos a falar de um partido que já experimentou, com os resultados que se conhecem, múltiplas soluções de liderança.
Sacarneiristas, balsemistas, motapintistas, cavaquistas, nogueiristas, marcelistas, barrosistas, santanistas, mendistas e menesistas - fases que visaram, cada uma a seu tempo, uma estabilidade partidária, que a impiedosa aritmética eleitoral por um lado, e o reduzido êxito governativo, por outro se encarregaram de esvaziar.
Porque “vingou” então, nestas sondagens, a estratégia silenciosa do PSD?
A explicação assentará - por paradoxal que pareça - na estratégia (ou na falta dela, para o combate à tendência) do PS! Dito de outra forma: o PSD sobe, na medida em que o PS desce - mesmo que da leitura de tais resultados não seja óbvia esta conclusão. E, muito menos que haja nesta equação uma proporcionalidade directa. E as causas talvez possam ser identificadas.
As limitações deste modelo de Estado Social, e a situação do País aconselham à contenção. E, se os cortes aqui, as reduções ali, e o fim ou a compressão de direitos e garantias acolá, não criam - nem poderiam criar - um clima favorável à mobilização da sociedade em torno de um projecto que, na sua essência, o PS preconizava, o exibicionismo, a vaidade e a arrogância de alguns elementos do governo, muito menos.
É público e notório que, pouco e pouco, os nossos governantes se vêm tornando exibicionistas, talvez porque entendam que já nada é privado.
E, quando nada é privado - entenderão eles - nenhuma atitude é reprovável.
E mostram-se nas piscinas, nos autódromos, nos restaurantes, nas festanças, em tudo quanto seja visibilidade mediática: exibições perfeitamente dispensáveis para o exercício das funções governativas - e, sem as quais teriam uma “visibilidade” nula - há que dizê-lo!
O pior é que, quem lentamente atenta contra a sua privacidade vai-se convencendo de que os seus alvos consentem a intromissão. E que, já nada haverá que os faça parar.

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