terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O almoço do Salão Nobre

Sexta-feira feira,16 de Janeiro de 2009.
Quem, nessa data, pelo meio dia, passou sem excessiva pressa ali pelas imediações do edifício da Câmara de Matosinhos, talvez se recorde de ter visto um grupo de pessoas curiosas, junto à viatura de um prestigiado restaurante de Matosinhos. Incrédulas, seguiam a trasfega para o interior do edifício municipal, de múltiplas embalagens contendo aperitivos, entradas, comidas frias e quentes, vinhos de marca, espumantes de várias procedências, sobremesas e digestivos de toda a espécie. Ao largo, dois guardas municipais, em pose descontraída, parece que também surpreendidos pela insólita descarga - era para o espaço destinado ao funcionamento dos Serviços Públicos, que diabo! - pareciam guardar aquele carro recheado de iguarias, não fosse dar-se o caso de alguma emboscada. “Vai haver patuscada lá dentro” – comentava-se cá fora!
Aquele edifício, concebido para servir a população, possui o espaço necessário ao funcionamento dos gabinetes, que asseguram aos diversos serviços públicos a necessária operacionalidade – sejam do presidente ou de administradores sortidos. Consta que alguns gabinetes são simples, singelos e discretos; outros luxuosamente decorados, exibem inegáveis sinais de ostentação e riqueza. Mas – perguntará o leitor – para onde iam todas aquelas iguarias? Para o Bar, ou espaço parecido – pensará.
Pois, não senhor - esclareço! Nesses são espaços “pelintras”, não podem pavonear-se à vontade os elementos da maioria camarária!
Eu explico: no edifício da Câmara, existe também o SALÃO NOBRE DOS PAÇOS DO CONCELHO – espaço antigamente utilizado apenas para actos solenes, condecorações, concertos selectivos, homenagens e recepções às mais altas individualidades como Presidentes da República e Chefes de Estado em missão oficial. Para serviço de restauração é que nunca tinha servido...
Só que – e aqui está mais uma prova da suprema criatividade e imaginação dos responsáveis autárquicos - aquele Salão Nobre foi transformado em “Sala de Jantar”. Surpresa? - Nem por isso!
O dia – “porreiro, pá” – era para a romaria. Largas dezenas de funcionários com funções de chefia, secretários, adjuntos de chefes e de secretários, enquadrados por secretários de chefes e adjuntos de secretários reuniram-se, visando a SIADAP – uma variante de “avaliação”, esta orientada para a Administração Pública. De tarde, o repasto bem servido e bem regado.
As palavras do Bispo D. Manuel Martins ecoam-nos nos ouvidos.
Ali estavam os dois mundos de que nos fala: o irreal – lá dentro; e o real, cá fora! Se, às suas custas - em sua casa - aqueles figurões comem tão bem, como na Câmara - às custas dos contribuintes - não sei. Sei é que, alguns daqueles ordenados chegariam para tentar a aproximação!
Lembrei-me da passagem bíblica que nos fala da expulsão dos vendilhões do templo! E da esperança em que venha quem os expulse. E imponha limites à profícua imaginação (e gastos) daquela gente. É que, depois da festa do Gerês (para as chefias), do encerramento dos serviços (para a “festa do funcionário”), dos sofás insufláveis (para a publicidade de uma determinada empresa) e do contributo financeiro à Porto Canal, (mas o que tem este canal a ver connosco?) só faltava mesmo um almoço no Salão Nobre. A seguir, o que virá?

Heitor Ramos