Tenho recordações marcantes do jornal “O Badalo” fundado pela ilustre e grande figura da Cultura, Santos Lessa.
O relevante papel que desempenhou na defesa do património cultural de Matosinhos jamais poderá ser esquecido.
Figuras com este estatuto, e serviços com esta relevância são marcos históricos, que ficam indelevelmente ligados à memória colectiva; são, por isso, credoras do mais elevado sentimento de gratidão e reconhecimento de todos os cidadãos. Quaisquer que sejam as suas condições, qualquer que seja o seu enquadramento social.
È a memória colectiva de um povo que, reconhecida e generosa, guarda os seus eleitos no mais íntimo do seu coração.
À caminhada a que “O Badalo” deu início, havia de seguir-se depois “ O Comércio de Leixões” liderado, agora, por Santos Lessa, filho. Era a continuidade reforçada de uma política cultural entusiástica, a que, o novo jornal conferia maior expressão.
As suas páginas impregnadas de amor à terra que o viu nascer, potenciavam os efeitos de um crescimento social e demográfico que, por essa altura indiciavam o salto qualitativo que muitos anos mais tarde, Matosinhos havia de dar no panorama social português. Orgulho-me de, modestamente ter assim contribuído, para confirmar, no plano do desenvolvimento e do progresso o rumo que estes dois jornais pioneiros, antecipavam.
Durante os vinte e seis anos que exerci as funções de presidente, fui acompanhando estes percursos. Ou este percurso, já que os seus objectivos, a sua participação na consolidação dos valores civilizacionais, a sua colaboração no engrandecimento da comunidade se fundiram num só.
Só que, a vida não pára. O tempo ferrava as suas marcas. As forças iam diminuindo, os apoios iam escasseando. O “O Comércio de Leixões” ainda resistiu. Enquanto as forças lhe foram permitindo, manteve-se à tona, qual náufrago que via extinguirem-se-lhe as forças antes do socorro ansiado.
Mas, o socorro pedido não chegou a tempo. O nosso “O Comércio de Leixões”, naufragava nas águas revoltas e tempestuosas dos interesses cruzados. Nem uma ajuda, nem um salva-vidas, em uma braçada de um nadador - salvador na hora certa. O silêncio das instituições marcava o desaparecimento de um jornal que tudo tinha feito merecer melhor sorte.
Surge agora – e aproveito a circunstância para saudar vivamente os que metem ombros à tarefa – a boa notícia de que “O Comércio de Leixões” vai renascer.
Que bom para Matosinhos! Que bom para a comunidade! Como vai ser lindo de ver, nas bancas e escaparates, de novo, este jornal.
É com a alegria de rever um velho amigo que espero rever “O Comércio de Leixões” – afinal também ele um “velho amigo”.
Numa altura em que se fala no aparecimento de mais um semanário matosinhense – o quarto – os meus votos vão, antes de mais, para o regresso do terceiro.
Pois que venha em boa hora. E, vida longa para o próprio, e para os que o fazem! Ao seu fundador, ao seu director, aos seus redactores resta-me desejar os maiores sucessos, com a certeza de que os seus sucessos são os sucessos do jornal. E, por arrastamento, os sucessos do “O Comércio de Leixões” são os sucessos de Matosinhos!
Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com