sábado, 11 de abril de 2009

É urgente retomar o rumo

Uma lei do regime Salazarista, concretamente o decreto-lei 2110, de 19 de Agosto de 1961, não me enganei, datada de 1961, serviu de base a um militante socialista em funções autárquicas, com cumplicidade óbvia, de outros militantes socialistas nas mesmas funções, para considerar a Associação “Narciso Miranda - Matosinhos Sempre”, como uma Associação clandestina, que colocou outdoors de propaganda política, também clandestinamente.

Não me enganei. É exactamente assim, exactamente como estou a escrever. 35 anos depois do 25 de Abril, ainda existem cidadãos que não perceberam o significado político, o sentido e a razão profunda, que levaram militares a restituir a liberdade e a democracia. Se os protagonistas deste episódio triste e lamentável não honraram nem honrarão os ideais de Abril, os outros que também se dizem socialistas, mas que porventura não percebem, não sabem o que é ser verdadeiramente socialista, actuam com uma conivência e um silêncio, não só ensurdecido como também aterrorizador.

Eles e elas não sabem, não percebem, porque não sentiram, o que era o regime totalitarista de Salazar. Eles e elas não sabem, não percebem, o que foi o papel da PIDE. Eles e elas não sabem, não percebem, o que foi viver-se 48 anos em ditadura. Eles e elas não sabem, porque não percebem o que foram as prisões de tantos homens e mulheres, que cometeram o “crime” de lutar pela liberdade e pela democracia, que ousaram criticar, manifestar opiniões diferentes, e que por isso, segundo os valores do Salazarismo e princípios da PIDE, pertenciam a organizações clandestinas e actuavam na clandestinidade.

Depois, vem a ideia de que fazer propaganda política, montar outdoors, exercer livremente o direito à opinião e ao contraditório, pode ser comparado a obras de construção civil. Como é possível o que está a acontecer em Matosinhos? A esta terra da liberdade e da democracia. Como é possível, que pessoas que nada fizeram, rigorosamente nada, quanto mais não seja pela sua idade, para devolver ao país e a Matosinhos o direito à diferença, à contestação, à crítica, se servem agora da luta de muitos, do sofrimento de muitos, para enaltecer princípios e valores totalitários, intolerantes e mesmo inspirados nos princípios e nas regras da ditadura.

A criatividade e a imaginação vão ao ponto de substituir o debate das questões relativas e de interesse mundial, que tem a ver com o “escaravelho na batata”, passando do que é outdoors, para uma obra de construção civil.

Matosinhos está a passar um período negro, por causa de alguns que ainda não perceberam o que é o estado da liberdade, da democracia, das causas, dos valores, dos princípios…

Durante alguns anos muita gente me alertava, na minha qualidade de dirigente do PS, de activíssimo militante do PS, mas sobretudo de socialista de alma e coração, que alguns apenas entravam para militantes do PS, sem perceber o que é a ideologia socialista, sem saber o que são os princípios orientadores do partido socialista, com o único objectivo de atingirem o poder. O PS, diziam-me muitos, era apenas, para esta gente, o instrumento para eles chegarem ao poder.

Nunca acreditei nesta tese, mas fui muitas vezes responsabilizado, e hoje novamente me responsabilizam, por ter sido eu, a abrir as portas do PS, a estes cidadãos que demonstram agora não saber o que é ser socialista, e pior que isso, que conseguem espezinhar a declaração de princípios e valores do meu partido.

Hoje sinto vergonha. Tenho vergonha. Sinto-me responsável pelas oportunidades que dei a gente que demonstra não ter maturidade suficiente para perceber questões demasiadamente importantes.

Para esclarecer dúvidas, transcreve-se a notificação da Comissão Nacional de Eleições: “Assunto: Participação da Associação “Narciso Miranda Matosinhos Sempre” contra a Câmara Municipal de Matosinhos por remoção de propaganda. Encarrega-me o Senhor Presidente da Comissão Nacional de Eleições de informar V.EXª que, nesta data, foi notificada a Câmara Municipal de Matosinhos para repor a propaganda da Associação “Narciso Miranda Matosinhos Sempre” relativa à participação em referência. Para conhecimento de V. EXª, junto remeto cópia da nota informativa, que traduz o entendimento desta Comissão sobre propaganda política e eleitoral e que acompanhou aquela notificação. Com os melhores cumprimentos.”

Mais palavras para quê?


Narciso Miranda

3 comentários:

Anónimo disse...

NÃO HÁ PALAVRAS PARA JUSTIFICAR ESTES ACTOS.

JÁ TIVE OPORTUNIDADE DE COMENTAR ISTO E AGORA, COM ESTA NOTIFICAÇÃO DA COMISSÃO NACIONAL DE ELEIÇÕES, ESPERO, PESSOALMENTE, QUE ATÉ SEI COMO AS COISAS DE FAZEM, QUE A CAMARA PONHA UM PONTO FINAL AO ASSUNTO.


EM FRENTE NARCISO..ATÉ Á VITÓRIA FINAL

Rui Oiveira e Costa disse...

Amigo Presidente:
É com muita alegria que vejo esta decisão da CNE, decisão que assenta naquilo que são os valores fundamentais do Estado de Direito Democrático.
Quanto aqueles a quem sempre deu a mão, na se arrependa, pois só os fracos lideres é que têm medo da sua sombra e impõem as suas ideias através das ameaças constantes, do despotismo, com gritos desorientados e com a consciência de que um cargo politico é suficiente para ameaçar a liberdade individual de cada um.
Essa é a prática dos fracos, daqueles que nem a sua própria casa conseguem mandar, daqueles que não conseguem orientar a sua vida, a não ser com conselheiros, tais como os "Horríficos Algozes" que mandaram assassinar Inês de Castro.
Presidente, Matosinhos exige-lhe que "Retome o Rumo", desta terra de Liberdade e Democracia
Um Abraço

Anónimo disse...

Caro Gulherme Pinto, não há sondagens da Domp que lhe possam valer. Falta-lhe capacidade de liderança e rigor na gestão.
Volta depressa Narciso.