Só se for de paginador!...
Foi um fartote de prendas e de palavras doces: “os habituais presentes às crianças”, de acordo com a revista de propaganda oficial do município visavam manter a “tradição”, ou “não fossem as crianças o que de mais importante e genuíno há nas nossas vidas”!
Talvez por isso, algumas figuras generosas da nossa praça ofereçam sempre lugar a mais uma criança em “infantários” privados sobrelotados.
Mesmo que tal classificação – a de “infantário” - vise apenas lucros de exploração, a ideia que fica é a de que, para efeitos natalícios, a solidariedade a fraternidade e a amizade lá estão…
A acrescentar a “isto” – é a linguagem oficial a proclamá-lo – houve “festas dedicadas aos mais jovens” , “com espectáculos de música, dança e teatro” com o fito de lhes arrancar “mais uns sorrisos” (não serão antes, mais uns votos?).
Porque - há que dizê-lo - alegria, sorriso, vivacidade, entusiasmo, divertimento e irreverência estão naturalmente associados aos jovens. Gastar dinheiro para fazer sorrir “os mais jovens” é, no mínimo redundante. Sorririam – os jovens e, sorririam ainda mais os seus pais - se vissem, nos actuais detentores do poder, uma política que os integrasse numa sociedade que, cada vez mais os exclui! Agora, digna de aplauso, por cá, parece ser a “simplificação da vida dos cidadãos” – aplicação prática do “simplex” socrático.
Espaços como a “Loja do Munícipe”, “Call Center e gestão documental”, o que quer que isto queira dizer, são já – diz a mensagem presidencial e natalícia - “projectos concretizados”. Quantos munícipes por esse Portugal fora podem gabar-se de pagar impostos para uma autarquia que lhes assegure uma “gestão documental” como a nossa? Serve para quê? Ora essa, sendo uma unidade de “gestão” há-de servir para gerir; sendo “documental” há-de servir para documentos. Gerir documentos, falando agora para a geral!
Mas, quais - perguntará o leitor! Sei lá, é ligar para o Call Center!
Resta acrescentar que também está na forja outra loja, a “Loja do Cidadão”. Mas esta, parece ter nascido “debaixo de um signo que em nada lhe é benigno”, como diria António Nobre, o poeta do Só!
Então não é que, antes de nascer – é verdade que há pouco tempo esteve cá um ministro a insuflar oxigénio aos parturientes, a ver se a coisa vinga - já lhe arranjaram tantos berços, que, se um dia vier a ser mais “um projecto concretizado” dará a ideia de que algum “coito danado” esteve na origem da sua gestação! Era na Brito Capelo, era na antiga Câmara, era no Mercado Municipal, vai ser (ou era, também?) na rua Alfredo Cunha.
E, agora o romantismo: “As pessoas viveriam de sorrisos e de boa vontade, numa entreajuda natural. Tudo seria simplesmente belo!” – cito pela última vez o ”Editorial” da revista.
Mas – e peço outra vez ajuda a António Nobre, “…em que Pátria, em que Nação é que me espera, esta Torre, esta Lua, esta Quimera?...” (…) “…e a minha fada com sua vara de encantar, um Reino me apontou, lá em baixo ao pé do mar…”
Seria Matosinhos? Se o leitor consultar a “revista nº 18 – Dezembro de 2008” da Câmara vai concluir que só pode!
Heitor Ramos