quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Quem semeia ventos...

“Isto não é violência, é só um caso isolado”.
Esta expressão, que muito bem poderia encaixar em alguns lances do último Sporting – Porto, foi utilizada pela senhora Ministra da Educação a propósito da “chuva de ovos” que caiu em Fafe obrigando-a a abandonar rapidamente o local onde se deslocara oficialmente.
Este episódio, que dias depois havia de repetir-se em Lisboa, de original, em matéria de vaia tem apenas os ovos, e é apenas mais um, na onda de contestação à política “socialista”. Outros ministros, incluindo o primeiro, também já provaram, não direi ovos - que estão caros - mas animosidade equivalente, nas suas deslocações a outras terras, também em missões ditas oficiais. Independentemente das razões, o caso ocorrido em Fafe demonstra a enorme diferença entre os dirigentes socialistas de outros tempos e os governantes actuais.
Mário Soares, na Marinha Grande aguentou.
Maria de Lurdes, em Fafe fugiu.
Aqui está, em duas linhas, condensada a diferença entre quem dirigia o PS no passado, e quem hoje o dirige. E, não adianta vir Sócrates apontar o dedo ao incumprimento dos sindicatos. Os professores entendem que é um imperativo de justiça desobedecer à lei das avaliações porque ela, a Lei, é arbitrária e injusta. Chama-se a isto desobediência civil. E foi isso que fizeram em determinadas circunstâncias Gandi, Luther King, Bertrand Russel e muitas das referências cívicas e culturais do nosso mundo. É ilegítimo não cumprir a lei - diz a senhora ministra - sem se aperceber de que está a ser redundante. Pois é, é ilegítimo não obedecer à senhora ministra, pois foi ela que fez a lei. Mas, pelos vistos terá mesmo de ser! Não adianta o recurso a fantasias quando todos os atingidos revelam a mesma rejeição.
Aqui, todos vêem o mesmo. E não é cada um a ver o que quer...
Como há dias no Porto – Sporting em que todos viram o mesmo jogo, mas todos viram jogo diferente. Viram o que quiseram ver e cegaram perante o que não queriam ver. No meio de tudo isto, e de tanta liberdade de visão, só o árbitro é que tinha de ver o jogo certo. O que alinhasse pela nossa vista, claro, e não pela vista do adversário.
Houve quem não visse nenhum pénalti contra o Sporting, mas houve quem visse três pénaltis contra o Porto e houve quem não visse nenhum pénalti contra o Porto, mas quem visse três pénaltis contra o Sporting. Houve quem visse pénalti por empurrão de Rui Patrício no Hulk, e houve quem visse um mero encosto carinhoso. Houve quem visse pénalti, por corte de Rolando com a mão e houve quem visse que o Rolando, no chão, nem podia ver a bola. Houve quem visse pénalti, por obstrução do Bruno Alves ao Abel, e houve quem visse um atropelamento do Bruno Alves pelo Abel. Houve quem visse que o Pedro Emanuel devia ser expulso antes de o ter sido e houve quem visse que o Pedro Emanuel nada fez que o justificasse.
Tal qual, como no Congresso Socialista de Matosinhos.
Houve quem entendesse que o congresso foi Notícia e houve quem entendesse que a Notícia foi a ausência do homem que os militantes socialistas de base não dispensam: Narciso Miranda.
Mas todos viram que o PS coxeia. E muito!

Heitor Ramos

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