Foi há 35 anos! Por esta altura – início de Abril – os militares ultimavam os preparativos para a operação que haviam de desencadear na madrugada do dia 25.
Nas gerações mais jovens, poucos terão presente o que era, entre nós, a vida doutros tempos. Refiro-me a gerações contemporâneas. À época em que viveram pais e avós das gerações mais jovens. De uma forma ou de outra, todos já ouviram falar do “Antigo Regime”.
Era pela força, pelo medo, pela repressão e pelo terror que, os detentores do poder, impunham as suas Leis. E a sua ordem! Não vem ao caso, aqui e agora discuti-las. Impunham-nas, aplicavam-nas e, se fosse o caso – como muitas vezes o foi – não olhavam a meios para atingir os fins que ambicionavam: perseguição, prisão e eliminação de tudo (ou de todos) que não apoiassem ou discordassem, publicamente, dos seus métodos de agir e de impor os seus pontos de vista, de como a sociedade se devia comportar.
Com a imprensa controlada, a informação condicionada e o povo amedrontado, pela força das polícias e especialmente pela PIDE, conseguiram durante décadas uma paz podre, que a madrugada libertadora de Abril denunciou.
Afinal, aquela firmeza, aquela segurança, aquela sanha persecutória revelou-se de uma fragilidade e inutilidade confrangedora. Ruíram como baralho de cartas!
Foram muitos, durante o longo período da ditadura, os que lutaram contra tal estado de coisas, pagando com a privação dos seus direitos individuais e cívicos e que suportaram prisões arbitrárias e perseguições sociais e profissionais.
Quando todos juntaram as mãos, militares e povo, aconteceu o 25 de Abril. Aconteceu em 1974!
De então para cá, apesar dos progressos a todos os níveis - social, económico, cultural e político - algumas iniciativas protagonizadas por uns tantos – alguns mesmo beneficiários directos da revolução, têm procurado – consciente ou inconscientemente – repor, entre nós a “velha ordem”. A ordem deles, claro!
Não hesitam em imitar o comportamento dos antigos senhores do pensamento único, perseguindo, destruindo, ameaçando, tudo e todos os que pensam e agem de forma diferente.
Vamos sabendo destas coisas, pelas notícias que, a cada passo nos chegam de todo o lado. Também, infelizmente, nos nossos dias presenciamos, entre nós em Matosinhos, que há comportamentos preocupantes e desviantes da prática dos últimos 30 anos, no poder autárquico. Exemplos, não faltam!
Por vezes sou interpelado pelos cidadãos, que me interrogam, como é possível que alguns dos ocupantes do actual poder autárquico, que comigo colaboraram e que até iniciaram a sua actividade politica, no desempenho de cargos públicos, utilizem meios de coação, intimidação e desrespeito pelas mais elementares regras da convivência democrática, através de acções de poder aparentemente autoritário, que mais não são que a confissão pusilânime de o exercer.
Fragilidades humanas? Se forem, sempre são mais aceitáveis que uma falsa e errónea noção das regras do exercício do poder democrático.
Se há funcionários municipais que, em resultado de uma amizade que o tempo e as acções consolidaram, se “atrevem” a sentar-se comigo à mesa do café, são imediatamente apontados como “inimigos”, constituindo alvo a abater por parte do poder, transitório, instituído!
Chama-se a isto, meus caros conterrâneos, ignorar os princípios fundamentais da democracia e o respeito de opinião e expressão da sociedade em que vivemos.
Este tipo de comportamento não dignifica nem respeita as tradições do exercício do poder autárquico de Matosinhos. Antes pelo contrário, fortalece a determinação e a certeza de que os cidadãos de Matosinhos anseiam, incentivam e apoiam uma alternativa forte e credível, protagonizada por quem durante décadas os habituou a um exercício de poder rigoroso, nos princípios e nos valões da solidariedade, mas tolerante para com os adversários, como se exige a qualquer matosinhense de bem!
Como também não faz jus ao 25 de Abril, nem aos matosinhenses, não entender que quem discorda que o dinheiro pago pelos contribuintes seja gasto em coisas supérfluas e desmedidas, mas em investimentos e obras de interesse colectivo, não constitui sequer “delito de opinião”.
É antes, o reconhecimento de um direito e de um dever de quem tem Matosinhos Sempre no coração!
Podem os Matosinhenses ter a certeza de que os ventos de mudança e de esperança sopram cada vez com mais força.
E – tenho a certeza – ninguém, por mais ameaças e acções de carácter persecutório que desenvolva - conseguirá jamais travar a marcha do futuro que se avizinha.
O comboio arrancou. Não retrocede! Nem pára!
A próxima estação de desembarque, situa-se a sete meses de distância e, chama-se “ Juntos Vamos Retomar o Rumo”.
Juntos vamos conseguir!
Narciso Miranda
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