quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O BPN e o Inquérito Parlamentar

O povo português anda desconfiado, tantas são as alegadas irregularidades praticadas por pessoas e entidades, que eram tidas por inquestionavelmente sérias e de inatacável reputação.
Então, o cidadão comum, sem pensar duas vezes, coloca o mesmo rótulo a todos aqueles, que, vivendo no mundo da alta finança e da política, são apontados pela comunicação social como potenciais prevaricadores.
Neste turbilhão de dúvidas e incertezas que parece engolir sem olhar a quem, até o Presidente da República sentiu necessidade de demarcar-se, em comunicado oficial, da borrasca que se abateu sobre o BPN.
A Assembleia da República (AR) vai criar mais uma Comissão de Inquérito, desta feita no âmbito do caso BPN. Aqui, a história repete-se mesmo – não são os historiadores que se repetem uns aos outros! Ainda mal refeita das conclusões inconclusivas do Inquérito Parlamentar ao caso BCP, eis que, na AR, uma nova Comissão se aparelha, visando outra instituição bancária.
De inquérito em inquérito, vai a AR enchendo o povo de descontentamento, acumulando desprestígio e, dando razão aos detractores dos políticos nacionais.
Adiantaria mesmo que, esta será mais uma missão completamente inútil.
Assento esta minha convicção em pressupostos razoáveis - falíveis, claro está - mas com elevada percentagem de probabilidades de acerto. Assim, esta percentagem me acompanhasse no Totoloto, ou Euromilhões!...
Em primeiro lugar, porque o procurador-geral nada dirá, manietado que está – e bem - pelo imperativo do sigilo bancário. Até porque, se dissesse, podia pôr a nu falhas próprias, ou do Banco... Depois porque Miguel Cadilhe vai dizer o que já disse, e mais não pode. Pode é aproveitar a ocasião para demonstrar a “asneira” do governo em não aceitar o seu plano de reestruturação para o BPN.
A seguir porque Dias Loureiro dirá provavelmente o que já disse em entrevista na RTP1, enquanto António Marta repetirá o que disse ao Expresso. Sem qualquer possibilidade de o Inquérito confirmar o que disse um e outro, pois só os dois estiveram presentes. Também, porque não é provável que Oliveira e Costa seja chamado a depor no Parlamento, como não será certo que a Comissão vá ouvi-lo na prisão. Poderão chamar o Informático do Banco Virtual. Apenas dirá que fez o que lhe mandaram fazer e, como já é conhecido o que lhe mandaram fazer, não virá daí qualquer novidade. Poderão ainda chamar os auditores. Os que encontrarem falhas, relatarão as falhas, os que não encontraram dirão que nada encontraram.
Mais tarde - é um clássico - meia dúzia de deputados aparecerão diariamente na televisão num patriótico esforço, a repisar ideias mil vezes repetidas, porque, a bem dizer, nada de novo conseguiram apurar. Entretanto ficaremos como o nosso triste destino: várias instituições atropelaram-se no mesmo processo, cada uma a falar para o seu canto e a perderem tempo umas com as outras.
E, no fim, a AR enviará ao Ministério Publico e ao Banco de Portugal as “conclusões” que eles próprios já tinham tirado, com outros meios.
Deixo, para reflexão a seguinte pergunta:
Quando a ausência do sentido do dever se faz sentir nas lideranças, como exigir que a sociedade, toda ela, se mova por princípios e não somente por estímulos materiais?
Que exemplo estamos a dar aos nossos filhos!


Narciso Miranda
nm@narcisomiranda.com

1 comentário:

GP disse...

Perfeitamente de acordo. Mais uma vez se prova que os políticos estão nos cargos para se governarem e não para nos governarem. De vez em quando convém "fazer que fazem" para não serem apelidados por Miguel Sousa Tavares de "os inúteis mais bem pagos do país".