quinta-feira, 5 de março de 2009

Congresso partido e cabeças perdidas!

O Congresso do Partido Socialista realizado em Espinho no fim de semana último pertence ao passado. Ao presente, com repercussões para o futuro, pertencem as avaliações sobre os efeitos gerados. Os ecos da operação.
Um avaliação completa e exaustiva, pressupõe pontos de vista diferenciados. Pressupõe posicionamentos desencontrados. Para que, do cruzamento de dados e conclusões, surja um diagnóstico sereno e fundamentado, que se aproxime o mais possível da verdade absoluta. Tanto quanto, em política, se pode falar em verdades absolutas…

Se nos situarmos no interior do Congresso, se vestirmos a pele dos que protagonizaram a iniciativa (recuso chamar-lhe debate porque este, pura e simplesmente não existiu) podemos falar de sucesso e satisfação plena. Tocados pela presença do líder ao vivo, os homens do aparelho terão sentido os estímulos e a motivação necessária para reforçar os laços de solidariedade e cooperação indispensáveis à estabilidade que perseguem.

Se nos situarmos fora do Congresso – ao fim e ao cabo, onde se situa a massa humana, que se pretende influenciar – pode questionar-se qual o sentido da mensagem no plano meramente institucional, e qual o efeito no plano prático, ou seja no plano eleitoral.
Esta, como se sabe, uma área extraordinariamente sensível no seio de qualquer organização que tenha como objectivo supremo a participação dos seus membros em actos eleitorais.

Estas questões decorrem, naturalmente, das indigitações – confirmadas, ou não pelo líder. Sei-o por experiência própria: gerir sensibilidades neste domínio é tarefa que exige firmeza e capacidade de liderança. E, acima de tudo, descomprometimento e bom senso! Acontece em todo o lado.
Em Matosinhos – e conheço bem o meio e os protagonistas – o nervosismo e a desconfiança instalaram-se de forma iniludível. Ninguém pode escamotear uma realidade que salta à vista. A forma como alguns dos políticos socialistas de Matosinhos, em especial dos que estão e querem segurar o Poder, reagiram às decisões do Congresso, nas horas (e até nos dias) que se seguiram ao seu encerramento são reveladores da perturbação que os atingiu.

Compreende-se!

Fizeram tudo por exibir capacidade e competência, mas nem sempre aqueles dirigentes deram pela sua presença. Presença que lhes custou noites de insónia, mais trabalho árduo e aturado. Sobretudo, porque tais campanhas incluiam nos seu repertórios ataques pessoais, calúnias e difamações - ingredientes que o nosso povo dispensa ter, e recusa partilhar.
E, quando para se atingir um fim que se tem em vista, quando – como é o caso – se já pugnou por princípios éticos e valorosos, se tem de recorrer a métodos socialmente reprováveis – como esse de difamar o próximo - o mal-estar limita, a quem o sente, o sentido de justiça e a capacidade de raciocinar com clareza!
O efeito psicológico foi de tal ordem que, o insulto, a provocação e a demagogia foram os únicos argumentos com que sustentaram as razões que – segundo eles – justificavam posicionamentos diferentes.
Todavia – e também neste particular há diferenças a assinalar - enquanto uns extravasaram sentimentos recalcados, outros houve que, prudentemente se fecharam utilizando o silêncio como arma, e a mudez como refúgio.
Nada de extraordinário a registar. São apenas formas distintas de reacção a estímulos iguais. Na prática, uns e outros colaboram de forma inteiramente segura no afastamento dos cidadãos pela política.
Concorrem – separadamente, embora - em unir os cidadãos numa causa que a cegueira, a intolerância e o sectarismo de uns tantos, vem agigantando. E, que se traduz nesta verdade: não gosto da política, não gosto dos Partidos, não gosto dos políticos.
E – paradoxo, dos paradoxos – quem afasta os cidadãos da vida partidária, são exactamente aqueles que tinham como primeira obrigação atraí-los à causa.
Porque não há democracia sem partidos.
Certo é que há outras formas de fazer cidadania. Há outras formas de participação colectiva nos destinos da comunidade. Há muito mais vida, política também, para além deles.
A democracia – tenho-o afirmado vezes sem conta – não se esgota nos partidos!
Só que, começo a contar coveiros a mais! Os cangalheiros aí estão!
O último Congresso do Partido Socialista deve pois passar à história como dos mais marcantes do percurso dos socialistas em Portugal.
Os efeitos do Congresso trazidos para Matosinhos, foram, mais uma vez, a arrogância, a mesquinhez, a falta de carácter e uma visão da vida, da política e da cidadania demasiado pequena, gerada por gente ainda mais pequena.

Narciso Miranda