Os homens do aparelho socialista esfregaram os olhos.
Entre incrédulos e confusos, notoriamente perturbados (há quem prefira “torturados”…) nem sabiam às primeiras horas de hoje como reagir a uma notícia que – aposto dobrado contra singelo – lhes traria tranquilidade, sossego e confiança no futuro. No futuro deles - entenda-se. Ou, no futuro dos cargos que ocupam temporariamente - esclareça-se.
Manifestações de júbilo e contentamento eram visíveis ali pelas imediações do edifício municipal. Testemunhas oculares afirmam ter visto, pelas janelas abertas nesta manhã de sol, algum rebuliço, enquanto outras afiançam ter ouvido do interior gritos de euforia e proclamações de vitória… futuros.
Não se confirmam, no entanto – estou em condições de poder adiantá-lo – insistentes rumores que davam como certa a procura de garrafas de espumante nos estabelecimentos das proximidades que seriam generosamente distribuídas a quem passasse ali pelo Jardim fronteiro ao edifício em questão. A espera, encetada por alguns, cedo se revelou inútil e despropositada. A euforia, cedo deu lugar à desilusão e a normalidade regressou rapidamente ao local.
Há relatos, todavia, de que – logo após os primeiros leitores terem dado o “alarme” – os escaparates das tabacarias foram positivamente assaltados por numerosos grupos de pessoas ávidas de conhecer outras passagens que sustentassem com o mínimo de credibilidade esta reviravolta na política autárquica localizada. Como que arrastado por esta onda – o DN viu, neste dia, as suas vendas subirem em flecha – também eu procurei na tabacaria do costume o respectivo. Dinheiro trocado, um olho no burro, outro no cigano, um olho no polícia outro no carro mal estacionado, ali estava mais um para adquiri-lo no quiosque próximo da esquina.
A vendedora, que não, o DN hoje levou sumiço, um jornal que afinal nem costuma ter grande procura, esgotou mesmo. E adiantou: “ não arrisque mais, meu senhor: em Matosinhos, esgotou mesmo”! Que se passara afinal?
Sócrates desistira dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo?
O ministro Pinho conseguira finalmente o fim da crise por decreto?
Dias Loureiro, conseguira recuperar dos lapsos de memória e contaria a verdade das negociatas e cambalachos que – é voz corrente – apadrinhou? Nada disso, meus senhores. A notícia vinha no circunspecto Diário de Notícias desta manhã de Fevereiro, início de semana, e logo na primeira página: o “PS pode apoiar Narciso em Viana”. E ainda: “Apoio socialista travaria candidatura independente a Matosinhos”. Abrindo o jornal na página indicada pode ler-se: “Narciso não exclui ser candidato em Viana” e, especulando um pouco, até que a “Candidatura a Matosinhos como independente pode não se concretizar”. Com estes títulos, subtítulos e uma prosa assente em declarações recolhidas por uma estação de rádio vianense – a Rádio Geice – procura o matutino lisboeta “tirar nabos da púcara” em relação a um assunto que nunca foi tabu por estas bandas.Com efeito, a candidatura independente de Narciso Miranda à Câmara de Matosinhos, nunca – depois de publicamente assumida – teve quaisquer hesitações ou qualquer espécie de recuo. Ou seja, a firmeza e determinação assumidas desde a primeira hora, mantém-se válidas e inalteráveis: Narciso, concorre por fora das hostes socialistas. Porquê? – Porque, é imperioso mudar o rumo! Simplesmente!
Heitor Ramos