O desencanto dos portugueses, pela política partidária acentua-se a cada dia.
A distância entre cúpulas dirigentes, e militantes é cada vez maior.
A separação entre partidos conhecidos, e cidadãos anónimos aumenta continuamente.
Cada vez mais, menos as pessoas se identificam com tricas, politiquices e mexericos.
Exemplos de oportunismo pessoal no seio partidário, atentam contra a credibilidade da política no seu todo. Isto é, comportamentos pessoais erróneos num partido – seja ele qual for – repercutem-se negativamente noutros e, por extensão, à sociedade.
É um cenário real, que só não vê quem não quer. Por todo o lado. Em todos os partidos.
O descrédito é indisfarçável e, tem, naturalmente, os seus responsáveis. Ou seja, quem os pratica, e quem permite – ou alimenta – tais práticas. Responsáveis, cujo grau de responsabilidade é potenciado pelos cargos que ocasionalmente exercem, preocupados com uma recondução que sentem cada vez mais longínqua ensaiam descolagens, fazem promessas que não cumprem e, insinuam impedimentos na esperança de se verem reeleitos. Acontece que – e este ponto é incontornável – quem escolhe os seus representantes é o povo. Os dirigentes partidários escolhem os candidatos. Pode parecer a mesma coisa, mas não é! Deste afastamento progressivo dos cidadãos, resultam fracturas cujos efeitos, a curto prazo, os seus promotores verão virados contra si. Descontentes, grupos de pessoas das mais diversas condições sociais, organizam-se em Associações, constituem-se em Movimentos e iniciam, eles mesmos, as acções de cidadania que, por definição caberiam aos partidos políticos.
É neste contexto que, Matosinhos assistiu já à fundação da “Associação Cívica Narciso Miranda Matosinhos Sempre” – da qual tenho a honra de ser patrono – e, Valongo, cidade vizinha, acaba de aplaudir a decisão da militante socialista, Maria José Azevedo, ao assumir, também ela, uma candidatura independente. Tal como eu, também Maria José Azevedo terá sido confrontada com desvios de rota intoleráveis. Tal como eu, também ela terá sentido o desconforto de sentir verdadeiras traições pessoais, de ver pessoas que foram de sua confiança a traírem-na na mínima oportunidade.
Por outro lado – e este é reverso da medalha – é a oportunidade de alguém mostrar o seu valor, e revelar as suas potencialidades - autênticas pedras preciosas neste mundo inóspito e conturbado da política partidária.
A jovem Ana Fernandes promissora e talentosa economista matosinhense que, no brilhante discurso da inauguração da sede da nossa Associação, se referiu de modo entusiasta ao que foi a política autárquica que liderei durante quase três décadas.
Foram tão firmes, foram tão sinceras as suas palavras e, tem sido tão coerente a sua intervenção cívica que, palavras que em 2001 me dirigiu – no âmbito de uma iniciativa em que como presidente tive oportunidade de ouvi-la – repetiu-as agora, com o mesmo ênfase, com o mesmo carinho e, com o mesmo significado de então. Só que, muito mais vibrante e entusiástica. Palavras que, encontraram eco noutras personalidades que, na oportunidade se me dirigiram. Ao General Alfredo Assunção – um símbolo do 25 de Abril – e ao meu amigo e poeta Rui Lage, igualmente o meu apreço e o meu reconhecimento pelas palavras encorajadoras que me dispensaram.
Tal como muitos matosinhenses, também estes ilustres cidadãos entendem que é necessário mudar o rumo!
Estes são apenas alguns exemplos de como é possível e desejável sustentar a intervenção política em causas, princípios e valores no pântano político que por cá se vai afirmando.
PS: O “Diário de Notícias” com uma notícia publicada na passada segunda-feira, provocou uma onda de especulações e gerou um ambiente torturante na nossa comunidade.
Narciso Miranda