O povo português anda desconfiado, tantas são as alegadas irregularidades praticadas por pessoas e entidades, que eram tidas por inquestionavelmente sérias e de inatacável reputação.
Então, o cidadão comum, sem pensar duas vezes, coloca o mesmo rótulo a todos aqueles, que, vivendo no mundo da alta finança e da política, são apontados pela comunicação social como potenciais prevaricadores.
Neste turbilhão de dúvidas e incertezas que parece engolir sem olhar a quem, até o Presidente da República sentiu necessidade de demarcar-se, em comunicado oficial, da borrasca que se abateu sobre o BPN.
A Assembleia da República (AR) vai criar mais uma Comissão de Inquérito, desta feita no âmbito do caso BPN. Aqui, a história repete-se mesmo – não são os historiadores que se repetem uns aos outros! Ainda mal refeita das conclusões inconclusivas do Inquérito Parlamentar ao caso BCP, eis que, na AR, uma nova Comissão se aparelha, visando outra instituição bancária.
De inquérito em inquérito, vai a AR enchendo o povo de descontentamento, acumulando desprestígio e, dando razão aos detractores dos políticos nacionais.
Adiantaria mesmo que, esta será mais uma missão completamente inútil.
Assento esta minha convicção em pressupostos razoáveis - falíveis, claro está - mas com elevada percentagem de probabilidades de acerto. Assim, esta percentagem me acompanhasse no Totoloto, ou Euromilhões!...
Em primeiro lugar, porque o procurador-geral nada dirá, manietado que está – e bem - pelo imperativo do sigilo bancário. Até porque, se dissesse, podia pôr a nu falhas próprias, ou do Banco... Depois porque Miguel Cadilhe vai dizer o que já disse, e mais não pode. Pode é aproveitar a ocasião para demonstrar a “asneira” do governo em não aceitar o seu plano de reestruturação para o BPN.
A seguir porque Dias Loureiro dirá provavelmente o que já disse em entrevista na RTP1, enquanto António Marta repetirá o que disse ao Expresso. Sem qualquer possibilidade de o Inquérito confirmar o que disse um e outro, pois só os dois estiveram presentes. Também, porque não é provável que Oliveira e Costa seja chamado a depor no Parlamento, como não será certo que a Comissão vá ouvi-lo na prisão. Poderão chamar o Informático do Banco Virtual. Apenas dirá que fez o que lhe mandaram fazer e, como já é conhecido o que lhe mandaram fazer, não virá daí qualquer novidade. Poderão ainda chamar os auditores. Os que encontrarem falhas, relatarão as falhas, os que não encontraram dirão que nada encontraram.
Mais tarde - é um clássico - meia dúzia de deputados aparecerão diariamente na televisão num patriótico esforço, a repisar ideias mil vezes repetidas, porque, a bem dizer, nada de novo conseguiram apurar. Entretanto ficaremos como o nosso triste destino: várias instituições atropelaram-se no mesmo processo, cada uma a falar para o seu canto e a perderem tempo umas com as outras.
E, no fim, a AR enviará ao Ministério Publico e ao Banco de Portugal as “conclusões” que eles próprios já tinham tirado, com outros meios.
Deixo, para reflexão a seguinte pergunta:
Quando a ausência do sentido do dever se faz sentir nas lideranças, como exigir que a sociedade, toda ela, se mova por princípios e não somente por estímulos materiais?
Que exemplo estamos a dar aos nossos filhos!
Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com
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quarta-feira, 26 de novembro de 2008
O BPN e o Inquérito Parlamentar
terça-feira, 25 de novembro de 2008
O Descrédito da Política
Todos os dias surgem na imprensa notícias que descredibilizam os políticos neste país. Longe vão os tempos em que os portugueses esperavam dos políticos eleitos a concretização dos anseios colectivos, traduzidos em justiça social, igualdade de oportunidades e distribuição equitativa da riqueza – sonho que acompanhou sucessivas gerações durante décadas.
Assumi naturalmente este objectivo, quando despertei para a política - eu e muitos camaradas meus. Era o tempo das calças à “boca-de-sino”, dos socos, das botas de saltos muito altos e grossos, dos cigarros “Provisórios” e “Definitivos”, dos gira- discos onde rodavam os “LP´s” e os “Singles” de vinil; do “Mundo de Aventuras”, do “Condor”, do “Cavaleiro Andante” e de tantos livros de banda desenhada que acompanharam a nossa meninice.
Lembro-me muito bem desses tempos. Mas houve também – e aqui lhes deixo a minha sincera homenagem - aqueles que, “...mesmo na noite mais escura, em tempo de servidão...” tiveram a coragem de lutar por uma sociedade mais justa e equilibrada. Alguns pagaram com a vida a ousadia de sonharem com um mundo melhor; outros sacrificaram por esta causa os melhores anos da sua vida.
Imbuídos de igual espírito, muitos portugueses aderiram a partidos políticos por entenderem que, organizados e unidos em torno de um projecto comum, seriam mais fortes, mais determinados, mais coesos, mais valentes.
Que a «a união faz a força» era um preceito que, muitos de nós tínhamos por adquirido. É certo que toda a união representa mais do que o somatório da força de cada elo da cadeia; poderia até dizer, de forma tosca, que a união de uma qualquer cadeia é igual à força dos elos da mesma, mais a força do conjunto.
Era assim o Partido Socialista! Ainda é assim.
São assim – e sempre foram – os militantes socialistas: gente honesta, generosa, esforçada, sacrificada, válida, entusiasta e disposta a lutar com coragem pela concretização dos seus ideais. Numa palavra, a cumprir os seus deveres de cidadania e militância activa! Assim eles sintam que, quem os representa cumpre igualmente os seu deveres...
E o que gostaríamos nós, os militantes de base, de os ver fazer?
Gostaríamos, por exemplo, que entendessem de uma vez por todas que a miséria dos nossos pobres, não sendo - como não é – causada pelas leis da natureza mas pelas nossas instituições, reconhecessem que grande é a culpa que lhes cabe, e nesta medida, corrigissem a rota que vem seguindo.
Gostaríamos, por exemplo, de, ao tomarmos conhecimento de casos de “peculato de uso”- denunciados aliás por responsáveis socialistas -, por parte de titulares de cargos públicos, ter a convicção de que, estes actos condenatórios e censuráveis não aconteciam entre nós, no seio da família socialista. E o que vemos afinal?
