quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Da prática à teoria

O destacado dirigente, membro do aparelho PS, Vitalino Canas, a propósito da retirada de confiança política por parte da Comissão Concelhia do Bloco de Esquerda a Sá Fernandes – vereador independente da Câmara Municipal de Lisboa - viu ali uma atitude de “intolerância, própria de forças políticas com pensamento único”.
E acrescentou: “Estamos perante uma clara perseguição política e uma purga feita contra alguém cujo delito foi ter uma posição diferente”, classificando atitudes destas como “práticas anti-democráticas” intoleráveis no regime em que vivemos.
Tenho de reconhecer que no plano dos princípios e do rigor da vida pública, tais observações fazem pleno sentido. Afinal, o vereador Sá Fernandes comete um “delito”, ao colocar os interesses da sua cidade acima da estratégia partidária. Logo, legitimidade não falta ao porta-voz socialista para estes reparos.
Acontece que é necessário conjugar o que se afirma com o que se faz. É natural que o Dr. Vitalino Canas seja coerente e, consequentemente a autoridade política e moral não se pode colocar.
Acontece que a prática denunciada é exactamente a mesma que alguns membros do aparelho PS fazem dentro do seu próprio partido.
Para não ir mais longe no tempo, foi a 8 de Novembro, nem no espaço, foi em Matosinhos, que no Congresso Socialista a prática de afastamento por delito de opinião foi seguida.
Conluiados, dirigentes regionais e locais, afastaram da participação activa deste Congresso um militante com passado político, com longa actividade na estrutura dirigente do partido.
A cegueira política, a intolerância e a visão paroquial de alguns militantes do aparelho levaram-nos a excluir da participação activa um militante que durante quatro mandatos sucessivos foi líder da Distrital PS do Porto. Que, foi Presidente de Câmara, pelo PS, durante vários mandatos.
Depois, alguns dirigentes do aparelho socialista, do Porto e de Matosinhos já sentenciaram a pena de exclusão nas próximas listas eleitorais de um militante, (actual presidente de Junta de Freguesia) só porque, imagine-se, integra a Associação Cívica “Narciso Miranda - Matosinhos Sempre”!
É bom de ver que a causa próxima deste afastamento está no facto de se tratar de uma Associação a que, com orgulho, presido…

Meu caro Vitalino Canas:

Não quero aqui pessoalizar a questão. Conhecemo-nos bem. Tu conheces-me, e eu conheço-te. Muitas vezes, em tarefas do nosso partido, sentamo-nos lado a lado durante as lideranças de António Guterres e Ferro Rodrigues.
Respirava-se tolerância, solidariedade e respeito pela diferença. Lutava-se em defesa dos valores e dos princípios sempre defendidos pelo PS e pelos Socialistas.
Era este o espírito que nos animava, a cuja causa aderimos, e em cuja realização convergimos. Depois, pelos vistos, divergimos.
Eu continuo com a mesma determinação (diria até obstinação) de levar à prática o programa original do nosso partido.
E procuro, aqui em Matosinhos, retomar o rumo!

Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com