quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Zacarias La Fuente

Zacarias La Fuente, tipografia “Saúde & Sá”, Av. Afonso Henriques, em Matosinhos. Quem não conhece?
A última vez que me encontrei com este grande Homem, este grande amigo, este grande cidadão, Zacarias La Fuente ainda estava perfeitamente seguro, lúcido e muito sereno, foi num encontro com outro grande amigo, figura de enorme carisma, Mário Soares.

O Zacarias, como nós carinhosamente o tratávamos, retirou da carteira e mostrou ao Mário Soares, um calendário no qual eu estava com ele. Um calendário já com marcas visíveis provocadas pelo desgaste do tempo. E o Zacarias disse: “Aqui estão as duas pessoas que mais admiro, os meus ídolos, as minhas referências”.
Nada de mais injusto, nada de mais irrelevante ouvi de um Homem de regras, de valores e de princípios. Ele, sim, o Zacarias, foi uma grande referência. Uma referência marcante. Uma referência na política. Uma referência na vida. Uma referência para a família. Uma verdadeira referência dos valores e dos sentimentos.
Quando lhe prestava a verdadeira e sentida homenagem, assisti à conversa de circunstância de uma ilustre matosinhense com o filho do Zacarias, outro grande matosinhense, figura de grande prestígio, que orgulha Matosinhos, o Prof. Dr. José Maria La Fuente. Fixei bem algumas das frases que ouvi. “Temos que salientar e valorizar tudo o que de bom ele fez. E foi muito, mesmo muito. É nossa obrigação prestar-lhe a homenagem que merece e viver as recordações daquilo que nos ia transmitindo com a sua prática e a sua forma de vida”.
De facto, Zacarias La Fuente era um Homem bom. Um Homem generoso, fraterno, amigo, sempre muito atento a tudo e a todos. Era um Homem sempre pronto a ajudar, sobretudo quem mais precisava.
Zacarias La Fuente era um Homem de família. Um Homem muito ligado aos valores da família. Era o grande elo, o grande foco gerador de atracção, da união, da solidariedade, da fraternidade de toda a família. E não, exclusivamente, da família que lhe era mais próxima. Não. Zacarias La Fuente era um Homem de um coração enorme, onde cabiam todos, sobretudo, os que mais carências enfrentavam.
Sempre que conversava com o seu filho, o Prof. Dr. José Maria La Fuente, um grande amigo, quando lhe fazia alguma referência mais positiva e mais elogiosa, ele tinha sempre a preocupação de desvalorizar, por completo, o que ouvia, dizendo: “Essas palavras mais elogiosas não me devem ser dirigidas a mim. O meu pai é que merece esses elogios e esse reconhecimento. Eu sou demasiadamente pequenino, comparado com os meus pais, a Isabel e o Zacarias. Eles, sim, os meus pais merecem todos os elogios, aqueles a quem eu tudo devo, a quem continuo a ter como a maior referência”.
O José Maria La Fuente tem razão. Mas tenho a certeza que os filhos dele já pensam a seu respeito exactamente o mesmo.
Ao despedir-me desse grande amigo, Zacarias La Fuente, ao prestar-lhe a mais sentida homenagem revivi um pouco a minha relação com esse casal, com a Isabel e o Zacarias. Uma relação intensamente vivida, durante quase quatro décadas. Uma relação profunda e de grande cumplicidade.
Sempre, e acima de tudo em momentos de maiores dificuldades, a primeira pessoa de quem me lembrava era do Zacarias. E o Zacarias estava sempre lá. Estava sempre no local certo, no momento certo. Para ajudar.
E ao fazê-lo, lembrei-me, também, dos meus pais. Há momentos, de facto, nas nossas vidas, em que a emoção toma conta de nós… E em que as palavras são demasiadamente pequenas para a grandiosidade de pessoas como este grande amigo de quem, agora, nos despedimos…

Narciso Miranda


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