Vemos que, em matéria de “peculato de uso”, os outros não estão sozinhos.
Ainda há dias no Congresso Socialista o tal Congresso quase confidencial – poucos matosinhenses dele tiveram conhecimento, a fazer fé na escassez de notícias difundidas – alguns carros oficiais faziam fila nos parques de estacionamento adjacentes ao Pavilhão onde se desenrolava o evento!...
Claro que, tais viaturas não passaram despercebidas.
Os matosinhenses, os verdadeiros socialistas, conhecem-nos bem.
Aos carros, e aos passageiros!
Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com
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sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Ai, a distância que vai dos dirigentes aos militantes, dos eleitos aos eleitores!...
Não podem, mas se pudessem não resistiriam.
Liberdade, Democracia e Direitos humanos são valores que não são propriedade de nenhuma pessoa, de nenhum partido.
O direito de liberdade de expressão e de opinião estão na mira dos que, dizendo-se democratas e batendo no peito – ou erguendo a voz para reivindicar os pergaminhos da luta contra o autoritarismo – são estruturalmente ditadores.
Se tivessem oportunidade – e só não a terão jamais, se soubermos resistir, sem medo, mas com coragem - fariam o mesmo que Staline fez URSS, que Hitler fez na Alemanha e, que tantos ditadores fizeram por esses mundo.
Lutar pela cidadania, pela liberdade, pela dignidade, pelo bem-estar do nosso povo, pelo futuro dos nossos filhos é um imperativo categórico, a que nenhum de nós deve voltar as costas.
Em Democracia, não há lugar a perseguição por delito de opinião.
Não podemos perder a coragem de resistir aos aprendizes de ditadores, já que girando tudo á volta do Poder, tudo é luta pelo Poder. Pelo poder económico, político e social.
Muitos não recuam seja perante o que for para manter o Poder, que querem ilimitado, para continuarem a usufruir das prebendas que vão criando uns aos outros, afundando o Estado e prejudicando toda a comunidade.
Em Matosinhos, estes sinais são evidentes.
A “pena capital” por delito de opinião foi já sugerida por transitórios detentores de cargos partidários, naquele Congresso quase confidencial do PS, visando um histórico do partido ... e graças a quem, muitos destes, sem aquele eram hoje cidadãos perfeitamente ignorados pela sociedade!...
Desta vez, dirigentes do mesmo quilate, recusaram a participação do PS num debate promovido pela Rádio Clube de Matosinhos, a propósito do Constantino Nery, com o incrível argumento de que lá ia estar representada a Associação Cívica Narciso Miranda Matosinhos - Sempre!
Será por reconhecerem que esta Associação defende melhor os interesses dos militantes socialistas, e da comunidade matosinhense do que os dirigentes actuais? A conclusão parece óbvia.
Têm dúvidas? Pois, muitos cidadãos não as têm.
1 - Procurem nos Pescadores;
2 – Procurem nos Operários;
3 – Procurem nos Camionistas;
4 – Procurem nos Funcionários Públicos;
5 – Procurem nos Professores;
5 – Procurem nos Trabalhadores a Recibos Verdes;
6 – Procurem nas Donas de Casa que não têm dinheiro para as compras;
8 – Procurem nos Agentes da Polícia;
9 – Procurem nas Forças Armadas.
Atenção senhores (presumíveis) investigadores:
Consultem os restantes dez milhões de portugueses, para perceberem a distância a que o aparelho socialista se encontra da sua base eleitoral!
Heitor Ramos
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quarta-feira, 19 de novembro de 2008
O dia seguinte
Avolumam-se os sinais de descontentamento popular. Se dantes, eram ténues e negligenciáveis, agora são vincados e marcantes.
De tal forma que já se vê José Sócrates a tratar de inverter a marcha da bola de neve, que engrossa a cada dia. E, não são só os directamente descontentes a impulsioná-la...
A demonstrá-lo aí estão as declarações proferidas por António Costa, uma das figuras proeminentes do “socialismo moderno” – ou mesmo “pós – moderno” – que é para o que a política aparelhista tem feito resvalar o socialismo original proclamado pelos seus fundadores.
No recente programa da SIC “Quadratura do Círculo”, António Costa, saiu-se com esta:
“Parte importante do eleitorado do PS está em ruptura afectiva com o PS” devido ao processo de avaliação dos professores que tem sido muito contestado. E acrescenta este destacado membro do aparelho socialista que “não se pode desistir”, acrescentando ainda que é preciso “ resolver uma a uma todas estas dificuldades”. Haverá certamente muitas leituras a fazer destas confissões. Uma delas, porém, é verdadeiramente assassina.
Ninguém pode negar, que é uma voz de dentro do próprio poder, a abrir caminho à reversão de estratégias.
Declarações que conduziram o primeiro-ministro ainda que de forma ténue, demonstrando algum incómodo, a justificar o injustificável, quando instado para se pronunciar sobre o que disse o seu amigo do aparelho de Estado.
Poderá ficar a ideia de que, a iniciativa de António Costa - podendo ou não ser de sua autoria - faz parte de um plano de contingência, saído do gabinete de crise do PS. Plano que está obrigar Sócrates a olhar mais para o social e, a atenuar a arrogância com que normalmente respondia às questões mais polémicas.
Ainda não tínhamos esquecido os efeitos desta afirmação de António Costa, quando somos surpreendidos, ou talvez não, com as sugestões de António Vitorino propondo uma comissão de sábios para resolver a crise da Educação. Esta proposta de Vitorino corresponde, objectivamente, a uma crítica à orientação seguida.
Logo a seguir, vem a entrevista de Manuel Alegre com sinais de ruptura, com a direcção do PS, distanciamento do Governo e ameaça de criar um movimento cívico que poderá “matar” definitivamente a cada vez menor esperança de renovação da maioria absoluta.
António José Seguro, um dos melhores quadros da vida política e do Partido Socialista, serenamente vai fazendo o seu caminho. Muitos, mesmo muitos, vão acompanhando, muito atentamente, este militante socialista de grande carácter, de convicções e sobretudo um político orientado por valores e princípios.
