5 De Outubro de 2008.
98 Anos após a proclamação da República Portuguesa, o cenário internacional caracteriza-se por um profundo terramoto financeiro cujo epicentro localizado do lado de lá do Atlântico provoca, em todo o mundo, ondas de choque que atentam contra os diques da economia europeia ameaçando submergir os mais fracos. Tentando estancar a hemorragia, os americanos lá vão ensaiando soluções, que, em boa verdade, apenas adiam o colapso. Fatal, como o destino! A desastrada política levada a cabo pelos poderosos da Terra, nos últimos anos, aí está a marcar os nossos dias.
É neste quadro, que, na cerimónia das comemorações da nossa República, o senhor Presidente profere um dos mais lúcidos e arrebatadores discursos jamais ouvidos pelos portugueses. A denúncia de situações de pobreza extrema – facto que, desde há muitos meses aqui venho trazendo – revela, por parte de Cavaco Silva, tamanha frontalidade e objectividade, que só não terá até causado surpresa em certos meios, porque, reforçam tão só, posições por ele, já assumidas.
«Nascem novas formas de pobreza e exclusão social, e, em paralelo, emergem chocantes disparidades de rendimento», há «muitas famílias que sentem dificuldades para pagar os empréstimos que contraíram para comprar as suas casas», «idosos para quem a reforma mal chega para as despesas essenciais», «jovens que buscam ansiosamente o primeiro emprego», desemprego crescente e afastamento progressivo «dos níveis de prosperidade e de bem-estar dos nossos parceiros europeus» - eis algumas contas do rosário de amarguras que o Presidente desfiou. E fez um sério aviso à governação: que, «o que é vivido pelos cidadãos, não pode ser iludido pelos agentes políticos».
Alguma novidade? Absolutamente nenhuma. São verdades irrefutáveis.
Tanto a existência da miséria generalizada, com a tentativa – infrutífera, há que reconhecê-lo - em escamoteá-la.
As profundas disparidades entre as diferentes regiões também mereceram o reparo Presidencial. A insustentável distância da capital, em termos de investimentos para obras públicas é vergonhosa. Regiões do país há, que são ignoradas. Outras, que, pura e simplesmente são desprezadas.
O Norte, por exemplo. Se, das visitas aqui efectuadas pelos titulares dos cargos públicos, na sua cruzada a favor da capital, tivessem, ao menos sensibilidade política, para “adivinhar” o que vai na alma deste povo, cada vez mais deprimido, cada vez mais definhado, cada vez mais revoltado, algum proveito social daí decorreria.
Mensagens sérias, avisos ponderados, orientação bem marcada.
O governo, ao mais alto nível, logo afirmou que há “consonância perfeita” entre o Presidente da República e o Governo! Claro…que bem entendo esta afirmação…
Em tudo o que disse o Presidente? Que ideia! Só naquela parte em que Cavaco Silva apela para que o país se mobilize e ”não baixe os braços”.
Claro que o povo não baixa os braços. Levanta-os bem alto, para resistir às dificuldades da vida.
E, eu dou-lhes também o meu. Por princípio! Por solidariedade! Por dever! Para que o PS se cumpra!
E por cá, por Matosinhos, ainda vão continuar a acusar-me que só sei falar nos «coitadinhos» numa referência insultuosa para os mais desprotegidos e excluídos do sistema?
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
O Presidente, a riqueza de alguns, e a miséria de muitos
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6 comentários:
Sr. Presidente sei que tem recebido comentários insultuosos que o procuram afectar mas não se deixe intimidar com isso.
Força!
Não é uma andorinha que faz a Primavera.
O seu voo não pode ser interrompido pelos que lhe ficam muito atrás.
Faz bem em ignorar os insultos.
Boa, presidente.
Bom discurso, boa fluidez de raciocínio, leitura simples, agradável e fácil de entender. Cada vez aprecio mais os seus artigos.
Não baixe os braços, a não ser para malhar neles.
a narciso miranda, nada o afecta podem insultar porque ele é superioer a tudo
força presidente conte connosco
zé da xica
Narciso Miranda, li o seu texto e fiquei surpreendido. Então você está numa de "discurso politicamente correcto"? Que diabo, o que você disse é fácil dizer: afagar o pelo aos desgraçados dos reformados e aos pobres desempregados. Porra, assim também eu! E não sou político! A sério que esperava mais de si. Assim não vai lá. Esse tipo de conversa fácil "já deu o que tinha a dar". O discurso que se espera de alguém inteligente e com experiência, tem ir muito mais além do que aquilo que você foi. O caminho do seu discurso é um caminho cómodo. É uma pista de tartan. Você tem de trilhar caminhos mais difíceis, porque são os únicos que verdadeiramente definem os corredores de fundo. Será que consegue? Pelo "andar da carruagem" suspeito bem que não.
O anonimato protege decididamente os autores dos insultos e se bem que afectem serão por si completamente ultrapassáveis.
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