quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Não foi bonita a festa, pá!…

A quadra era propícia ao sentimento, à fraternidade à solidariedade – valores sublimes que convivem mal com a demagogia, com o oportunismo e com a insensibilidade social.
Época de Natal é por tradição época de convívio, é tempo de alegria e de esperança renovada.
Reúnem-se as famílias, aproximam-se os amigos, organizam-se festas.
Empresas, organismos, instituições, agremiações, clubes, órgãos autárquicos, aproveitam a quadra natalícia para reforçar laços de amizade rever velhos amigos, partilhar episódios passados.
É assim, um pouco por todo o lado. Matosinhos não foge à regra.
A autarquia, ou melhor a equipa maioritariamente eleita há pouco mais de três anos – com toda a legitimidade, sublinhe-se – não quis deixar de assinalar a quadra, reunindo, de acordo com a imprensa local, cerca de 6000 cidadãos numa festa convívio, a que não faltaram artistas prestigiados vindos de fora. Como o padre Borga, por exemplo.
Mas, os “verdadeiros artistas”, esses, nem precisaram de vir de fora, nem sequer de ser contratados. Vieram de perto, e estiveram naturalmente “brilhantes”.
A viagem foi curta e, resumiu-se a cobrir a distância entre o Jardim Basílio Teles e a periferia de Leça da Palmeira, a Exponor, pois foi este o local escolhido para o evento.
Muitas tinham sido as camionetas, estas sim, contratadas para transportar as pessoas.
Pagas por quem? Obviamente bem sabemos e compreendemos que é com o dinheiro dos contribuintes. Não havendo disponibilidade, nem suporte financeiro para tanta ostentação, não importa, paga-se depois pelo orçamento do ano seguinte!
As regras de gestão municipal e o equilíbrio financeiro que o bom senso – e, vamos lá, algum decoro e algum pudor recomendariam – são pelos actuais titulares dos cargos governativos municipais completamente ignorados, desprezados, arrumados, aniquilados.
Falei de “artistas” que abrilhantaram a festa, mas, ainda não os apresentei.
Dois dos autarcas da maioria do aparelho partidário, mais meia dúzia de autarcas de freguesia do mesmo aparelho, mais dois ou três colaboradores sortidos, compunham o “elenco”. E que número fizeram eles?
Não, não concorreram com o Padre Borga no palco. Antes, passearam-se pela plateia, aproveitaram, por um lado, um cantor de elevada aceitação no meio, por outro a presença de tantas pessoas “disponíveis” para apreciá-los.
E, virando as costas ao palco – que era para onde convergia a atenção dos circunstantes – percorreram demoradamente a sala tentando, sem êxito, atrair as atenções, forçando cumprimentos, criando temas de conversa, provocando ou tentando um pé de dança.
Era visível o alheamento, diria até muita frieza e total distanciamento, salvo claro pequenas e esporádicas reacções de alguns, sempre muito poucos, participantes na festa. Afinal o povo, mesmo os mais idosos, já percebe bem, diria muito bem estas acções.
O sintoma anestesiante da assembleia, percebe-se, compreende-se, afinal aquelas figurinhas tapavam o centro das atenções: Padre Borga, naturalmente.
Mas, o momento alto do certame estava ainda para vir. E deu-se quando, a pretexto da chegada de três aparelhistas que se atrasaram, as canções que caíam bem no ouvido, foram silenciadas, assim como quem silencia vozes incómodas.
Espanto na sala, decepção nos ouvintes. Agora o palco estava tomado por políticos. Que ali estavam os eleitos, ali estava o futuro, ali renascia a esperança, blá, blá, blá, blá…
Acentuava-se o mal estar nas cadeiras. Não era essa a festa que esperavam. Não eram aqueles os “artistas” que aguardavam. Não era aquela a “música” que queriam ouvir! … O padre esse, ausentou-se discreta e educadamente.
Sentado anonimamente na última fila, observei tudo. Com uma tristeza indescritível. Com uma revolta inigualável. Com uma passividade intolerável. Pela minha consciência de cidadão. Pela minha condição de matosinhense!
As pessoas não são números, como dizia – e muito bem – António Guterres.
Fazer delas números – ou fazer “números” para as impressionar é desacreditar a política e é sobretudo usar as pessoas como “coisas” e não como pessoas.
E quando se tem este comportamento com idosos a situação é muito mais chocante.
Aqueles que se identificam com estes procedimentos e que acham bem estas atitudes, estão a prestar um péssimo serviço à política e à cidadania.
Retomar o Rumo, implica também erradicar estas afrontas.
Para que Matosinhos viva e respire melhor!


Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com