Por cá ainda se vai falando do Congresso do PS Distrital, “ que foi virado para a guerra paroquial de Matosinhos” e agora a grande notícia é sustentada pela personalidade surpresa anunciada para o encerramento do Congresso. Quando foi conhecida essa personalidade, sentiu-se um “sururu” na sala, algumas dezenas de delegados saíram e, a montanha pariu um rato. É o PS distrital ao seu melhor nível, mostrando a capacidade, a inovação e a criatividade das modernas motivações de um socialismo burocrático que deixou toda a gente constrangida.
Há gente, muita gente, que se vai identificando com a mensagem que Alegre um dia transmitiu “Não me revejo nesta forma de fazer política.”. O Congresso Distrital do PS definitivamente projectou Matosinhos no Mundo e deu visibilidade aos dirigentes do aparelho e aos autarcas desta Terra de horizonte e mar.
Foi um espectáculo mediático e de repercussões internacionais, relativizando as notícias sobre as consequências da vitória de Obama na América.
Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com
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Quem semeia ventos...
“Isto não é violência, é só um caso isolado”.
Esta expressão, que muito bem poderia encaixar em alguns lances do último Sporting – Porto, foi utilizada pela senhora Ministra da Educação a propósito da “chuva de ovos” que caiu em Fafe obrigando-a a abandonar rapidamente o local onde se deslocara oficialmente.
Este episódio, que dias depois havia de repetir-se em Lisboa, de original, em matéria de vaia tem apenas os ovos, e é apenas mais um, na onda de contestação à política “socialista”. Outros ministros, incluindo o primeiro, também já provaram, não direi ovos - que estão caros - mas animosidade equivalente, nas suas deslocações a outras terras, também em missões ditas oficiais. Independentemente das razões, o caso ocorrido em Fafe demonstra a enorme diferença entre os dirigentes socialistas de outros tempos e os governantes actuais.
Mário Soares, na Marinha Grande aguentou.
Maria de Lurdes, em Fafe fugiu.
Aqui está, em duas linhas, condensada a diferença entre quem dirigia o PS no passado, e quem hoje o dirige. E, não adianta vir Sócrates apontar o dedo ao incumprimento dos sindicatos. Os professores entendem que é um imperativo de justiça desobedecer à lei das avaliações porque ela, a Lei, é arbitrária e injusta. Chama-se a isto desobediência civil. E foi isso que fizeram em determinadas circunstâncias Gandi, Luther King, Bertrand Russel e muitas das referências cívicas e culturais do nosso mundo. É ilegítimo não cumprir a lei - diz a senhora ministra - sem se aperceber de que está a ser redundante. Pois é, é ilegítimo não obedecer à senhora ministra, pois foi ela que fez a lei. Mas, pelos vistos terá mesmo de ser! Não adianta o recurso a fantasias quando todos os atingidos revelam a mesma rejeição.
Aqui, todos vêem o mesmo. E não é cada um a ver o que quer...
Como há dias no Porto – Sporting em que todos viram o mesmo jogo, mas todos viram jogo diferente. Viram o que quiseram ver e cegaram perante o que não queriam ver. No meio de tudo isto, e de tanta liberdade de visão, só o árbitro é que tinha de ver o jogo certo. O que alinhasse pela nossa vista, claro, e não pela vista do adversário.
Houve quem não visse nenhum pénalti contra o Sporting, mas houve quem visse três pénaltis contra o Porto e houve quem não visse nenhum pénalti contra o Porto, mas quem visse três pénaltis contra o Sporting. Houve quem visse pénalti por empurrão de Rui Patrício no Hulk, e houve quem visse um mero encosto carinhoso. Houve quem visse pénalti, por corte de Rolando com a mão e houve quem visse que o Rolando, no chão, nem podia ver a bola. Houve quem visse pénalti, por obstrução do Bruno Alves ao Abel, e houve quem visse um atropelamento do Bruno Alves pelo Abel. Houve quem visse que o Pedro Emanuel devia ser expulso antes de o ter sido e houve quem visse que o Pedro Emanuel nada fez que o justificasse.
Tal qual, como no Congresso Socialista de Matosinhos.
Houve quem entendesse que o congresso foi Notícia e houve quem entendesse que a Notícia foi a ausência do homem que os militantes socialistas de base não dispensam: Narciso Miranda.
Mas todos viram que o PS coxeia. E muito!
Heitor Ramos
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terça-feira, 18 de novembro de 2008
Esta é real!...
Faz lembrar a velhinha estória do Raul Solnado: ata-se uma guita à bala, dispara-se a bala ... depois puxa-se a guita!...
O primeiro-ministro esteve em Ponte de Lima a entregar computadores aos alunos do 1.º ciclo – dizem as notícias da imprensa.
Mas, depois de Sócrates ir embora, as crianças tiveram de devolver os Magalhães...
Como os computadores recolhidos ainda irão servir para mais umas sessões fotográficas, ninguém lá da escola sabe quando lhes serão reentregues ... porventura, muito solenemente, com muitas fotografias e com um ministro qualquer a oficiar o acto...
Lembram-se do famoso “Plano Tecnológico das Escolas”?
Era um quadro electrónico ao qual alguns “alunos” foram chamados e convidados a fazer uns rabiscos, exemplificando o seu potencial pedagógico.
Mais tarde, verificou-se que a sala fora inventada e que os alunos eram meros figurantes!...
Um enorme figurão, com enorme figuraça na realidade virtual é o que é!
Antes, eram os alunos; agora são os computadores.
O que virá a seguir?
Heitor Ramos
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Porque me identifico com as vozes discordantes.
Porque, tal como Manuel Alegre e muitos portugueses, entendo que o País não está bem.
Porque, julgo que a sublevação civil na Educação, as falhas na supervisão do Banco de Portugal, e até a falência de um Banco, não são bons motivos para renovar a esperança dos que vão dando sinais de cada vez acreditarem menos na política que tem caracterizado a acção do executivo
Porque, os problemas políticos nos Açores e Madeira e os agravos ao Presidente da República, longe de contribuírem para o clima de serenidade e concórdia requeridas agravam as relações, e afectam a cooperação entre portugueses.
Porque, há indícios de perturbador relacionamento, de compadrio, entre partes que deveriam dar o exemplo.
Porque, admitindo finalmente a existência de uma crise económica de consequências imprevisíveis, deveria a acção do governo pautar-se por uma política de aproximação entre os vários agentes da sociedade no sentido de ser mantida a tranquilidade e a coesão nacional.
