terça-feira, 3 de março de 2009

O medo de não ter medo

Era assim antigamente: o medo fazia parte do dia-a-dia dos cidadãos.

Medo de ter opinião; medo de participar em reuniões; medo de ser conotado com uma linha política tida como adversária do regime. Era tão eficaz a devassa da privacidade que, muitas vezes, bastava ser-se amigo – ou mesmo só conhecido de alguém já referenciado pela polícia como sendo próximo do “reviralho”…

E havia muitas razões para se ter medo. Era a polícia política a perseguir-nos; era o emprego a ficar em perigo; era a liberdade ameaçada.

Os mais antigos – refiro-me evidentemente às gerações de antes do 25 de Abril – recordarão por certo alguns episódios de repressão que conheceram (ou viveram) numa época em que – repito – O MEDO – lhes condicionava a vida.

O 25 de Abril – entre muitas outras consequências que trouxe à sociedade – trouxe também o fim do medo.

Passou a existir entre nós inteira liberdade de reunião e associação. De resto, este era um dos objectivos (conseguidos!) da revolução: restituir ao povo a Liberdade.

Foi para isto que muitos lutaram. Foi por esta causa que muitos foram torturados. Foi pela Liberdade que muitos deram a vida.

Para que pudéssemos, livremente, optar. Para que pudéssemos, sempre que se justificasse, criticar. Para que pudéssemos, sempre que o entendêssemos, apoiar.

É uma postura transversal da comunidade. Felizmente, entendida por muitos.

Sucessivos governantes têm encarado, com elevado sentido democrático, críticas de tons diversificados – algumas delas injustas, há que reconhecê-lo: é a democracia a funcionar em pleno.

É assim no Governo. É assim em muitos Partidos. É assim em muitas Autarquias.

Em Matosinhos – infelizmente – as coisas não são tanto assim.

Há relatos de cidadãos que sentem ameaçada a sua estabilidade profissional, que sentem em perigo a sua carreira, que se sentem vigiados e perseguidos.

Porquê? Ora, porque insistem em não descolar de uma amizade que consideram, de uma ligação que muito prezam, e de um projecto político que entendem ser imperioso concretizar. Indo direito ao assunto.

Há registos de funcionários municipais que, por cometerem o “crime” de virem tomar café comigo são despromovidos, ainda que para tanto seja necessário extinguir o cargo que ocupam. Outros vêm-se impossibilitados de aceder a concursos que, poderiam conduzi-los a promoções.

Há cidadãos livres e independentes que identificaram já alguns “espreitas”, posicionados em locais estratégicos de modo a poderem ver quem, e quando entram e saem da Sede da Associação Cívica “Narciso Miranda - Matosinhos Sempre”.

O medo de ser apontado. O medo de ver prejudicados familiares e amigos só por exercerem o mais elementar direito que a Liberdade nos concedeu.

Tudo isto, de tudo isto acontece em Matosinhos. De dia, à noite, a qualquer hora, há esquinas “onde está sempre uma cabeça”.

Problemas gravíssimos como a insegurança e o desemprego não preocupam a maioria camarária. Importa é impedir que cidadãos conscientes e avisados apoiem uma candidatura que ameaça retomar o rumo perdido.

Os matosinhenses vão felizmente conhecendo melhor a situação. Ignorar, ou mesmo desmentir a existência de problemas sociais: eis o “programa” do governo local.

Ou, talvez eu esteja a ser injusto na apreciação que faço. Como assim?

Quem sabe se resolveram mesmo atacar o desemprego, criando pseudo postos de trabalho. Onde estão eles?

Então aqueles que espreitam, acusam, fotografam, filmam, denunciam, inventam, caluniam, não estão ao seu serviço? E – estando - não estão, ao fim e ao cabo, a exercer uma actividade “profissional”?

Achavam que o emprego de “informador” acabou?

Pelo menos, em Matosinhos não! – estou em condições de o confirmar.

Poderão é – tais agentes de informação - não ser assalariados, com descontos para a Segurança Social e tudo.

Mas lá que os há…há!


Narciso Miranda