sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

"Tapar o sol com a peneira"

Durante o processo eleitoral foram muitas as vozes que se referiram ao descontrole financeiro e sobretudo às derrapagens resultantes de um processo de euforia do poder que sempre conduz a sinais evidentes de despesismo.
A verdade é que os responsáveis pela situação deram sempre as mesmas respostas. As respostas clássicas. As respostas habituais. As respostas óbvias que não são mais do que “chutar para canto” ou tentar “tapar o sol com a peneira”. E quais são essas respostas? Que está tudo bem, respira-se saúde financeira, não se deve nada e está tudo sereno.

Foi sempre assim. É e será assim. Estas são as respostas que ouvíamos há quarenta anos, há trinta, há vinte, há dez anos.
Na altura, “toda a gente” defendeu que a melhor forma de gerar instrumento de gestão financeira eficaz – e o objectivo central é este – e não qualquer acção persecutória ou qualquer tentativa, através deste processo, de descobrir ou procurar qualquer coisa de anormal, era encontrar uma auditoria financeira externa de pessoa/entidade competente exigente e, sobretudo, isenta. E quando se fala em isenção, fala-se em instituição ou pessoa fora do “aparelho”, fora da “máquina”, fora do “circuito”.
Todos defenderam, menos, claro, os responsáveis “contaminados” pela situação, que são aqueles que exercem o poder.
Passaram-se cerca de três meses. E, nem um passo, nem um sinal, por muito discreto que fosse, no sentido de clarificar esta situação. Todos se calaram, todos se acomodaram, todos continuaram a dizer que está tudo sereno, tudo bem, respirando-se uma enorme saúde financeira. E, por outro lado, todos actuaram como sempre. Convencidos de que se consegue “tapar o sol com a peneira”. Isto porque a realidade era, é e será bem diferente.
As necessidades são óbvias. As derrapagens, evidentes. As decisões continuam a gerar despesas, mais despesas, mais despesas. E, por isso, a necessidade de se recorrer a mais um empréstimo, mais um. Claro.
Mas não um empréstimo para suportar despesas de investimentos. Não é para pagar o Pavilhão do Freixieiro, ou as infraestruturas do Leixões, ou a resolução das infraestruturas desportivas do Leça ou a construção do Parque Desportivo em S. Mamede de Infesta, ou a construção de quartéis para a PSP ou a GNR para garantir maior segurança aos cidadãos, nem para a construção de uma escola em Matosinhos Sul, de mais um jardim de infância ou de mais um lar para a 3ª Idade ou um Centro de Dia.
Sim, meu caro leitor, não é uma questão de pedir dinheiro para resolver problemas de arruamentos, para apoiar as micro, pequenas e médias empresas geradoras de emprego. Não. Não estou a dizer que se pediu dinheiro para apoiar as empresas e criar postos de trabalho.
Não. Pediram-se quatro milhões e quatrocentos mil euros para pagar facturas, para pagar despesas correntes, para pagar consumismo. E isto, sim, é o pior que pode acontecer na gestão financeira.
É isto que está a acontecer em Matosinhos. É este o rigor da Câmara de Matosinhos. É este o novo projecto virado para o futuro para uma comunidade dinâmica como é, sim, a de Matosinhos.
Isto, numa altura em que o nível do desemprego é assustador, em que os jovens procuram desesperadamente uma oportunidade, em que a pobreza tem aumentos arrepiantes, em que o endividamento das famílias é cada vez maior, em que umas empresas vão fechando e outras aguardam, lutando desesperadamente contra, um final “negro”.
Isto, numa altura em que o casco habitacional se vai degradando, em que as referências históricas vão sendo arrasadas, em que a especulação imobiliária aumenta, em que os parques públicos, as zonas verdes e os equipamentos colectivos vão escasseando.
Enquanto isto, o dinheiro gasta-se. Gasta-se com o consumismo. Gasta-se com as despesas correntes, com o que é supérfluo.
Os cidadãos merecem rigor. Os cidadãos merecem que se retome o rumo da responsabilidade e da transparência.

Narciso Miranda


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