Porque, ao contrário do que seria de esperar, a direcção do PS e o seu aparelho mais não têm feito do que exacerbar os conflitos, sendo o confronto na Educação cada vez mais duro e preocupante.
Porque, no Estatuto dos Açores envolveram-se em confronto desnecessário com o PR, cujos poderes constitucionais estão em causa. O mesmo Presidente – note-se – que, mais uma vez se colocou ao lado do Governo, agora para pedir tranquilidade às escolas e condenar os protestos estudantis.
E, muitas outras razões poderia aqui enumerar.
Concordo com Alegre quando diz que tem feito mais oposição ao PS do que a que tem feito o PSD, seja por estratégia, seja por manifesta incapacidade política da sua líder. Objectivamente, assim é.
Concordo com Alegre quando afirma que “…no passado, o partido era mais aberto, havia mais convicções, mais ideologia. As pessoas pensavam. Não tinham medo de pensar pela sua cabeça. Havia diferentes sensibilidades, diferentes correntes, ninguém tinha medo…”.
E ainda “…As pessoas também têm de aprender que a política se faz com rupturas, se faz com risco, se faz com ousadia! É uma coisa que me preocupa na nova geração: aqueles que vêm das juventudes são muito programados, são muito pendentes, fazem contas a tudo…”.
Algumas destas afirmações de Manuel Alegre, na entrevista da TSF e DN, com grande destaque, em todas as televisões, durante o fim-de-semana, poderão contribuir para que face ao historial de alguns dos “nossos” actuais dirigentes, distritais, concelhios e paroquiais, proponham, a sua exclusão de qualquer candidatura ou mesmo a sua expulsão do PS. Está o caríssimo leitor surpreendido? Ainda há pouco tempo o reeleito presidente da FDP, sentenciou que quem apoiar movimentos cívicos é excluído. Para desfazer dúvidas um coordenador de secção, confirmou esta tese, propondo a “pena capital” por delito de opinião.
É por isso que, o eleitorado começa a perceber o alcance da afirmação do João Teixeira Lopes ao considerar que “…o PS/Porto está a cavalgar uma onda de aparelhismo, clientelismo e seguimento absolutamente cego do Governo e de José Sócrates…” e ainda que a candidatura da Elisa Ferreira à Câmara do Porto, “…se surgir neste quadro, do aparelho, está absolutamente contaminada desde o início por esse lado clientelar, dos interesses, dos lobbies, da política medíocre. Neste caso, creio que é uma candidatura obviamente destinada ao fracasso.”
É para mim e para milhares de socialistas, que tudo deram a este partido, politicamente doloroso, constatar esta realidade e ler estas mensagens.
No caso de João Teixeira Lopes, estas, duríssimas considerações, poderão ser enquadradas no facto de se tratar de um quadro de oposição (convicto bloquista).
Não será tão fácil e muito menos compreensível, perceber-se como foi possível deixar degradar as relações do PS com um opositor do regime salazarista, fundador do Partido, grande lutador pelas liberdades e direitos individuais, como é o caso de Manuel Alegre.
Alegre está incomodado com este aparelho, e o PS, controlado por este aparelho, está incomodado com tudo e todos.
Até eu ando incomodado!
Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com
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quinta-feira, 13 de novembro de 2008
O Congresso Distrital do PS
Durante os últimos dias da semana passada, o Pavilhão de Desporto de Matosinhos não pôde ser utilizado, face à necessidade de fazer os preparativos para a realização, no sábado, do Congresso Distrital do Partido Socialista.
O movimento foi significativo, durante todo o dia de sexta-feira, mesas, cadeiras, palcos, material sonoro e outros equipamentos tecnologicamente modernos, foram chegando até ao local. Previa-se uma iniciativa politicamente forte e muito mediatizada. Os espaços para a comunicação social, televisões, rádios e jornais, foram preparados milimetricamente.
Todo o Congresso foi programado para projectar Matosinhos no País e no Mundo e dar protagonismo aos dirigentes e autarcas locais. Nada podia falhar. Afinal foi o último Congresso antes das próximas eleições autárquicas.
Até ao último momento foi tentada a presença do Secretário-geral. Não veio.
Sábado, esgotaram-se os jornais em Matosinhos, foi uma corrida louca ao encontro das notícias sobre o Congresso. Nada, rigorosamente nada.
A única notícia, considerada relevante, pelos órgãos de comunicação social, foi o anúncio da ausência, por falta de convite e consequente afastamento, de um dos mais destacados socialistas do norte do País, que teve a responsabilidade de liderar o P.S., Distrital, 4 mandatos consecutivos. Esta notícia que considerou a atitude obsessiva, intolerante, sectária e politicamente mesquinha, não pode deixar de comprometer também os que se remeteram a uma atitude de omissão ou silêncio cúmplice.
Ao ler toda a imprensa de Sábado e ao encontrar apenas a notícia do meu afastamento fiquei triste, muito triste, não por mim mas pelo meu P.S.. Fiquei também com muita pena, mesmo muita pena, pela forma confrangedora como “esta gente” trata o P.S. e pela sua visão redutora, afunilada e perversa da vida político-partidária.
No entanto esperava-se um grande debate, com intervenções marcantes, galvanizadoras, discursos vibrantes e debates profundos. Afinal tratava-se de um Congresso que daria o arranque para as autárquicas de 2009.
Previam-se sinais marcantes sobre as candidaturas autárquicas para os concelhos onde o P.S. deverá apresentar-se como alternativa ganhadora. Não seria surpresa, para ninguém, ouvirmos comentários, ou referências, ou mesmo citações, dos discursos de personalidades de dimensão nacional e sobretudo regional, como por exemplo: Mário de Almeida, Fernando Gomes, Alberto Martins, Francisco Assis, Elisa Ferreira, Manuela de Melo, Jorge Strecht, apenas para citar alguns.
Quando soubemos que neste Congresso estiveram, pelo menos, três governantes, um ministro e dois secretários de Estado (o ministro não era um qualquer ministro mas sim o número dois do Governo e do P.S.), ficámos expectantes à espera do impacto público das suas intervenções, e, também, dos ganhos para Matosinhos.
