terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tragédia de Matosinhos na Galiza

Matosinhos e o mar sempre tiveram uma relação estranha. Matosinhos ama o seu mar, mas este amor nem sempre é correspondido. De súbito o mar zanga-se e faz explodir a sua raiva. Quem diz Matosinhos diz mar, quem diz mar diz pescadores. Sempre foi assim ao longo dos tempos. À agressividade do mar corresponde o povo humilde com o respeito que é devido a quem possui uma força descomunal. É certo, que todos os dias, muitos pescadores vencem as suas ondas, mesmo quando, por razões que lhes escapam, as águas estão medonhas e revoltas. Muitas vezes ao avistá-las assim tão alterosas, quantos pescadores não se sentiriam bem mais seguros no cais, junto dos seus?
Mas é sustento das suas famílias que procuram assegurar. Não é pelo gosto do desafio que se aventuram, não é pelo prazer da pesca que zarpam da doca.
Quando partem, os pescadores, levam consigo duas certezas:
Uma a de que, se não forem, se não arriscarem, se não pescarem, os seus sentem as agruras da fome. Outra, a certeza de que o seu regresso é incerto!
Homens corajosos, valentes, determinados, sofredores e generosos. É assim a família piscatória. São assim os bravos pescadores de Matosinhos.
Do seu trabalho, muito deram, dão e darão à cidade e à comunidade.
Aqui lhes deixo a minha eterna gratidão. Por experiência, sei o quanto de valioso a comunidade piscatória representa em termos nacionais para a região norte do país. Comunidade a quem os poderes públicos voltam as costas.
Dantes, quase sempre! Agora, sempre! Há, mesmo assim, quem esteja com eles, os compreenda, os auxilie, os apoie. Sinto-me honrado, por, em consciência, ter feito pelo sector o que nas condições existentes pude fazer. Pelo que de bem, ao longo da minha actividade autárquica, consegui “pescar” para eles, no também “mar encapelado” da política.
O carinho com que me tratam no dia a dia reflecte isso mesmo: uma relação de fraternidade, de amizade, de proximidade. E de reconhecimento.
Por isso mesmo, não podia deixar de ficar desolado com a tragédia ocorrida há dias no mar da Galiza, com a embarcação “Rosamar”. É uma tragédia humana de dimensões psicológicas e materiais incomensuráveis. Ver partir, para uma viagem sem regresso aqueles que nós amamos é um infortúnio indescritível. É uma dor que ninguém consegue exprimir! Então quando esta desgraça ocorre num naufrágio, imagine-se a luta que aqueles verdadeiros lobos do mar travaram contra as ondas que tentavam – e conseguiram – arrancar-lhes as vidas! Porquê? Estaria o mar a vingar-se do “roubo” que a faina da pesca pode para ele representar, ao levar-lhe os peixes, filhos seus?
Não, não é possível. Deus, fez os peixes para isso mesmo. Desta vez, coube a má sorte a pessoas da nossa terra. Gente de bem. Generosa como os humildes. Sacrificada, como os fortes. Pobre, como os fracos.
O nosso conterrâneo mestre Mário Nazareno sucumbiu nas águas gélidas da Galiza. Morreu, como sempre viveu; a lutar. Com o desespero que (não) se imagina! A seu lado, outros companheiros de infortúnio sucumbiram também, tamanha era a desproporção das forças em confronto: de um lado o mar; do outro seres humanos que o colapso da embarcação tornou indefesos!
A seu lado, para todo o sempre jazem agora os seu companheiros e vizinhos Augusto e Sérgio. Doutras terras, as mesmas gentes. Leça da Palmeira, Caxinas, Figueira da Foz e Murtosa, viram cair por fim os seus valorosos filhos Anselmo, José Graça, Adriano, Tomé e Luís.
No meio desta tragédia alguns, poucos, souberam estar presentes, levar a palavra amiga, transmitir uma mensagem de consolo e de solidariedade. Outros ficaram onde estavam. Ficaram contagiados, como sempre, pela frieza dos espaços por onde se vão delineando planos e estratégias.
Foi sempre assim!


Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com

3 comentários:

Anónimo disse...

Enfim, uma tragédia. Que Deus os guarde.

Anónimo disse...

A sardinha custa seis vezes desde que os pescadores a vendem até chegar ao mercado. Só os especuladores é que ganham.

Anónimo disse...

Força narciso miranda..

Portugal precisa de si