Nas últimas semanas, os grandes temas da agenda política têm estado relacionados com a crispação “alimentada” pelos crispados. A inclusão do tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo, na agenda política, “alimenta”, ainda mais, este ambiente excessivamente crispado para um país onde existem tantas questões, temas e/ou assuntos relevantíssimos para a agenda política.
Ao analisarmos esta conjuntura e, sobretudo, tudo aquilo que lhe está subjacente e, ainda, se tivermos em consideração a realidade concreta em que vivemos, naturalmente, que só por estarmos e vivermos em Portugal é que percebemos estes fenómenos.
O que está aqui em causa, não é a legitimidade, óbvia, de competências diversas dos diferentes órgãos de soberania. Quem ouve falar os crispados e os “alimentadores” da crispação, parece que os órgãos de soberania têm que sintonizar as posições e, consequentemente, perderem a legitimidade constitucional que lhes assiste.
O que aqui está em causa, não é a legalização, ou não, do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O que aqui está em causa, não é a opinião que possamos ter a respeito deste tema, ou de tantos outros. Não.
O que está aqui em causa, é que, centrando as atenções do país, da agenda política, em temas como estes e no debate centrado nestas questões, conseguiu, sim, desviar-se as atenções do país real em que vivemos.
Gostaria, muito mais, por exemplo, de ver uma enorme crispação em relação ao endividamento. Aos milhares de famílias que se encontram, hoje, numa situação complexa, da qual não sabem, muitas vezes, sequer como sair.
Gostaria de ver os crispados a reagirem contra problemas reais e que tanto afectam a vida dos portugueses, como a dívida externa ou o aumento do deficit.
Que bom seria ver uma enorme crispação dos políticos contra o aumento galopante do desemprego, que tem levado ao desespero milhares de cidadãos e que têm angustiado tantos jovens que não conseguem encontrar uma “porta” que se abra, a maior parte das vezes, depois de grandes sacrifícios pessoais e das próprias famílias para suportar anos e anos de estudos.
Que bom seria podermos dizer que se sente a crispação, no país, pelo aumento do custo de vida, pelo aumento do número de famílias no limiar da pobreza, pelo aumento dos fenómenos da exclusão social, entre tantos outros.
Discutir, centrar as atenções e as crispações nestas questões, isso, sim, seria prestar um bom serviço à sociedade e isso, sim, seria contribuir para ajudar os cidadãos a resolver os problemas que, de facto, os afectam e que, a cada dia que passa, parecem ser mais.
2010 terá de ser, por isso, sem dúvida, o ano em que temos de inverter esta “pirâmide” de prioridades. Terá de ser o ano em que, na agenda política, estarão, sim, os cidadãos. Mas naquilo que, de facto, mais os preocupa, mais os afecta, mais os angustia.
2010 terá, sim, de ser o ano das crispações pelos motivos reais que afectam o país e os cidadãos.
Se eu tivesse uma “varinha mágica” substituía os crispados e abria espaço para que as verdadeiras vítimas destes crispados e das suas crispações ficassem eles todos crispados contra estes políticos profissionais, que são cada vez menos políticos e mais crispados.
Narciso Miranda
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
As crispações dos crispados
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