Ter o número dois do partido e do Governo a falar para o umbigo, não passaria pela cabeça de ninguém. É por isso, natural, que no Domingo os Matosinhenses tenham ficado presos aos telejornais, com os rádios nos ouvidos e os cafés, snack-bares e esplanadas, completamente esgotados com toda a gente a procurar, nos jornais, notícias do Congresso e de Matosinhos.
Olhos fixos no ecrãs, ouvidos a sintonizar os rádios, jornais folheados de uma ponta a outra e, nada, mesmo nada.
Mário de Almeida não teve motivação suficientemente forte para sair de Vila do Conde. Elisa Ferreira e Manuela de Melo não consideraram ter razões para vir a Matosinhos, digo, ao Congresso. Jorge Strecht, passou por lá, cumprimentou alguns e pensou “é mais aliciante ir até ao Douro”. Os outros, figuras respeitáveis, credíveis, com capacidade de afirmação, com pensamento, consideraram mais prudente, passarem lá, ou estarem lá, mas nada de se comprometerem. Nem uma palavra.
Por isso, as televisões, os rádios, os jornais, de Domingo, consideraram como notícias relevantes – o meu afastamento do Congresso - moção contra as portagens – o facto do candidato, minoritário, Pedro Baptista “surpreendentemente ter dobrado a votação”.
Sobre o Congresso, nada. Sobre discursos, nada; nem mesmo dos membros do Governo. Dos novos protagonistas, reeleitos ou eleitos, nada. Do facto do Congresso se ter realizado em Matosinhos, nada. Dos socialistas do aparelho de Matosinhos e dos autarcas de Matosinhos, nada. Nada de nada.
É natural, afinal nada aconteceu para além de algumas piruetas e atitudes que alguns consideraram politicamente repugnantes e nojentas.
Afinal o Congresso Distrital do P.S., não foi notícia, não tem história, não mobilizou ninguém, não motivou jornalistas. Foi um Congresso para as estatísticas, onde todo o espaço foi ocupado por terceiras, quartas ou quintas linhas e por isso tudo foi cinzento e demasiadamente medíocre para ser verdade.
O P.S. merece mais e melhor.
Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com
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Cadeias de interesses, ou esperteza saloia?
Quando uma empresa pretende fornecer serviços ou equipamento a um cliente e, em obediência ao exemplo bíblico que cita a mulher de César não pode fazê-lo, como procede?
Têm-se visto várias soluções, utilizando esquemas mais ou menos elaborados.
O que parece mais simples - não sei é, se será o mais comum - é efectuar o negócio por interposta empresa.
Surgem assim, diria que, para assuntos fiscais, a entidade vendedora e a entidade compradora. A que intermediou – se existiu – sumiu, sem deixar rasto.
Ou então deixou mesmo rasto, seja por não haver interesse em apagá-lo, seja por não ter sido possível eliminá-lo. É o «gato escondido com rabo de fora», como se sabe. O que, não esconde necessariamente acto ou acção condenável. São situações comuns nas relações entre os portugueses – e esta, não é novidade para ninguém.
E, quando, a questão da mulher de César se coloca apenas em parecer sê-lo - sendo-o de facto - o melhor e mais acertado é, meter-se no saco a viola, se esta, já à porta vinha assomando. Então, em tratando-se de entidades privadas, é que é. Cada uma faz o que pode, e como pode – é sabido também, e ninguém – aparentemente – tem nada com isso. O pior é quando ela, a tal mulher, quer apenas parecer séria, o que pode até, em alguns casos, muito bem acontecer...
E, se tais negócios a três, fossem praticados por, por exemplo, detentores de cargos em Instituições Públicas? Claro que lá vinha a omnipresente mulher de César a meter o bedelho. É aqui que, homem prevenido vale por dois. Ou mesmo por três! Cauteloso, homem prevenido, nestas circunstâncias, não arrisca negócio a dois. A três, a coisa funciona melhor – pensa.
Surge então outra faceta dos protagonistas, e que ainda não a tinha trazido à liça. Chama-se Ingenuidade.
O maior perigo que corre o ingénuo – já Almada Negreiros o referia – é o de querer ser esperto. São os ingénuos – continua Almada Negreiros - os primeiros a ignorar a força criadora da ingenuidade, e na ânsia de crescer compram vantagens imediatas ao preço da sua própria ingenuidade.
Bem haja o povo que encontrou para o seu idioma esta denunciante expressão da pessoa que é vítima de si mesma: a esperteza saloia.
Cadeias entrelaçadas, silenciosamente, circulam entre nós.
Arrancam, aceleram e estacionam, reguladas por equipamento de semaforização em constante renovação. Uma nova era do tráfego rodoviário, em Matosinhos? – perguntará o leitor?
Nada disso. O Código, esse é o mesmo. De Melgaço a Albufeira, de Campo Maior a Cabo da Roca, de Matosinhos a Famalicão! Enigmático o texto? O Aleixo explica:
“Nas quadras que a gente lê,
quase sempre o mais bonito
está guardado p´ra quem lê
o que lá não está escrito”.
Querendo Deus, hei-de voltar ao assunto, pois tão cedo não me apetece largá-lo!
Heitor Ramos.
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Será que houve mesmo Congresso?
Estava marcado, para este Sábado, o Congresso Distrital do Partido Socialista, no Pavilhão Desportivo de Matosinhos. À hora certa, com o espaço previamente reservado, lá estavam as cadeiras alinhadas, as mesas ordenadas, os microfones instalados, e o palco montado.
Esperavam-se debates interessantes, intervenções marcantes, discursos vibrantes. Afinal, tratava-se do congresso da maior distrital do P.S..
É natural a importância de um congresso de uma Instituição do Porto que afinal foi marcado, também, para Matosinhos ser notícia.
Do que por ali fosse discutido, analisado, proposto e votado esperavam-se naturalmente notícias. Noticias “qualificadoras de Matosinhos”.
Sábado de manhã, dia do congresso, de notícias nada. Nada de novo. Apenas como nota relevante a notícia do afastamento, por falta de convite, de Narciso Miranda que foi, durante quatro mandatos, o líder Socialista do Distrito do Porto. A sua ausência, no congresso em Matosinhos, onde foi Presidente de Câmara 26 anos, era a notícia. A única notícia.
Afinal, nesse dia, a única notícia credora de nota foi, repito, o processo de afastamento do Narciso Miranda por intolerância sectária, obsessão, receio do confronto de opinião, medo da sua presença num espaço onde se devia respirar tolerância, solidariedade, pluralidade, valores e princípios. O medo conduziu à condenação por delito de opinião.
Essa notícia, preocupante e relevante, já arrepiava pelos métodos estalinistas dos responsáveis e pelas, também, arrepiantes omissões e silêncios cúmplices.
Do congresso nada. Rigorosamente nada.
Por isso, segundo informações, atraídos pela curiosidade, alguns mais espevitados cidadãos, passaram pelo dito Pavilhão.
Apenas se aperceberam de alguns carros oficiais, uns da autarquia, outros do Governo e muitos outros de cidadãos anónimos. Afinal quando ali se realizam jogos, especialmente de Basquete, voleibol e jantares ou almoços, há sempre gente que sai ou entra conforme as motivações.
Cresce a dúvida se havia ou não havia congresso.
Corria uma notícia de boca em boca: “Está cá um Ministro”, “vem cá um Ministro”, “é o número dois do Governo e do Partido”, “vem cá dar uma ajuda, aos protagonistas do P.S. do Porto e aos autarcas do P.S. de Matosinhos”.
Aí estão, iniludíveis, alguns sinais de que, talvez, o congresso se realizasse. Todavia, estes, não são os únicos. Também o parque automóvel revelava a presença de titulares de cargos. Cresciam as dúvidas: a presença de titulares de cargos públicos confirmava que lá dentro decorria alguma coisa. O que seria? Crescia a curiosidade…
Resolvi, nessa tarde de Sábado, dar um passeio e acabei tomando café numa esplanada retemperadora em Vila do Conde. Meditando nas causas e nos seus efeitos aí encontrei o exemplo de como se requalificam as zonas urbanas, a orla marítima e se constroem equipamentos para melhorar as condições de vida dos cidadãos.
Grande exemplo de um projecto verdadeiramente Socialista e de uma visão estratégica do Socialista Mário de Almeida.
Coincidência das coincidências. Na mesa ao lado, o próprio em pessoa. Àquela hora o congresso em Matosinhos deveria, ou poderia, “fervilhar de emoção”. Atirei, a matar: “Por aqui Mário? Julgava-te em Matosinhos!” Que não - disse ele. “Estou aqui bem, a trabalhar!” Compreende-se. Se lá tivesse ido poderia ser menorizado ou até esquecido, fruto destes tempos modernistas e deste P.S. burocrático, frio, calculista e sem memória.
Percebi bem o alcance da mensagem enigmática de Mário de Almeida.
Fiquei inquieto, irrequieto e cheio de curiosidade. Por isso, esperei por Domingo. Vi todas as notícias na televisão, ouvi todas as rádios, li todos os jornais. Pensava eu: se de facto ouve congresso, do meu Partido, do P.S., na minha terra de coração, em Matosinhos, termos notícias. Notícias do P.S. e notícias de Matosinhos.
Contava com notícias sobre a presença e ou uma mensagem galvanizadora do congresso de incentivo à pré-candidata, Elisa Ferreira, à Câmara do Porto. Pensava encontrar notícias salientando uma mensagem, uma nota, uma citação, de discursos importantes, de personalidades importantes da vida política e relevantes para o P.S., como Alberto Martins, Fernando Gomes, Francisco Assis, Jorge Strecht, entre outros. Vi, ouvi, li toda a comunicação social. Nada, mesmo nada, nem das figuras destacadas, nem dos cinzentos novos protagonistas. Nada.
Se houve, de facto, congresso, ou foi à porta fechada ou foi tudo confidencial.
Nem a mais leve referência a algum discurso, nem a mais curta citação de algum dirigente, autarca, deputado, ou equiparado!
Neste Domingo apenas notícias sobre o sectário afastamento de Narciso Miranda; uma decisão contra as portagens em estradas que saem ou atravessam Matosinhos e que um dos candidatos, Pedro Baptista, surpreendentemente dobrou a votação. Nada mais. Nem mais uma notícia sobre o congresso que afinal se realizou mesmo.
Não puderam foi deliciar-se com as piruetas de uns tantos que, talvez tudo isto explique a afirmação que hoje li num jornal de referência:
”Eles querem é tacho. Provavelmente, esta é a frase mais ouvida em Portugal, quando se pede aos cidadãos que exprimam o que sentem pelos políticos que os representam. Será uma caricatura, mas não deixa de ser preocupante. Pelo que revela de ruptura entre uns e outros e pela resignação que a sentença também encerra.”,JN.
Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com
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quinta-feira, 6 de novembro de 2008
“Magalhães e Leixões”
Desta vez navegaram à vista, manobrando velas e leme com a habilidade que lhes resta. Sedentos de protagonismo, ignoram que a glória – se a alcançarem – será efémera, como efémeras são todas as glórias.
Confundem informação com sabedoria, interesse com desejo, imagem com visão, alucinação com imaginação. Num tempo em que se consome fiado e se paga atrasado, para uns tudo corre pelo melhor – são os optimistas incansáveis; para outros, tudo corre pelo pior – e não são os pessimistas empedernidos. O que está a dar – conclui-se - é reclamar razão para inovar, álibi para limpar e galões para continuar.
Coincidência, apenas no espaço temporal: a diferença cifra-se em alguns dias apenas. Foi assim:
Ministros portugueses, no continente americano discursaram.
Dirigentes desportivos e responsáveis autárquicos, no continente europeu viajaram.
Um, o primeiro, parecia o Director de Marketing da empresa!
Outro, convoca equipa, e saca do banco um surpreendente reforço. Bem visto: o efeito surpresa pode, como se sabe, ser determinante!
Durante mais de cinco minutos, Sócrates apresentou aos atónitos companheiros da Cimeira o Magalhães o «primeiro grande computador ibero-americano». Português, europeu, ibero, americano, global, universal?
Pouco importa. «É uma espécie de Tintim: para ser usado dos 7 aos 77 anos» - esclareceu.
Os tintins dele. Nem o Tintim, nem o povo mereciam tanto!
Talentoso, bem poderá vender uma nova maioria ao povo português... sobretudo agora, que já lhe passou o Tratado Europeu como possível ponto alto da sua brilhante carreira política.
Noutro ponto do globo, durante algumas horas, o Mercado de Matosinhos assistiu eufórico à presença dos jogadores, que há pouco tinham ido ao Dragão dobrar o todo poderoso FCP.
Populismo este de aproveitar a excelente carreira que os briosos jogadores do Leixões vêm percorrendo na “Liga Sagres”, levando a comitiva, para mais reforçada, ao Mercado Municipal. Ainda se fosse só a prata da casa! Claro que o efeito seria outro - menos implacável na denúncia da intenção que os lá conduziu...
E, levando cachecóis para, na circunstância, oferecer a vendedores e clientes.
Não consta que no bornal, habitualmente farto daqueles responsáveis, constasse algum Magalhães. Nem que na comitiva houvesse quem em capacidade de promoção do produto, do primeiro se aproximasse...
Diz quem viu, que, foi espontânea a adesão dos circunstantes aos cachecóis oferecidos. Pudera! Numa época em que ninguém dá nada a ninguém, não é que os cachecóis viessem mesmo a calhar – afinal, no Estádio do Mar, em dia de jogo é que a dádiva se justificava – mas, que diabo, sempre era uma oferta, ainda por cima com as cores do clube do coração!...
De aplausos, ou manifestações de simpatia pelas suas práticas, aos visitantes que, acompanhando o grupo excursionista, não integram a equipa no relvado é, que não reza a história.
Ingratos! Então, não sabiam que foi para isso mesmo que eles lá foram?
Consta que, no regresso, murmuravam entre si:
“Não vão mais cachecóis para aquelas bancas”. Ou bandas, tanto faz!
Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com
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terça-feira, 4 de novembro de 2008
O Orçamento.
E você acredita nos “Orçamentistas”?
Não será verdade que, a avaliação de um governo é feita não pelo orçamento que apresenta, mas sim pelo resultado das suas políticas?
Não será claro, que os portugueses muito simplesmente se interroguem se no fim desta legislatura estaremos melhor ou pior que estávamos quando este governo iniciou funções?
O quadro mais importante do Orçamento, apresenta somas erradas: os valores da Receita e da Despesa não batem certo.
Erro do sistema informático, falta de jeito para trabalhar com o “Excel”, deficiência na “Pen”, ou, tudo isto e mais alguma coisa? É certo que por vezes compram-se nas lojas chinesas algumas “Penes” que não funcionam muito bem. E – sejamos justos – pode até ter acontecido que, numa de poupança, o ministro tenha lá comprado a sua...
Aquele Quadro (Quadro IV.1 pág. 119 do Relatório) por ser fundamental para a compreensão do Orçamento, significa a maior falta de respeito jamais vista pelos cidadãos. Critérios estatísticos ou contabilísticos, nomeadamente eventuais transferências entre sectores da Administração Pública não o justificam.
Comparar sérias não comparáveis, para obter diminuições grosseiras, não explicadas, do peso dos impostos e o peso da despesa pública é objectivamente querer enganar-nos da forma mais primária e boçal.
A manipulação que o ministro faz dos números é incompreensível.
Um exemplo: a acentuada descida da despesa com pessoal, advém da passagem do pessoal não docente das escolas, para a responsabilidade das autarquias, que o governo quer a todo o custo implementar.
São cerca de 30 000 funcionários. É evidente que o pessoal continuará a dar despesa, só que não figura em “despesas com pessoal” no Orçamento.
E, para que a mensagem passe – como convém – temos que o primeiro ministro garante que as pequenas empresas, mercê da garantia dos milhões, já podem ir aos Bancos pedir dinheiro emprestado. O que até podia ser, desde que os bancos deixassem de considerar a taxa de esforço e a capacidade de endividamento de pedintes...
Só que, o pior, ainda está para vir. Repetir a dose por mais quatro anos, parece ser a nossa sina. A menos que, algo de significativo aconteça entretanto.
Claro que o cidadão farto de ser enganado, sugado e abandonado pelos políticos já nem reage. Ainda ri quando lhe dizem que aquelas contas de somar estão erradas. Mas o sorriso sai-lhe amarelo e frouxo ao perceber que é de si mesmo que está a rir...
E, quanto a Orçamento do Estado, tem uma vaga ideia de que já os ouviu discutir isso lá pelo Parlamento ... quando muda de canal, na procura de alguma coisa que se veja, sem azia! E pensa até, que mesmo que lá pelo ministério das finanças alguém aprendesse a trabalhar com o “Excel” e tivesse apresentado um orçamento com as contas todas bem feitas, ainda assim, não se sentiria melhor.
Portanto, para o povo, se as contas não estão certas, escusam de se incomodar...
Heitor Ramos
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segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Populismo e populistas
Os portugueses esfregaram os olhos.
O primeiro-ministro a realizar uma campanha de vendas de um computador privado numa Cimeira Internacional de Chefes de Estado? Aquilo não parecia normal. As pessoas interrogam-se e com razão: afinal não é incompatível o desempenho simultâneo das funções de Primeiro-ministro e Delegado Comercial de Vendas? Não é, pelos vistos! Golpe de mestre? Talento, imaginação, habilidade, ou simples estratégia comercial?
Será que aquele número perpetrado por Hugo Chavez, ao deixar o Magalhães cair ao chão, para que a plateia visse que era um computador inquebrável, era apenas o número avançado de uma simples estratégia de vendas, a que Sócrates, agora, deu continuidade?
Quaisquer que fossem as circunstâncias em que um primeiro-ministro, nesta qualidade, procurasse promover comercialmente um produto, seriam sempre de injustificado enquadramento e, duvidosa aceitação social.
Mas, se tivermos em conta a situação em que o acto decorreu – nem mais, nem menos que a cimeira ibero-americana - não se exagera se se disser tratar-se de um Hino ao populismo moderno e dos nossos tempos. Se se estivesse na Europa, numa qualquer cimeira, ninguém acreditaria que seria possível aquela acção. É que a Europa, é a Europa.
Claro que Sócrates não está sozinho nesta cruzada populista. Não podemos esquecer que aquela intervenção teve a ornamentá-la alguns sorrisos complacentemente afáveis! Sinal de que o populismo ministerial começa a fazer escola? Talvez!
Imagine-se que esta acção e este discurso, tinham sido protagonizados, por exemplo, pelo conhecido ex Primeiro-ministro Santana Lopes?
Como reagiriam, os nossos comentadores, cronistas, televisões, rádios e jornais? Fica esta reflexão para os criativos e os imaginativos.
Por mim, como socialista convicto, não me senti muito bem neste mar de ondas populistas.
Em Matosinhos, pelo menos, o efeito já se sentiu.
Foi há dias quando a SAD do Leixões resolveu, para surpresa de todos, levar a sua equipa de futebol, reforçada com o presidente da Câmara, ao Mercado de Matosinhos!
Deu-se o caso que, aproveitando a onda de entusiasmo resultante da excelente carreira do Leixões na Primeira Liga, quiseram, os responsáveis desportivos e autárquicos, “partilhar com o povo” a glória do momento que passa. Num gesto simbólico de ligação às bases, quiseram marcar a sua passagem pelo Mercado, carregando cachecóis, e outros adereços comemorativos da conjuntura gloriosa do Leixões! E, magnânimos, oferecê-las ao povo. Claro que o povo aderiu à iniciativa. Tanto que, aquelas duzentas unidades não chegaram para as encomendas. E esta – diz quem viu – terá sido a única nota negativa da operação.
Se por lá passasse, por exemplo, o MRPP, a AOC, a LCI ou outras formações e ex-formações partidárias, todos teriam “clientes” para os brindes! E talvez também esgotassem a “mercadoria”. Só que estávamos todos a passar pela vergonha de nos acusarem de actos populistas.
Claro que os leixonenses, sócios e apoiantes, bem merecem estes e outros brindes que poderão ser entregues em locais próprios e adequados.
Aos espectadores que se deslocam ao Mar, na compra dos seus bilhetes de ingresso. Ali sim! Era o momento, e o sítio certo!
Actos de populismo “moderno”, disfarçado e dos novos tempos!
Narciso Miranda
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sábado, 1 de novembro de 2008
Não havia necessidade!…
O discurso do líder, na circunstância, nem vinha a propósito.
É que aquela reunião tinha alguma solenidade.
O ar algo surpreendido dos presentes contrastava com a ligeireza da intervenção de Sócrates.
Uma situação que até podia ser criada por um comediante. Mas, não!
Era o homem que exerce o cargo de primeiro-ministro de Portugal, acumulando estas, com as funções de líder do PS e, confundindo ambas, com as intenções do vendedor de banha da cobra.
Era a promoção, fora de tempo (e de lugar) de um computador supostamente português, Magalhães de sua graça, um computador para todos, dos 7 aos 77 anos, nem ele, nem os assessores o dispensam, blá, blá, blá…
Nem os portugueses em geral, nem os militantes do PS em particular, merecem uma liderança assim.
Mas, “isto” é o PS no seu melhor.
Esta é a direcção que progressivamente vai afastando, do seio do partido os militantes, e das urnas os eleitores.
Candidaturas independentes, fora do quadro partidário são, no actual panorama, muito mais que uma opção.
São a única solução democrática e justa.
Heitor Ramos
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Movimentos de Cidadania
Mais uma vez a abstenção foi a nota dominante nas eleições internas do PS para as Distritais. No distrito do Porto, dois em cada três militantes, optaram por não votar. O facto de se apresentarem três candidatos e da forte mobilização que o aparelho fez, era expectável uma maior participação. Não, isso não aconteceu. Na verdade a esmagadora maioria demonstrou falta de motivação e/ou até sem interesse relevante votar. Bem os compreendo. Eu próprio que recebi treze mensagens de apelo ao voto não tive a força de vontade, suficientemente forte, para gastar uns minutos e votar.
Claro que como em tudo há excepções. Neste caso a excepção aconteceu na secção do PS em Matosinhos, onde a votação foi expressiva, sabendo-se que isso se deve à forma de mobilização do seu secretário coordenador e Presidente da Junta.
Como já tive oportunidade de salientar em artigo que escrevi “…Tamanhos índices de abstenção constituem inegável preocupação de quem pensa que a democracia é tanto mais forte e, está tanto mais consolidada, quanto maior for a participação activa da população nos seus actos mais relevantes.
Estamos perante um problema politicamente complexo. Um problema de participação. Um problema de exercício de cidadania.
A descrença na classe política já não se consegue escamotear. É nítida, actual e preocupante.
A razão deste clima é clara: nada se tem feito para mudar este cenário. A preocupação a tal respeito manifestada pelo senhor Presidente da República consola, mas...não resolve!
Para se entender a falta de participação na vida activa do País, temos de referir inevitavelmente o ambiente preocupante que se vive na sociedade portuguesa, como o aumento da pobreza, da criminalidade, o desemprego e as crescentes dificuldades das famílias. Estas razões são fortes, mas não justificam tudo.
Contudo, a esperança não morre. A democracia possui mecanismos capazes de superar as contrariedades políticas, que afastam os cidadãos da causa pública.
Não dou nenhuma novidade se disser que as pessoas estão fartas dos aparelhos partidários, e, também, de dirigentes políticos que mais parecem empenhados em manter-se nos cargos do que em servir a comunidade que os escolheu para seus representantes.
Felizmente que para os órgãos autárquicos, de nível municipal, o monopólio partidário já acabou.
Hoje, há alternativas válidas, credíveis e potencialmente vencedoras.
Já temos exemplos confirmados entre nós. Falo agora de Alvito, Alcanena, Redondo e Sabrosa como casos das últimas eleições autárquicas que, libertando-se dos aparelhos, algumas vezes, asfixiantes, se apresentaram com programas próprios tendo merecido, dos seus eleitores, plena aprovação.
Os resultados não deixaram margem para dúvidas. Os independentes ganharam.
Em Matosinhos é irreversível o movimento cívico, criado para fazer face à crescente onda de desconfiança política, de afastamento dos cidadãos e da perda progressiva de protagonismo. Nasceu há semanas, Chama-se “Matosinhos Sempre”, é autónomo, independente, com personalidade jurídica, constituído por cidadãos, na maioria militantes do PS e também de outros partidos, mulheres, homens, quadros e jovens, que desta forma querem contribuir para valorizar a cidadania. O Militar de Abril, General Alfredo Assunção, preside a Assembleia Geral e eu tenho a honra de liderar a sua Direcção.
Esta nova Associação Cívica terá, inevitavelmente, um papel relevante nas próximas eleições autárquicas com o objectivo de Retomar o Rumo em Matosinhos.”
Narciso Miranda
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